Até há poucos anos o ativismo requeria de um envolvimento dinâmico em defesa de uma causa especifica ou na denúncia proativa de uma situação. Dito envolvimento implicava assistir a manifestações públicas, recolher assinaturas ou fundos para a causa, pressionar presencialmente a certos atores, por exemplo um determinado empresário ou servidor público, e participar constantemente em trabalhos organizacionais e colaborativos. |
Com a massificação das redes sociais na Internet, foram definindo práticas complementares ao ativismo tradicional: promover a assinatura digital de uma petição, denunciar um fato específico nas redes ou propagar informação ao redor de uma causa, entre outras. Como complemento estas práticas reforçam a causa, e com frequência o fazem de maneira significativa. Mas também muitos advertem, acho que não sem razão, que se trata de uma postura bem cômoda.
Resulta interessante tratar de entender como são percebidas estas ações digitais desde a perspectiva do agente. Isto é, será que sinto que participei ativamente de uma verdadeira causa se tuitei suas metas em, digamos, onze vezes?
Um estudo recente sobre ativismo digital, estranhamente realizado por uma empresa de marketing e pesquisa, determinou que muitas pessoas (64%) se consideram ativamente envolvidas com uma causa quando se manifestam a favor dela via seus perfis em redes sociais. Não obstante, só uma um terço delas levaram seu apoio um passo além, isto inclusive se tratando de ações mantidas no âmbito digital e que não exigem cruzar a porta de seu lar, como, seguir o perfil de uma ONG nas redes sociais (28%), assinar uma petição on-line (29%) ou realizar uma doação (35%). De acordo a estes dados, apenas uma minúscula porção compartilhou sua postura com uma ação para além da Internet.
Buscando estudos relacionados não consegui encontrar algum que sugerisse a possibilidade de que a atividade digital ofereça, para certas pessoas, um substituto satisfatório a partir para a ação fora da Rede. Neste caso evidentemente a participação on-line estaria atuando como um debilitador da causa, mas podemos também supor que na maioria das vezes as pessoas que participam exclusivamente via rede social, não estão dispostas a se envolver presencialmente e, portanto, são um reforço ao trabalho dos ativistas tradicionais ou os cidadãos proativos.
Ao que parece, o ciberativismo tem um papel importante no desdobramento de uma causa. No entanto, em um contexto ideal este deveria ser apenas um complemento a um envolvimento "off-line" e não uma simples substituição. Na história recente existem múltiplas provas de que gerar pressão digital pode ter repercussões importantes, mas também é apropriado enfatizar que a maioria destes triunfos vem acompanhados de ações concretas, extra digitais, realizadas por uma organização civil ou um reduzido grupo.
Por outro lado e desde a revolução do Facebook e seus perfis cheios de pessoas felizes, muitos vem esquecendo de um detalhe básico: coisas virtuais não contam na vida real e até mesmo um bilhão de "Curtidas" no Facebook não vão ajudar aqueles que enfrentam crises em suas vidas cotidianas. "Améns" não curam doenças e nem vão fazer com aquele garoto maltrapilho da foto melhore de vida. Você pode até ganhar um iPod, se tiver sorte, mas não vai frear a pobreza, a falta de moradias, o colapso econômico e cultural que são causados por guerras e desastres naturais.
É verdade que desde o ponto de vista do usuário, isto deve dar a impressão de que está sendo útil e defendendo uma causa, mas desde um ponto de vista prático, isto não tem nenhum impacto nos recursos das associações ou ONG's. "Curtidas" não sanam doenças nem mazelas, "Curtidas" não resgatam animais abandonados nas ruas, "Curtidas", contudo, alimentam egos, ajudando a fechar os olhos para a realidade e minam a indispensabilidade da empatia para fazermos o bem no nosso dia a dia.
Em poucas palavras: não deixe de tuitar ou de manifestar sua opinião nas redes, mas idealmente considere que também poderia dar um passo além, trascendendo os limites do Facebook, Twitter e companhia, e que na medida em que mais pessoas fizerem, então estarão acelerando esses processos sociais, essa transformação, que a cada vez com maior urgência precisamos consumar.
Fonte: Bloomberg.
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Comentários
Pensei que poucas pessoas tinham uma parte de reflexão como eu, o admin pois sua opinião e sobre minha opinião só tem uns trexinhos o resto não do meu jeito de refletir.
Parabéns! Você mais uma vez me surpreende, com ideias iguais a minha. Deteste esse lance de do tipo "Quem é contra a violência compartilhe" e depois curte, mais a adiante ver uma cena de agressão e não se dar ao trabalho de ligar para a policia. Eu detesto isso, por isso meu face fica largado as baratas, não tenho paciência para tanta besteira e hipocrisia.
Realmente o uso das redes sociais facilita o envolvimento não presencial. Aproveito para pedir aos amigos e comentadores que vejam, e se concordarem assinem uma petição feita por mim pelo site da Aavaz - https:///po/petition/Secretaria_dos_Direitos_Humanos_do_Governo_Federal_Obrigar_a_criar_o_Fundo_Municipal_do_Idoso/e dit/
Roooaaarrr...