Se ontem lemos um preocupadíssimo Sergey Brin com as nuvens negras que se avizinham da Internet propagadas por instituições como a Apple e Facebook, hoje é a vez de experimentarmos a opinião de Matt Simon no Wired que elaborou um curioso manual baseado na erudição do grande Samuel Johnson, um dos nomes mais insignes da literatura inglesa que por sua notável vocação literária recebeu o venerável apelido de "The Good Doctor". |
Em nossa época a presença do Facebook no mundo que ainda chamamos real é acachapante, a ponto de que pouco a pouco e parcialmente, esta rede social, sem dúvidas a mais popular do planeta, vá tomando o lugar de um sucedâneo da existência cotidiana, uma espécie de identidade alternada que por acaso ou pouca imaginação empata em quase todas suas arestas com a própria. Mas o que é pior, e que todos já verificamos aqui ou em outro blog, é que o Facebook classifica conteúdo conforme seu interesse e de países e instituições que pagam por isso, algo que nunca notamos no Twitter ou no próprio Orkut que provavelmente vá deixar saudades ou que ressuscite dado a que continua a ser uma das maiores redes sociais do país.
Mas não é menos verdadeiro que nem toda a população do planeta se encontra submetida a este sistema. Alguns por circunstâncias óbvias como carência de acesso a Internet e outros por um genuíno senso de resistência ante mecanismos da normalização e a exposição da privacidade.
Para todos, Matt Simon elaborou o manual inspirado no Dr. Johnson, que, entre outros méritos, é reconhecido por ter elaborado um dos primeiros dicionários da língua inglesa, compilando sozinho as definições de 42.000 palavras e verbetes, além de ser também um dos primeiros editores e exegetas da obra de Shakespeare.
E o que tem a dizer um literato inglês ultrapassado do século XVIII sobre o ostracismo voluntário desse páramo chamado Facebook? Primeiramente, o Dr. Johnson convida-nos a refletir sobre o verdadeiro sentido da amizade, um dos conceitos fundamentais sobre os quais foi erigida a rede social de Mark Zuckerberg -que por verdade não pode ser tomado como exemplo de amigo, já que tentou furar o brioco de seus amigos de universidade- e que em certas ocasiões é pervertida por certa redução utilitária dos vínculos sociais entabulados cotidiana e firmemente.
- "A vida não conhece prazer maior nem mais nobre que a amizade", escreveu o Dr. Johnson, e em outro momento: "No abatimento gradual da amabilidade entre os amigos, com frequência seus inícios são mal perceptíveis por eles mesmos e o processo continua com provocações de pouca monta e incivilidades às vezes correspondidas com mau humor, outras desdenhosamente passadas por alto, o que escaparia a qualquer outra atenção, mas não a do orgulho, e abandonaria toda memória, mas não a do ressentimento".
Neste sentido, o célebre, ainda que polêmico, protagonista do estudo biográfico mais elogiado das letras inglesas, realizado por James Boswell, também nos convida a fortalecer nossos laços sociais, ao renová-los, a não deixar nunca morrer essa parte indispensável de nossa existência que é o contato com nossos semelhantes, que significam bem mais que duas ou três linhas deixadas no "mural" de outra pessoa e arrematadas com um gracioso e insosso emoticom. Diz-nos Johnson:
"Se um homem não entabula novas relações conforme passa sua vida, logo se dará conta que ficou só. Um homem deveria manter sua amizade em constante reparo".
Finalmente, o Dr. Johnson, em sua fantasia narrativa The History of Rasselas, Prince of Abissínia, brinda um conselho a todos aqueles que ao final cederam à tentação e, recaindo, se alistaram de novo nas filas do Facebook:
- "Não sofra a vida até que esta se estanque: formará lodo pela necessidade de movimento; volte de novo para a corrente do mundo".
Fonte: Wired.
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Comentários
Facebook é uma banana(não participo disso).
Facebook é coisa de gringo misantropo, no Brasil as pessoas usam por imitação.
Eu tenho, mas não tenho nehuma pessoa adicionada se quiser falar com alguém eu ligo se quiser ver vou onde elas estão.
Essa nomeclatura de amigo é mesmo um misconception, a maioria dos ditos amigos, se fossem colegas já estava bom, pois muitos são apenas conhecidos (quando se conheçe a face da pessoa).
Isso tudo tem um nome, bolha social. A internet teve a primeira bolha, essa é a segunda bolha. O Facebook não é infraestrutura essecial, se ele cair não vai afetar quase nada, não sei porque vale tantos milhoes, eles só tem um produto, ou melhor eles vendem seus dados, você é o produto.
Não gosto do fato do facebook atrelar seu "char" a voce "real". Isso é estranho, nos jogos, eu posso ter quantos avatares eu quiser. Porque no facebook deveria ser diferente. Na verdade, eu considero o eu "real" como um avatar, já que de acordo com qual dos 3/4 grupos sociais eu frequento, não necessariamente ajo da mesma forma e faço as mesmas coisas.
E no mais blogs existem desde a era triassica da internet (1994-2000).
Blogs + Rss + Email, faz tudo o que o facebook faz.
Através do Facebook temos ferramentas que nos permitem viver a vida real, explico: encontramos através do Face, amigos que não víamos já a 25 anos, moram em Bauru-SP e estão vindo hoje aqui pro MT para passar uns dias.
Mas fazer da vida online sua única alternativa... grotesco.
Também não participo de facebook, tenho orkut mas de tanto não acessar perdi minha senha ou expirou sei lá. Esse negócio de vida on line que vai acabar fazendo com que as pessoas esqueçam como é que se desenvolvem relações no campo do mundo real. Pessoalmente prefiro fazer as coisas do modus operanti antigo, in loco mesmo, no mundo real.
Os emediguianos tem um gosto parecido. Também tenho resistido ao Facebook, e acho que o Dr. tem razão.
Redes sociais tem sua serventia.
Nunca havia visto o texto desse autor e mesmo assim cheguei ao mesmo consenso. Prefiro a vida como ela é. Ao vivo, a cores, com mal humores e alguns sorrisos. O Facebook é bom para reencontrar alguns amigos antigos, para novas amizades também é bom: Pra phoder de vez com quem você tanto gosta. E só.
Estou sem e não sinto falta.
Também não participo.
Pra mim esse Zuckerberg devia ir abrir um Spa pra pessoas que só comem o que caçam... :lol:
Nem sei por que esse troço, que é uma mera ferramenta, é objeto de estudo.
Enfim.
Pra mim, tanto faz (fora que nem participo desse troço).