Os Deuses devem estar loucos

No início da década de 80, um filme contava a saga de Xixo, um bosquímano as voltas com a civilização só por causa de uma garrafa de coca-cola. O filme era a singela e deliciosa comédia "Os Deuses Devem Estar Loucos" que com um orçamento irrisório foi aclamado e tornou-se objeto de estudos por todo o mundo. Passa-se o tempo e a vida insiste em imitar a arte: Perdida numa ilha da remota Melanesia, a tribo dos Yaohnanen espera há muitos anos a chegada de um Deus que regressará para cobrir lhes de presentes: o Duque Felipe de Edimburgo.

Segundo a mitología Yaohnanen, o marido da Rainha da Inglaterra é o filho de um antigo espírito que habita as montanhas da ilha de Tanna, e reinará sobre os membros da tribo quando do seu regresso. Por isso, cada vez que recebem uma visita, os nativos exibem as fotografias do príncipe Felipe com o mesmo fervor com o que um católico brasileiro mostraria a imagem da Nossa Senhora Aparecida.

Apesar dos milhares de quilômetros que separam Londres deste pequeno arquipélago da Melanesia, os nativos asseguram que o espírito do príncipe Felipe aparece por lá com frequência:

- "Não podemos vê-lo." - Diz o chefe da tribo - "...mas podemos escutar sua voz?"

Descobrir como o duque de Edimburgo converteu-se num Deus para esta gente não é um assunto singelo. Os antropólogos determinaram que em algum momento da década de 50 as crenças ancestrais dos Yaohnanen se misturaram com as notícias que os visitantes ingleses traziam sobre a família real britânica e o choque de culturas deu lugar a uma nova e exótica crença. Também se fala da influência de uma visita do próprio Príncipe ao local em 1974.

Este tipo de choque cultural é especialmente freqüente nesta região do Pacífico e Erik von Däniken fala muito sobre o assunto para explicar sua tese no polêmico livro "Eram os Deuses Astronautas?". Na mesma ilha de Tanna existem outros grupos religiosos que esperam a chegada de um personagem conhecido como "Jon Frum" ou "John From", um deus que virá dos céus para trazer todo tipo de mercadorias e bens materiais. A origem está nos movimentos das tropas norte americanas durante a Segunda Guerra Mundial, que apareceram subitamente sobre o céu da ilha arrojando todo tipo de provisões.

Na mente dos indígenas aquelas caixas que caíam do céu cheias de comida ficaram fixadas como autênticos presentes dos deuses, e os aviadores que vinham com elas foram tomados por poderosas divinidades. A história ficou inmortalizada na figura de "John From", provavelmente após algum paraquedista se apresentar aos nativos como "John from America".

Uma vez terminada a guerra, os soldados foram embora deixando um mixto de desconcerto e tristeza entre os nativos. Mas logo eles começaram a acender fogueiras e a construir torres de madeira com a esperança de que os aviões regressassem. Em sua maneira de entender o mundo, se repetissesem exatamente o que tinham visto fazer àqueles deuses vindos dos céus, eles retornariam em novos aviões e barcos que encheriam sua ilha de presentes.

Por toda a Melanesia, desde Nova Guiné até as ilhas Salomón, dezenas de comunidades sem contato entre si e com línguas muito diferentes, desenvolveram os mesmos estranhos rituais. Aqui e lá os indígenas constroem aviões de bambú, acendem fogueiras para atrair aos aviões e fazem sinais com tochas como tinham visto os soldados fazerem. Os antropólogos chegaram a mostrar sua preocupação ante o fato de que comunidades inteiras tinham deixado de trabalhar com a esperança de que a ajuda divina solucionasse suas necessidades.

Hoje em dia, os seguidores de "Jon Frum" seguem-se reunindo na ilha de Tanna a cada 15 de fevereiro para celebrar seu particular ritual: um grupo de supostos "soldados" desfila com seus fuzis de pau e a palavra USA traçada sobre seu peito. A seguir içam pontualmente a bandeira americana e realizam uma série de cânticos rituais com a esperança de que Deus volte a lançar sobre eles seus precioso presentes.