Furtivo explorador noturno aquático que por milhares de anos viajou pelo território americano, o mítico quironecto (Chironectes minimus), mais conhecido no Brasil por cuíca-d'água ou chichica-d'água, permanece resistente ao longo do tempo, apesar das eras glaciais, do aquecimento global e até do homem. Este peculiar marsupial de costumes aquáticos, único existente no continente, prevalece apesar do crescimento urbano invadir seu território, cometendo o erro de confundi-lo com um rato ou qualquer outro roedor ou até mesmo com um gambá. |
Ainda que sua denominação em inglês seja gambá-d'água, não é. Ele é da mesma família dos didelfídeos e o único membro vivo do gênero Chironectes. Registros fósseis do pequeno animal encontrados na Argentina e Brasil indicam que ele provavelmente correu entre as patas enormes de megatérios, ungulados gigantes e notiomastodontes -um parente distante dos elefantes- na época do Plioceno, quando os primeiros hominídeos pisavam a África.
A cuíca-d'água tem várias adaptações para seu estilo de vida aquático. Possui pelagem curta e densa, repelente à água. As patas traseiras largas são palmadas e usadas para propulsão na água, movendo-se com braçadas alternadas. Elas também são simétricas, o que distribui a força igualmente; aumentando a eficiência do animal através da água. A cauda longa também ajuda na natação.
Sendo um marsupial e ao mesmo tempo um animal aquático, a cuíca- d'água desenvolveu uma forma de proteger seus filhotes enquanto nadam. Um forte anel de músculo torna a bolsa (que se abre para trás) estanque, de modo que os filhotes permanecem secos, mesmo quando a mãe está totalmente imersa na água. O macho também possui uma bolsa -embora não tão estanque quanto a da fêmea-, onde coloca sua genitália antes de nadar.
Hoje ela é o único marsupial vivo em que ambos os sexos possuem um marsúpio. O tilacino, comumente referido como tigre-da-Tasmânia, também exibia essa característica.
Ela tem vibrissas -cerdas faciais sensoriais- acima de cada olho, bem como bigodes. As patas dianteiras podem ser usadas para sentir e agarrar a presa enquanto o animal nada, impulsionado por sua cauda e patas traseiras palmadas. Ao contrário de outros didelfídeos, o cuíca-d'água não possui cloaca. Ela também tem um alongado osso pisiforme na mão que forma um sexto dedo-acessório.
O quironecto vive em tocas à beira de cursos d'água, saindo após o anoitecer para nadar e procurar peixes, crustáceos e outros animais aquáticos, que come na margem. Por ser tímido, arisco e noturno fazem dele uma visão raríssima.
Por esta natureza esquiva, em 2019, pesquisadores do Projeto Marsupiais, realizado no Espírito Santo, bolsão de subpopulações da espécie, apelaram para a ciência-cidadã, pedindo a ajuda da população para identificar o animal, cujo último registro científico datava de 2010.
- "Ela é dependente de um ambiente preservado com fontes de alimento. Atualmente, os rios estão morrendo, assim como a biodiversidade e, consequentemente, a cuíca", alertou Iasmin Macedo, bióloga e idealizadora do Projeto.
A escassez de informação sobre a espécie prejudica a avaliação do status real de conservação do animal. Por exemplo, nas listas estaduais de espécies da fauna a chichica é considerada criticamente em perigo de extinção no Espírito Santo; as informações são insuficientes no Paraná e Rio Grande do Sul; vulnerável em Minas Gerais e Santa Catarina; e como quase ameaçada de extinção no Estado de São Paulo.
A lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, classifica a cuíca-d'água como menos preocupante por conta de sua ampla distribuição geográfica, apesar de indicar que a espécie sofre de declínio populacional devido a perda e fragmentação de habitat.
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Comentários
completando a mensagem anterior - localização Araçatuba-SP
Olá, os peixes que colocamos numa pequena represinha de mina dágua, no fundo de casa, estavam sumindo. Ficamos de tocaia com uma câmera, e na hora que apareceu um olho brilhante por cima dágua corremos pra ver o que era. Sóp dava para ver que era rajado . Então busquei referência na internet e achei a de vocês. Idêntico ao vídeo que estão soltando da gaiola. Temos aqui, então, no fundo de casa uma cuíca dágua. Agradeço o vídeo.
Olá pessoal! Encontrei a matéria de vocês por acaso, achei bem bacana! Parabéns pelo trabalho e obrigada pelas referências.