De moleque que tomava surra, cheguei a adulto deficiente físico - Parte I

Hoje em dia, de forma muito controversa, se discute se devemos ou não bater nos nossos filhos como complemento de sua educação. O assunto é realmente muito complicado, já que há uma diferença muito grande em dar uns tapas em seu filho ou espancar. Lembro que minha mãe me batia adoidado, mas não era por qualquer motivo... só quando eu aprontava uma daquelas. Só que eu só aprontava daquelas... e tome surra.

Lembro também, que eu não ficava de castigo, pois ela argumentava que eu sentado num canto, era pior do que solto... sacumé... sentadinho na cadeira... canivetinho no bolso... estofado da cadeira novinho. Pronto! Tava feita a merd@ e tome porrada.

A diferença era que minha mãe não chegava em casa bêbada e me espancava, aliás, eu nunca fui espancado. Tomei cróque, tomei tabefe, tomei surra, mas nunca fui espancado.

A 40 anos atrás era normal tua mãe te bater. A programação da TV só começava depois do meio-dia e eu ia pra escola na parte da tarde, não tinha internet e tinha campinho a beça, poucos tinham brinquedo a pilha e todos tinham carrinho de rolimã, era raro ver uma maçã em casa, mas o que tinha de arvores frutíferas na casa dos outros era brincadeira.

O que isto tem a ver com o fato de tua mãe te bater? Simples, você tinha um mundo inteiro pra aprontar e além de tudo era moleque!!! Fez arte seu merdinha??? Tome surra!!!

Vou relatar algumas que eu considero mais relevantes e vocês me digam o que fariam no lugar da minha falecida mãe (Dona Lulu) que morreu de causas naturais e creio que não tive culpa.

Entre 2 e 3 anos de vida: Eu e meu irmão estávamos brincando de "Paixão de Cristo". Não me perguntem que porr@ de brincadeira é esta, só sei que meu irmão pegou um martelo e bateu um prego em minha testa. Resultado? Surra coletiva e uma marca no meio da testa até hoje.

Nunca me senti um Jesus, até porque ele devia pregar a minha mão ou pé, mas o viado, ignorante pra cacete, nunca tinha escutado a história de Jesus e pra ele testa, mão, pé, pinto... bastou pregar... é Jesuis!!!

4 anos de idade: Eu e meu amigo Rosca-Fina resolvemos encher a cara. Eu tomei meio litro de martini e o Rosca-Fina 4 tampinhas de vermouth. Resultado? Coma alcóolico. Minha mãe me prometeu que só ia me bater depois que eu saísse do hospital e cumpriu a promessa.

Mas a vingança pro cagueta do Rosca-Fina que dedurou a quantidade de Martini que eu tomei, não demorou a chegar. Convenci o amiguinho a entrar numa betoneira pra brincar de gira-gira. Ele entrou e eu liguei a betoneira. Resultado? 2 braços quebrados e escoriações por todo o corpinho do Rosca-Fina. A-P-A-N-H-E-I P-A-R-A C-A-R-A-L-E-O!!! A mãe do Rosca-Fina proibiu a nossa infanto-amizade, mesmo eu argumentando que não tinha colocado concreto na betoneira.

Dos 4 anos até os 9 anos: Eu mudei de Garça para Marília (tudo interior de São Paulo) e depois para São Paulo e devo dizer que aprontei pouco, nada muito "essa-foi-de-fuder". Cai em dois bosteiros (córregos de esgoto) em menos de uma semana. Enfiei a haste de um bilboquê no toba de um gato só pra ver a bola de madeira quicando. Taquei fogo na penteadeira de minha mãe. Comi umas 3 ou 4 primas, brincando de médico. Soltei meu dálmata no terreno que minha mãe criava coelhos só pra ver a merda que dava. Estão vendo??? Nada que 3 ave-marias e 1 pai-nosso não resolvesse, mas não... minha mãe tinha que dar surra com varinha de marmelo. ODEIO MARMELO ATÉ HOJE!!!

Teve uma passagem interessante também nesta época. Minha mãe me sugeriu somente uma surra por dia, se eu aprontasse ou não... indiferente. Topei na hora!!! Eu levava uma média de três. Tava no lucro!!!

Amanhã continuo contando a parte final. Quando me mudei pra Sampa. Aí sim a coisa foi punk. Como botei fogo em uma árvore de natal. Como fazer cerol em panela de pressão. como criei sapos na caixa d'água de casa. Como ser FDP com quase 50 anos e se tornar um deficiente físico e outras coisinhas pequenas.


Parte II.

Zequinha Cypriano.