Os bichos-pau gigantes malgaxes que brincam com as cores

As 3.000 espécies de bicho-pau do mundo, a maioria das quais habitam florestas tropicais, aperfeiçoaram o ato de desaparecimento por camuflagem com o meio onde vivem. Alguns até incorporam brotos de folhas de imitação em sua camuflagem, ou imitam galhos quebrados e folhas comidas ou rasgadas. Mas como costuma acontecer na natureza, o grupo tem alguns inconformistas. Alguns bichos-pau gigantes de Madagascar mantiveram a silhueta esguia arquetípica, mas trocaram a coloração enigmática e mimética por pura extravagância.

Todas as 13 espécies da família de acriópteros tem cores vivas, ainda que sejam capazes de imitar galhos espinhosos e gravetos para se camuflar.

Curiosamente, eles são de tonalidade opaca quando jovens, apenas os machos desenvolvendo seu brilho na maturidade sexual.

Em 2019, um estudo publicando na Frontiers in Ecology and Evolution revelou duas espécies recém-descobertas de bichos-pau extremamente grandes e excepcionalmente coloridos, endêmicos de Madagascar e do arquipélago das Comores.

- "A maioria dos bichos-pau se assemelha a gravetos e, normalmente, sua coloração é altamente enigmática", disse Sven Bradler, da Universidade de Göttingen, na Alemanha, autor do estudo. - "Apenas muito poucas espécies mostram coloração visível quando imperturbáveis, embora algumas usem suas asas coloridas para assustar potenciais predadores."

“O gênero Achrioptera é uma exceção, já que os machos da maioria das espécies de grande porte apresentam permanentemente seus corpos extremamente coloridos ao meio ambiente e a potenciais predadores.”

Os pesquisadores demonstraram que os dois grupos de bichos-pau representam espécies completamente novas: Achrioptera manga, e Achrioptera maroloko, que está entre os maiores insetos da terra, com fêmeas atingindo até os 24 centímetros de comprimento.

Testes genéticos confirmaram que os indivíduos peculiares são de fato duas novas espécies, parentes evolutivos próximos de outros bichos-pau malgaxes, em vez de primos do exterior, como se pensava anteriormente.

Esta é uma descoberta potencialmente importante, pois desafia a visão predominante de que os bichos-pau colonizaram Madagascar várias vezes.

A descoberta também levou os pesquisadores a se perguntarem: que vantagem reprodutiva esses machos ganham com suas cores vivas, que vale a pena se expor a predadores?

Para tanto eles criaram a nova espécie de bicho-pau gigante em cativeiro para observar seu comportamento. Os pesquisadores verificaram que a espécie começou as tentativas de acasalamento apenas quando atingiu sua cor azul brilhante.

- "Isso pode sugerir que os machos usam sua coloração brilhante para atrair uma parceira. No entanto, é difícil acreditar que os machos possam encontrar uma parceira antes de serem comidos, a menos que sua coloração brilhante atue como um impedimento para os predadores", explicou Sven.

Os machos em busca de uma companheira precisam se movimentar mais, então fingir ser um pedaço de pau todo colorido se torna complicado. Talvez seja melhor apostar no oposto: um aviso de cores vivas, anunciando seu gosto ruim para pássaros famintos. As cores brilhantes são sugestivas de toxicidade e podem manter seguros os membros vívidos de outras espécies tipicamente camufladas.

Em apoio a isso, todos os bichos-pau têm glândulas no pescoço que repelem substâncias, e estas são tipicamente bem desenvolvidas em espécies de cores vivas. Alternativamente, como as rãs, alguns bichos-pau gigantes podem ter desenvolvido a capacidade de acumular toxinas de seus alimentos. Seja como for, esses bichos-pau exibicionistas "traíram" o movimento e estão jogando contra é gênero e a evolução.