Porque não é boa ideia ter mais de 354 amigos no Facebook

Segundo uma tese da psicóloga indiana Mudra Mukesh, estou a 280 amigos de começar a deprimir-me com o meu perfil do Facebook: são os que me restam para alcançar os 354 que, assegura, marcam a diferença entre desfrutar da rede social ou começar a ficar chateado de ver o sucesso, ascensões e notícias felizes de nossos contatos.

Evidentemente, trata-se de uma cifra arbitrária e uma pessoa pode se sentir perfeitamente desolada assistindo caladamente o sucesso de 100 amigos, enquanto um facebookeiro empedernido pode resistir incólume o exibicionismo de um milhão. Mas esta cifra -354- é o ponto médio de partida no qual os participantes do estudo começavam a se sentir péssimos vendo as atualizações de estado de seus contatos no Facebook.

O estudo em questão, intitulado "O paradoxal efeito das redes sociais no bem-estar", acaba de ser apresentado na reunião anual da Sociedade de Psicólogos Sociais realizada em San Diego (EUA) e vem assinado pela própria Mukesh e seu colega Dilney Goncalves.

O paradoxo referido no título é originário do fato de que costumamos sentir uma pequena satisfação quando acrescentamos um novo amigo no Facebook: ter amigos (ainda que sejam virtuais) faz-nos sentir menos sozinhos neste vale de lágrimas do cotidiano (chuif!). No entanto, uma vez que já tenhamos esses amigos, ver as atualizações do estado supõe uma queda, segundo explica Mukesh.

Para chegar a semelhante conclusão, os psicólogos perguntaram aos usuários do Facebook como valorizavam sua vida. Aqueles que tinham muitos amigos em Facebook (+354) diziam se sentir pior após ver o estado de seus contatos que aqueles que não visitaram a rede recentemente ou que tinham menos amigos.

Na realidade, o que acontece aos usuários do Facebook não é mais que uma conhecida dissonância cognitiva que também acontece na vida real. Imagine aí que está bem sozinho e deprimido e, para animar, decide sair para passear em um sábado. Provavelmente encontrará casais felizes e grupos de amigos fazendo festa nas ruas e nos bares, e concluirá erroneamente que você é o maior forever alone da sua cidade. Mas na realidade, o restante de emos solitários e amargurados seguramente estejam em suas casas, lamentando-se de sua má sorte e, talvez, vendo as atualizações de seus presunçosos amigos no Facebook.

Nas redes sociais acontece o mesmo: raras vezes verá um de seus contatos publicando "minha vida é uma bosta", "faz um mês que não dou uminha" ou "é questão de tempo para que meu chefe descubra que passo o dia inteiro coçando o saco (perseguida)". A rede social serve, essencialmente, para proporcionar um pouco mais de lazer e informação e ainda que isso seja algo que todos sabemos de sobra, nossa imperícia estatística nos leva a confundir a vida real com a virtual. E aí meu amigo só nos resta arcar os ombros, deixar o beiço em ponto morto e dizer:

" - Ó céus, ó vida, ó azar..."

Faltam muitos amigos para alcançar a cota maldita no Facebook?

Fonte: Men's Health.