Há pouco anos, em um especial da BBC, o Dr. Alex Taylor provou ao mundo que, se há qualquer animal que possa se levantar contra a humanidade e dominar o mundo, este é o corvo. Na experiência, Taylor configurou um quebra-cabeça complexo em que a ave tinha que completar oito estágios em uma ordem específica para ganhar acesso a uma guloseima. Incrível é que o corvo selvagem do experimento, apelidado de "007" por causa de sua astúcia, nunca tinha visto os objetos dispostos juntos antes. |
Não é necessário dizer que o pássaro só precisou de um momento para entender o quebra-cabeça, que começou a resolver com folga.
O caso é que quando pensamos em animais antropomorficamente inteligentes, as primeiras espécies que nos vêm à memória são provavelmente os golfinhos, os chimpanzés, ou talvez nossos inseparáveis parceiros: os cães ou os gatos. No entanto, poucos são os que costumam nomear outras classes de inteligência como os polvos ou os protagonistas desse artigo: os corvos.
É verdade que há muito tempo, já presentes nas fábulas de Esopo, os corvos sempre foram considerados animais astutos e hábeis. Mas a realidade, como costuma acontecer frequentemente, resulta bem mais fascinante do que aquilo que os contos e mitos oferecem. Por trás da imagem de ladrões sibilinos e oportunistas proporcionado pela ficção e lenda, se encontra uma das inteligências mais surpreendentes que existem no reino animal.
Nas últimas décadas os biólogos colocaram a prova a destreza e recursos de numerosas espécies de corvídeos e os resultados foram estampar as capas das revistas científicas mais prestigiadas do mundo, até ao ponto de que se converteram na primeira demonstração de animais não primatas capazes de fabricar ferramentas.
Um caso espetacular desta habilidade impar foi estudada em 2002 por pesquisadores do Laboratório de Ecologia do Comportamento Animal da Universidade de Oxford. Tratava-se de uma fêmea de corvo da Nova Caledônia conhecida mundialmente como Betty que assombrou os cientistas por sua capacidade já que, não só utilizava paus ou ramos para obter alimento (formigas, larvas e outros insetos), senão que era capaz de dobrá-los e modificá-los para fazer com que coubessem ou se adaptassem melhor aos buracos e saliências dos troncos.
Uma vez deixaram Betty sozinha em frente a um problema em forma de garrafa com um inseto em seu interior, e ela foi capaz de fabricar ferramentas para chegar ao interior da garrafa. Inclusive, quando seu colega Abel lhe roubou a útil ferramenta, Betty construiu um novo gancho para atingir seu alimento.
E não só são inteligentes na forma de capturar suas presas, senão que também demonstram ser muito espertos à hora de escolhê-las. Em um artigo publicado na revista Science, cientistas do departamento de zoologia de Oxford, demonstraram que conquanto estes corvos são capazes de capturar sem nenhum tipo de ferramentas uma grande quantidade de insetos, não obstante os fabricam para caçar larvas que são bem mais nutritivas, demonstrando assim uma eficiência dietética realmente notável.
Abrem portas, decifram problemas com várias fechaduras, modificam paus para transformá-los em úteis ferramentas, assinalam objetos, enfim... as incríveis condutas destas aves não fazem mais que aumentar o interesse dos biólogos que nos últimos tempos descobriram novas e intrincadas mostras de inteligência, comportamento social e inclusive de uma incipiente linguagem.
Quando os seres humanos falamos de cultura, nos referimos, em um sentido amplo, à transmissão dos conhecimentos adquiridos entre indivíduos de uma mesma espécie. Pois bem, os corvos oferecem evidentes demonstrações desta transmissão já que as descobertas realizadas por alguns deles passam de uns aos outros em uma clara prova de conduta social e cultural.
O exemplo mais fascinante destas condutas, adquiridas recentemente e transmitidas, foi descoberta no Japão onde os corvos aprenderam que as rodas dos carros podem ser uma eficaz ferramenta para quebrar nozes. Situam-se em cima dos semáforos e lançam seus frutos secos para que os veículos façam o trabalho duro por eles.
Mas ainda há mais, estas inteligentes aves também se deram conta de que é perigoso tentar recolher o prêmio quando o tráfego é abundante e esperam pacientemente que a luz fique verde para saltar nas passagens de pedestre e recolher as nozes.
O grande David Attenborough mostrava há alguns anos esta surpreendente conduta nos semáforos do Japão, em um vídeo extraído de um de seus geniais documentários.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários