Minto, logo existo

Mentir é imprescindível à vida, um mal necessário. Se acha que é mentira, tente passar um dia inteiro sem mentir, falando só a verdade. E sem esquecer que o próprio conceito de verdade é discutível. Ela é usada em todos os setores de uma sociedade: no trabalho, amizades, amor, publicidade, nas estratégias políticas e governamentais...

E da mentira, surge a ilusão. Ora, se iludimos os outros também nos iludimos mentindo pra nós mesmos, criando realidades mais confortáveis. A palavra ilusão implica mover-se para longe do que existe (do real, com as devidas consequências).

Na maioria das vezes só enxergamos o que as pessoas mostram, querem mostrar ou o que percebemos ser de melhor aceitação e mais cômodo. É a nossa consciência formando uma realidade com a qual conseguimos lidar. O mundo e a situação que nos permitimos são tão somente construídos por nós mesmos.

Nessa indolência de não penetrar na essência dos fatos, das posturas, das intenções dos fatos reais vamos incorrendo em erros. E na descoberta deles, caímos na desilusão.

Se avaliamos errado, temos muitos problemas para enfrentar no campo afetivo, espiritual, profissional ou comportamental. Nossos vícios sentimentais nos levam a ver coisas de formas subjetivas e egocêntricas e tentamos sempre impor aos fatos e à lógica o desejo do nosso ego, quando na verdade são os próprios fatos que criam a lógica.

Mesmo sabendo disso, gostamos da esperança em forma de mentiras. Como o personagem de Bruce Willis no filme "O Sexto Sentido" só vemos aquilo que queremos ver por ser a realidade demasiado cruel para ser aceita.

O que é absolutamente reprovável é a mentira que prejudica o próximo, que fere os outros.

Anatole France, em A Vida em Flor.