As raízes psicológicas, sociológicas e evolutivas da violência coespecífica em humanos ainda são debatidas, apesar de atrair a atenção de intelectuais há mais de dois milênios. Para entender essas raízes com base na suposição de que a agressão em mamíferos, incluindo humanos, tem um componente filogenético significativo é preciso uma abordagem conceitual. Ao compilar fontes de mortalidade de uma amostra abrangente de mamíferos, um estudo publicado na Nature avaliou a porcentagem de mortes devido a membros da mesma espécie. |
Usando ferramentas comparativas filogenéticas, os pesquisadores previram esse valor para humanos. A proporção de mortes humanas filogeneticamente previstas como sendo causadas por violência interpessoal ficou em 2%.
Nós, humanos, podemos ser uma espécie violenta, com histórias de guerra, assassinato e terrorismo frequentemente chegando às manchetes. No entanto, de acordo com a pesquisa de tendências assassinas de 1.024 espécies de mamíferos, os suricatos envergonham nossas tendências mais sanguinárias.
Os suricatos (Suricata suricatta) ficaram no topo, com 20% das criaturas fofinhas sendo abatidas por sua própria espécie. O estranho é que este pequeno mangusto encontrado no sul da África é altamente social, formando matilhas de dois a 30 indivíduos, cada um compreendendo números quase iguais de ambos os sexos e múltiplas unidades familiares de pares e seus descendentes. Os membros de uma matilha se revezam em trabalhos como cuidar de filhotes e vigiar predadores.
O problema é que encontros entre membros de matilhas diferentes são altamente agressivos, levando a ferimentos graves e muitas vezes à morte; elevando a percentagem de morte por violência coespecífica, que é a maior registrada entre os mamíferos.
As fêmeas, geralmente as mais pesadas, tentam alcançar o domínio sobre o resto de várias maneiras, como uma competição acirrada ou assumindo o controle do líder do bando. Um estudo publicado na revista Ecology and Evolution mostrou que as fêmeas que crescem mais rápido são mais propensas a afirmar o domínio, embora os machos não mostrem essa tendência.
Os machos que buscam o domínio sobre os grupos tendem a marcar o cheiro extensivamente e não são submissos; eles frequentemente expulsam ou matam os machos mais velhos em um grupo e assumem o controle da matilha. Indivíduos subordinados enfrentam dificuldades em procriar com sucesso; por exemplo, as fêmeas dominantes costumam matar as ninhadas das subordinadas.
Como tal, indivíduos subordinados podem se dispersar para outras matilhas para encontrar parceiros durante a época de reprodução. Alguns suricatos subordinados até matam os filhotes de membros dominantes para melhorar a posição de seus próprios filhos.
Pode levar dias para os emigrantes garantirem a entrada em outros bandos, e muitas vezes enfrentam aversão dos membros. Os machos geralmente conseguem ingressar em grupos existentes; eles costumam inspecionar outras matilhas e seus sistemas de tocas em busca de oportunidades de reprodução. Muitos costumam se unir em 'coalizões' por até dois meses e viajar quase 5 km por dia em caminhos tortuosos.
A dispersão parece ser menos comum nas fêmeas, possivelmente porque continuar a permanecer dentro de uma matilha pode, eventualmente, ganhar o domínio sobre os outros membros. As fêmeas dispersas viajam mais do que as coalizões e tendem a formar seus próprios grupos ou se juntar a outras fêmeas semelhantes; visam grupos de machos emigrantes ou sem fêmea reprodutora.
As fêmeas subordinadas, ao contrário dos machos subordinados, podem ser expulsas de suas matilhas, especialmente na última parte da gravidez da fêmea dominante, embora possam retornar após o nascimento dos filhotes.
Os suricatos geralmente são animais mansos com humanos, mas não são adequados como animais de estimação, pois podem se tornar agressivos repentinamente e têm um cheiro super desagradável. Na África do Sul, os suricatos são usados para matar roedores em residências rurais e lepidópteros em fazendas.
Os suricatos podem transmitir a raiva aos humanos, mas os mangustos-amarelos (Cynictis penicillata) parecem ser vetores mais comuns. Supostamente os suricatos podem até limitar a propagação da raiva expulsando os mangustos-amarelos de suas tocas; por isso eles geralmente não são perseguidos devido à sua importância econômica na proteção de cultivos, embora possam ser mortos devido a medidas de controle da raiva para eliminar os mangustos.
Curiosamente, os morcegos estão entre os mamíferos mais pacíficos. De inúmeras espécies de morcegos estudadas, não houve nenhuma incidência registrada deles matando uns aos outros.
De acordo com a pesquisa, os humanos se tornaram menos brutais ao longo da história, com pico de violência na Idade Média. Pensa-se que, à medida que nos estabelecemos em estados mais organizados, nosso desejo de matar uns aos outros diminuiu. Mas não se sinta muito convencido: embora nossos níveis de violência sejam típicos entre os primatas, ainda somos bastante cruéis entre os mamíferos em geral.
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