Para além de que este possa parecer outro cúmulo de experimentos com humanos e ratos sobre por que algo é bom ou ruim para nós, esta lista reforça cientificamente o papel que tem a demonstração do amor, empatia e também enfatiza a importância de cuidar e demonstrar afeição pelos demais; pois a saúde geral do ser humano depende, mais do que imaginamos, da quantidade de carinho que recebemos e damos ao longo da vida. |
O enigma de porque amamos é tão antigo quanto a primeira faísca entre o primeiro homem e a primeira mulher que fecharam os olhos antes de um beijo dentro de uma caverna. Aqueles primeiros caçadores e coletores certamente tenham ficado juntos para não morrerem de fome sozinhos. Muito provavelmente por milênios, a mulher, pela inerente fragilidade, tinha razões importantes para escolher seu parceiro com base em sua capacidade de macho alfa em detrimento de alguma noção difusa da conexão romântica.
Desde então, as coisas mudaram bastante. Hoje tanto elas quanto eles buscam a faísca única do amor único. Muitas vezes, parece que a mola primordial de nossa existência se baseia em formar ligações profundas com outra pessoa.
O problema é que o amor, ou melhor, a palavra "amor" foi estereotipada com todo tipo de coisas que não têm muito a ver com seu alcance principal. Os diamantes, as comédias românticas, as canções pop e os lugares para encontrar namorados encarregaram-se de monetizar o sentimento e esvaziá-lo de significado, até ao ponto de que muitos se esqueceram essencialmente do que se trata.
Em seu livro "Love Sense: The Revolutionary New Science of Romantic Relationships", a psicóloga Sue Johnson compartilha uma série de estudos que revelam os efeitos benéficos do amor. Vale a pena revisá-los pelo simples fato de recordar o que tanto nos moldou.
1. O amor reduz nossa percepção física da dor e da ameaça
Em um experimento sem precedentes, o Dr. Jim Coan da Universidade de Virginia juntou um grupo de mulheres felizmente casadas e colocou-as sob a observação de um escâner de ressonância magnética. Uma vez nas máquinas, elas viam imagens do sinal "x" e pequenos círculos. Antecipadamente elas foram informadas que quando vissem algum "x" havia uma possibilidade de 20% de que recebessem um choque elétrico no tornozelo. Após receber o choque, deviam descrever o quanto doía.
Durante o estudo e em diferentes ocasiões, as mulheres enfrentaram ameaças ou sozinhas, ou com um estranho ou então com seus maridos segurando sua mão.
Quando estavam sozinhas e viam um x, apareceram sinais de alarme em seus cérebros e qualificaram os choques subsequentes como dolorosos. Mas depois o estudo deu um giro interessante. A presença do estranhos diminuiu seu alarme e dor, e quando seus maridos estavam a seu lado, seus cérebros mal responderam à ameaça do x, e qualificaram as descargas elétricas somente como "incômodas".
Para este ponto, podemos recordar as últimas palavras de William Burroughs:
- "Não há nada. Não há sabedoria final nem experiência reveladora; porra nenhuma. Não há Santo Graal. Não há Satori definitivo nem solução final. Só conflito. A única coisa que pode resolver este conflito é o amor. Amor puro. O que eu sinto agora e senti sempre por meus gatos. Amor? Que é isso? O calmante mais natural para a dor que existe. Amor."
2. O contato carinhoso nos primeiros anos de vida beneficia nosso desenvolvimento emocional e "desliga" os genes ruins
Na psicologia evolutiva, a frase não é "a sobrevivência do mais forte", senão "a sobrevivência do mais cuidado". O psicólogo Michael Meaney da Universidade McGill realizou um estudo mostrando que as ratos que foram intensamente cuidados, isto é, que foram muito lambidos e paparicados quando eram filhotinhos, quando cresceram lidavam com o perigo e o medo mais adaptadamente que suas contrapartes menos benquistas.
Os ratos muito acarinhados permaneceram calmos inclusive quando os cientistas jogaram baldes de água no local em que estavam. Esses ratos também registraram menores níveis de estresse que os outros.
Em outro estudo a geneticista Danielle Dick da Universidade Commonwealth coletou o DNA de 400 adolescentes que foram acompanhados desde o nascimento. Ela analisou seus perfis genéticos para variações em um gene chamado CHRM2 que está associado com a dependência de álcool, comportamento anti-social e depressão.
Os adolescentes que tinham pais descomprometidos e distantes mostraram comportamento mais indesejável, como violência e delinquência. Mas os adolescentes com a variante que tinham pais mais envolvidos e carinhosos, passavam longe dos problemas.
Estes resultados são semelhantes a muitos outros que afirmam que a experiência de vida e o contato amoroso paterno pode afetar a expressão gênica e inclusive aumentar os níveis cerebrais de interleucina -10, uma molécula que suprime o desejo por drogas.
Assim, o amor de pai e de mãe em idades precoces podem ter um profundo impacto no futuro para que o jovem se torne uma pessoa bem sucedida.
3. O amor protege nosso sistema imunológico
Os resultados de um estudo realizado pela psiquiatra Janice Kiecolt-Glasser mostrou que mulheres recém divorciadas tinham um sistema imunológicos mais debilitado que mulheres em uma relação feliz no casamento. Inclusive chegou a afirmar que, na saúde geral, uma relação amorosa é mais importante que o exercício ou a dieta.
4. O amor pode ajudar a lidar com emoções dolorosas
Sue Johnson identifica três diferentes tipos de vínculo: seguro, ansioso e evasivo.
- "Aqueles que formam vínculos seguros", aponta, "têm um sentimento profundo de que seu casal está aí para eles. A segurança é o nível profundo da confiança e da certeza de que você é importante para alguém e que responderá a sua chamada".
As pessoas que estão vinculadas ansiosamente, ao contrário, se preocupam muito se são suficientemente importantes para o outro, e portanto buscam reafirmações constantes. Já as pessoas que formam vínculos evasivos se sentem incomodadas de depender de outros e resistem a "abrir a guarda" a seus casais.
Um estudo de ressonância magnética cerebral conduzido por Omri Gillath na Universidade do Kansas descobriu que as mulheres que viviam relações seguras estavam melhor preparadas para processar emoções difíceis, como a dor e a perda, que aquelas que tinham outro estilo de vínculos como a ansiedade e a evasão.
Quando foram confrontadas com cenários emocionalmente perturbadores, as pessoas com vínculos seguros mostraram menos atividade na região do cérebro que processa a tristeza.
5. O amor não é apenas a fonte de um bom sexo, também é de paixão duradoura
De acordo ao estereótipo, o sexo entre casais que se conhecem há muito tempo torna-se algo chato e aborrecido devido a rotina. Mas isso não é necessariamente a realidade. Quanto mais ligado emocionalmente um casal é, aponta Sue Johnson, mais sexualmente ativos são.
Em sua pesquisa, o sociólogo Edward Laumann descobriu que os amantes duradouros que estão contentes têm mais sexo e desfrutam muito mais do que os solteiros. Isto empata com os estudos da psicóloga Deborah Davis da Universidade de Nevada, no qual os amantes com vínculos de amor estáveis estavam sempre mais dispostos a experimentar sexualmente e reportaram desfrutar mais do sexo do que aqueles cujos vínculos eram menos sólidos.
Há que ressaltar também que não é necessariamente verdade que os seres humanos estão preparados para a promiscuidade ou que a paixão monogâmica está condenada a murchar com o tempo. Em seu último estudo, Sue Johnson descobriu que os casais se tornaram mais e mais seguros e satisfeitos com a vida sexual, e muitos se confessam tão apaixonados quanto no momento que começaram a viver o grande amor.
Ou seja, pese as atribulações e os problemas do cotidiano, temos sim muitas razões maravilhosas para amar o amor.
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