Nas profundezas das selvas da Costa Rica e Panamá duas espécies de ratos competem com suas canções como se tratasse de um show de talentos televisivo. As estrelas deste espetáculo são o pequeno rato cantor de Alston (Scotinomys teguina) e o rato de Chiriqui (Scotinomys xerampelinus), duas espécies que compartilham território e cuja característica mais chamativa é sua capacidade para emitir uma espécie de canto para atrair as fêmeas, como se fossem pássaros. |
A equipe de Bret Pasch, da Universidade do Texas em Austin (EUA), estudou o comportamento entre ambas espécies e publicou algumas curiosas conclusões na revista The American Naturalist. A primeira coisa que observaram os pesquisadores é que nas zonas com maior altitude dentro dos bosques os ratos de Chiriqui substituem abruptamente os pequenos ratos de Alston, em parte por sua maior adaptação às temperaturas mais baixas. No entanto, quando na zona não há ratos de Chiriqui, os ratos de Alston se mudam para as zonas mais altas sem problema, enquanto em outras partes do bosque as duas espécies convivem e competem pela mesma comida.
A questão que intrigava os cientistas era de que maneira os ratos usavam suas canções para demarcar seu território?
- "Os machos", explica Pasch, "parecem utilizar seu canto para advertir de sua presença a potenciais casais a seus competidores". Na natureza, o habitual é que os animais compitam pelo território sem chegar ao confronto físico, uma atitude conservadora que contribui vantagens evolutivas, de modo que a equipe de Pasch quis averiguar se as canções destes roedores estavam tendo um papel parecido.
Para comprová-lo, os cientistas capturaram alguns exemplares e gravaram suas vocalizações para emiti-las posteriormente no território de ambas as espécies. Ainda que pareça um simples queixume, estes cantos são bem mais complexos e têm múltiplas notas e mudanças de amplitude. E as reações dos dois ratos também foram diferentes. Os ratos maiores, os Chiriqui, começavam a cantar quando detectavam a presença de outro macho em sua zona, independente da espécie que fosse. Os ratos de Alston, ao contrário, só cantavam quando eram os membros de sua própria espécie os que andavam por perto, mas quando detectavam um rato de Chiriqui ficavam calados e iam embora da zona.
A conclusão dos pesquisadores é que os cantos dos ratos têm um papel na segregação espacial e a relação de dominação de ambas espécies. Os ratos menores, asseguram, são silenciados e repelidos pelos cantos dos maiores, de modo que a informação acústica que circula pelo bosque regula a distribuição espacial de ambas espécies e determina suas interações.
Se não fossem vetores de tantas doenças e se não se reproduzissem como "ratos", os ratos seriam uma ótima opção para bichinhos de estimação. Convivemos com o rato, como uma praga, desde o neolítico, desde que a agricultura começou. Assim, após tanto tempo de convivência, não é de espantar que os roedores tenham aprendido nossas manias e nossas falhas e desenvolvido certos truques para conviver conosco sem que corram muito risco. Em alguns ramos da árvore genealógica dos dentuços, essas mudanças já caracterizam uma evolução da espécie, um salto que foi determinado pela convivência conosco.
Uma das coisas que distingue o homem dos demais animais é nossa capacidade de razoar sobre causa e efeito. Por exemplo, quando o relógio marca meia-noite nós esperamos que esteja noite lá fora, mas sabemos que os ponteiros não são os responsáveis pela escuridão. Os cientistas supunham que esse tipo de raciocínio, que distingue os eventos ligados por associação de causa e efeito, era exclusivo do ser humano. Mas um estudo recente sugere que os ratos também estão nessa.
Uma experiência clássica relacionada com o assunto foi realizada pelo psicólogo russo Ivan Pavlov, que treinou cães para que associassem o som de uma campainha à presença de ração. Depois de algum tempo, o simples som da campainha fazia com que os cães salivassem, mesmo sem haver comida por perto, indicando a associação simples entre eventos separados por um curto intervalo de tempo.
Na nova experiência, ratos foram adestrados a associar uma nota musical ao aparecimento de um doce em um local da gaiola. Em seguida, introduziram na gaiola uma alavanca que, se pressionada, reproduzia a mesma nota musical. A questão: será que os ratos passariam tocar a nota na esperança de ganhar o doce? O aprendizado por associação sugeriria que sim.
Mas acontece que os dentuços não saíram em busca da comida depois de tocar a nota. Isso sugere que eles têm uma noção da diferença entre associação simples e causa e efeito. Curioso ou não?
Fonte: Nat Geo.
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Comentários
Já tive uma branquinha dessas. Era um bichinho adorável. Carinhosa, gulosa, companheira, limpinha. Aliás, mais limpa que muitos humanos. A minha Hany viveu apenas dois anos, pois são bichinhos muito propensos a tumores. Sinto saudades dela, e só não adoto outra porque dói muito quando se vão. :cry: :cry:
Curioso.
Só não sei se teria muita graça ter um desses de estimação.
CN? :roll: