Em julho deste ano falávamos sobre uma abraçadora profissional de Nova Iorque, que vende abraços e dormidas de conchinha por 120 reais a hora. Agora descobrimos um workshop que é dedicado ao ato de carinho, desta vez em Londres. Organizado por Anna Nathan, 36, e Neil Urquhart,42 anos de idade, a oficina acontece duas vezes por mês, aos domingos, e custa cerca de 100 reais. Os participantes do workshop do abraço começam a fazer exatamente isso: se abraçam como se não houvesse uma manhã. |
>
Mas não é apenas esta "abraçação" do começo ao fim. Na verdade, há um processo que é seguido durante as sessões de quatro horas, para os participantes se conhecerem antes de começar a sessão de carinhos e afagos. E, claro, há regras também. Segundo Anna:
- "Ninguém é obrigado a fazer nada que não queira fazer". Algumas das outras regras incluem manter uma camada de roupa em todos os momentos, colocar (ou tentar) a energia sexual de lado, e o mais importante: sem beijo (porque senão a coisa vira sacanagem).
Os participantes da oficina do carinho vem de várias esferas da vida e sociedade, variando de um divorciado de 30 que está precisando de um abraço até a uma senhora aposentada e solitária. A sala em que as aulas são realizadas é aconchegante, com almofadas e puffs verdes e vermelhos espalhados pelo chão. No entanto, a temperatura ambiente é um pouco fria, talvez para fazer com que os participantes a mantenham suas roupas em todos os momentos ou então para encorajar a se aconchegarem no gostoso quentinho de um abraço.
A aula de carinho começa com uma série de exercícios. Primeiro, todo mundo anda em volta da sala no embalo de uma música -em geral a conhecida Don't Worry, Be Happy-. Enquanto andam vão se tocando com os dedos de forma breve para que se conheçam. Em seguida, lentamente começam a tocar os ombros um do outro, pés, orelhas e, finalmente, os quadris. Os alunos ficam geralmente hesitante no início, mas logo o riso nervoso quebra o gelo. Depois, a turma é dividida em pares e, em seguida, pequenos grupos que são guiados a trocar carícias um ao outro por todo corpo -exclusive tronco e região pélvica-. No exercício final, os grupos se desmancham e todos ficam no chão, tocando e segurando o outro ao mesmo tempo que respeitam as regras.
Todo o conceito soa estranho, especialmente para pessoas que nunca acarinharam um estranho antes. Bailey, uma estudante americana de 20 anos de idade disse que ficou muito sem graça na sua primeira aula:
- "Em algum ponto, eu comecei a pensar: que coisa estranha, estou prestes a abraçar alguém que acabo de conhecer. Em qualquer outro lugar isso seria estranho. Mas como estava em uma oficina, tudo bem". Embora, ela admita que acha estranho ver uma oficina como esta em Londres.
- "Eu não esperava encontrar um lugar como este aqui, talvez na Califórnia, em uma colônia de hippies". Mas para aqueles que são bastante experiente com carinhos, a atividade é algo relaxante. Grace, uma afagadora veterana, diz:
- "Eu me sinto muito relaxada. Eu comparo a tomar comprimidos de ecstasy".
Uma das regras que os participantes já ficam sabendo antes de chegar ao workshop é certificar-se de que não estão usando muito perfume ou loção pós-barba. Ainda assim, não há como dizer quando você terá que abraçar um catinguento. Bailey conta:
"Um dos carinhas tinha uma camisa recém-lavada com um cheirinho gostoso de amaciante, 'isso é bom, é tão reconfortante.' Mas a pessoa seguinte, era mefítico cara, muito tenso, credo!".
Ainda que as regras na oficina de afagos sejam bem rigorosas, é inevitável que tal proximidade de contato possa levar a atração para um outro nível. No entanto, Anna e Neil dizem que mantêm uma estreita vigilância sobre os participantes e que nunca tiveram muita dificuldade nos dois anos que promovem estes workshops.
- "Nós nunca tivemos que separar as pessoas", diz Neil. O verdadeiro objetivo do workshop é apenas ajudar as pessoas a obter algum conforto em uma sociedade onde o contato humano vem minguando a olhos vistos. No final de uma sessão, a volta ao mundo real pode parecer fria e se tornar um choque para alguns participantes. Para evitar isso, os organizadores gostam de suavizar o golpe, organizando um jantar nas proximidades para aqueles que se dispuserem a ir. Andrew, de 42 anos, diz:
- "Se eu tivesse que ir direto para casa no transporte público, eu me sentiria um pouco sozinho e com frio. Eu quero abraçar todo mundo que ver pela frente, se forem com minha cara ou não, mas infelizmente as pessoas não encaram isso numa boa". Andrew foi a mais de 10 oficinas até agora.
Claramente, a oficina do carinho está fornecendo às pessoas algo que realmente precisam e não estão recebendo (ou procurando) o suficiente em suas vidas diárias.
Fonte: BBC News.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários
É um alívio apenas temporário para a carência afetiva.
Quero um abraço 8O alguém? alguém? :cry:
Edgar Rocha...
Calmate, vamos por partes...
Não falei pra ser uma pedra de gelo...
Creio que o ser humano necessita de carinho dos mais próximos, mas aqueles que morrem por isso são estúpidos!
Precisamos de carinho, mas podemos viver sem ele, ainda mais de pessoas estranhas que você nunca viu na vida...
Vou apenas colar aqui um comentário que já fiz em outro post:
"O mundo está com sérios problemas. Já dizia o grande Renato Russo: "o mal do século é a solidão; cada um de nós imerso em sua própria arrogância, esperando por um pouco de atenção".
Eu só não sei - ou talvez não consiga acreditar - que seja tão difícil assim encontrar uma pessoa bacana e ter um relacionamento de verdade. Colocar uma roupa legal, ir à praia, ou num barzinho, conversar um pouco... Seria talvez o isolamento, capaz de minar a sabedoria prática? Seria arrogância, egoísmo, ou só babaquice, mesmo?
É, Luisão... acho que tem bastante emediguiano azedo hoje aqui... "
Abraço só é bom quando verdadeiro, quando é de alguém que você considera, abraço comprado é ridículo, não há carinho algum apenas um gesto sem sentido.
Bruno,
Ser independente é uma coisa. Ser uma pedra de gelo é outra. A sociedade tem imposto justamente esta postura 'independente', fazendo com que todos negligenciem um princípio básico: somos seres sociais. O estranho não é a necessidade de ter este contato físico. Acho estranho que tenham chegado a este ponto: pagar pra ter um abraço. No próprio texto, fica intrínseco que os participantes acham o toque algo antinatural. E, mesmo sentindo falta, ainda estranham quando duas pessoas se abraçam em público. Não percebem que o artificialismo está justamente no distanciamento excessivo. Tem gente que não sente conforto com o toque de outra pessoa nem fazendo sexo. Dá no que dá: um sujeito com a orelha arrancada por um homofóbico porque abraçava o filho. E isto no Brasil!
Aff!
Ingleses são carentes, acredite em mim.
Mas, essa coisa de abraço é em frente das cameras, quando fecham as portas e cortinas... HAHA, acontece coisas que nem Hórus nem Khonsu sequer imaginam.
Gosto de abraços, mas isso é estranho.
Ingleses fazendo Inglesísses...
O ser humano tem que aprender a ser mais independentes...
Afinal, não dizem por aí que os mais inteligentes são os mais solitários?
Ai, ai
Tudo aí é estranho.