Um marreco muito bem dotado

Ao escrever este artigo lembrei-me de uma piadinha tonta e vulgar que contava quando era moleque: era uma vez um pássaro que era chamado ai-ai-ai porque tinha um peru tão grande que vivia gritando "ai-ai-ai" ao voar a baixa altura. (eu avisei que a piada era muito boba.)

O pássaro ai-ai-ai não existe. Mas sim existe o marreco ai-ai... aliás, Oxyura vittata, popularmente conhecido como marreco-pé-na-bunda. A característica principal deste marreco é, efetivamente, o tamanho de seu membro. Um peru pornográficamente descomunal, um deslize da seleção natural, uma piada sem graça da natureza, como a protagonizada por John Holmes.

O marreco-pé-na-bunda tem um peru de 30 centímetros... em estado de repouso. Quando têm uma ereção podem atingir os 45 centímetros. Isto é, seu peru quase atinge a totalidade do seu corpo.

No estado de repouso tem aspecto de um saca-rolhas com uma espora na base. A ponta, no entanto, é macia e parece-se uma escova que serve para eliminar o esperma de seu rival dos ovidutos da fêmea escolhida.

E aqui vem a razão da piadinha tola que contei no início: esta classe de marrecos tem uma grande dificuldade para voar com algo assim. Ademais, à hora de aterrissar, devem extremar as medidas de segurança: uma pedra ou qualquer outra irregularidade do terreno de aterrissagem podem provocar dolorosas lesões.

E as fêmeas? A verdade é que esses enormes perus jamais são introduzidos nelas por completo: por outro lado, seria anatomicamente impossível, a não ser que o propósito fosse colocá-las em um dessas infernais máquinas que assam frangos automaticamente. De fato, é muito curioso contemplar o acasalamento destes marrecos: ao penetrá-la, como é óbvio, o macho permanece sempre a alguns centímetros de distância da fêmea.

Então que sentido evolutivo teria um peru descomunal como este? Provavelmente estejamos ante o mesmo mecanismo de seleção sexual que acontece entre os pavões que arrastam aqueles inúteis penachos coloridos: se sou capaz de ter isto e sobreviver, imagine a boa dotação genética que possuo. Ou dito com outras palavras: o peru marreco-pé-na-bunda seria algo como o ostentoso e caríssimo carro de um homem. Essencialmente inútil para a sobrevivência, mas muito pertinente para conquistar parceiras sexuais.

Uma outra hipótese é a possibilidade, sobretudo, de que se trate de uma limpeza do oviduto da fêmea, que, por suposto, fica limpo do esperma alheio quanto mais profundamente for penetrado pelo "peru-escova". Esta tese, na realidade, não convence muito, já que o oviduto de uma pata não mede quarenta centímetros e nem sequer se aproxima disso.

Fonte: Wikipédia.