Ao todo Salomon examinou 31 voluntários críticos. Cada um realizou 12 comparações simples, que consistiam em examinar uma placa com uma linha vertical à direita e 3 linhas também verticais díspares na esquerda, quando apenas uma delas correspondia ao mesmo tamanho da direita, que deveria ser indicada. Acontece que o grupo de cúmplices, na maioria das vezes, dava unanimemente respostas incorretas.
Os resultados deste experimento mostraram que aproximadamente 37% dos pesquisados concordavam com a maioria errada, o que indica que as respostas da maioria unânime contaminavam mais de um terço das estimativas dos voluntários, mostrando que, em grupo, o ser humano pode abandonar o que é certo pela aceitação do grupo onde está. E o "grupo" tem muitos nomes: amigos, família, pátria, religião, política, Facebook...
A conclusão foi que a condição experimental influiu significativamente sobre as respostas dos voluntários. Ademais, observaram que existiam diferenças individuais extremas, pois alguns voluntários se submeteram à opinião do grupo no total de suas respostas, enquanto outros não se submeteram em nenhuma.
Ok, há situações em que guardamos nossa opinião para evitar o conflito ou demonstrar respeito. Por exemplo, se um ateu se encontra de repente em uma igreja católica, em plena missa, é boa ideia ficar calado e seguir a corrente. Mas e se toda as pessoas presentes estiverem silenciosamente fazendo o mesmo? É um cenário altamente improvável, mas como sabê-lo?
De fato, talvez muitas das pessoas na hipotética igreja imaginária começaram assim: fazendo o mesmo que faziam seus pais, vizinhos e amigos, dizendo as mesmas coisas porque todos diziam, ainda que pensassem ou percebessem diferente. E, como alguns no experimento de Asch, terminaram se convencendo de que o erro devia estar neles mesmos.
Se podemos convencer-nos de estarmos equivocados ante algo tão evidente como um par de linhas, em quais outros aspectos da vida estamos mentindo a nós mesmos sem nos darmos conta? Em um rebanho tão grande e complexo como o humano, manter a individualidade e a autonomia de pensamento pode ser 100% improvável.
Dizem que somos a média de nossas cinco pessoas mais próximas. Isto conduz a um paradoxo: em um grupo de seis pessoas onde todas são as mais próximas entre si, as seis deveriam ser iguais. Conquanto isto não costuma ocorrer tão literalmente, costuma acontecer em muitos aspectos.
A proximidade com as pessoas pode ser simplesmente física, mas de todas as formas o impulso natural de não contrariar o grupo nos leva para além de ajustar nossas percepções e opiniões e termina afetando também nossa conduta. Outro famoso experimento, também de Asch, demonstra isso claramente: o experimento do elevador.
A predisposição de uma pessoa a modificar seu comportamento como forma de se harmonizar a um grupo faz com que a gente pense que pode se tratar de um truque ou uma pegadinha. Mas isto só acontece porque, para nós, observar como a individualidade deixa de existir facilmente na coletividade, resulta cômico e francamente ridículo, quando não fazemos parte dele.
Não é imprescindível ser muito sagaz para inferir as extrapolações que isto tem sobre nossa experiência psicossocial. A realidade que vivenciamos é muito mais o resultado de uma soma coletiva (das percepções e crenças) do que de uma análise objetiva do mundo fenomenológico.
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