O voto eletrônico é um desses argumentos que algumas pessoas costumam usar como exemplo de um futuro melhor, porque é bacana, é avançado, é tecnológico, permite a contagem rápida dos votos e uma grandessíssima lista que faz parecer bom e aceitável. Afinal, se estamos dispostos a confiar nos meios eletrônicos para proteger nossas finanças, e talvez até mesmo um dia dirigir nossos carros, pode parecer lógico que o voto eletrônico seja também uma consequência natural dos tempos atuais. Mas quase todos os especialistas na área dizem um rotundo "Não!" Essa é uma das únicas coisas que não deveria ser eletrônica! |
Pelo menos é o que abunda o artigo "Why online voting would be a ‘complete disaster’":
"Computadores são coisas muito complicadas e não há forma razoável nem quantidade de recursos suficientes para garantir que o software e o hardware estejam livres de bugs e que não possam sofrer um ataque malicioso. Os problemas e a complexidade aumentam mais rápido do que os métodos para evitá-los. A perspectiva de um sistema de voto eletrônico baseado em que “computadores são perfeitos” é realmente uma péssima ideia."
Na prática os sistemas de voto eletrônico são aconselháveis para quase qualquer consulta, como votos em redes sociais, pesquisas de opinião e inclusive para questões meio sérias como contabilizar votos em organizações particulares, sempre que sejam respeitados protocolos de segurança razoáveis e que sejam aplicadas certas garantias, análises e auditorias no caso que se trate de algo realmente necessário e importante.
Há que recordar, ademais, que os sistemas de voto para "eleições gerais" variam uma barbaridade de um país para outro: em alguns é obrigatório votar, em outros não. Em outros votam com cédulas em urnas transparentes, em outros em caixas de papelão. Em alguns lugares há que votar com máquinas especiais -mecânicas ou tácteis, que geram um voto em papel- e em outros, como no nosso país, só é possível votar de forma eletrônica nas seções eleitorais.
Mas o voto definitivo, esse que escolhe os representantes de todo um país durante anos e que dá acesso a orçamentos de milhares de milhões para o bem comum, a decisões de vida ou morte, a questões que afetam direitos fundamentais é muito valioso para ser deixado nas mãos de máquinas com bugs, pessoas com interesses e poderio econômico suficiente para arranjar um resultado que lhes seja favorável. Ou simplesmente nas mãos de um governo corrupto que possa manipulá-lo em busca de um projeto de poder.
Essencialmente o voto eletrônico pode se transformar em um problema de segurança muito complexo, segundo Bruce Schneier, que comunga com a opinião do guru do software livre Richard Stallman:
"Acho que o voto eletrônico é perigoso e que esse perigo não pode ser evitado nem sequer usando software livre.
O risco reside no fato de que alguém manipule o software para criar armadilhas com os votos. Isto não pode ser evitado nem sequer estudando o código fonte do programa que vai ser utilizado durante as eleições, porque o programa que estiver rodando naquele momento poderia ser diferente do que foi mostrado e avaliado antes. Alguém poderia substituir o original por outro que manipule os votos e o restaure ao acabar; ninguém perceberia que isto aconteceu. Não teria forma de fazer uma contagem.
De modo que estou entre aqueles que opinam que as eleições devem ser realizadas com cédulas de papel para que seja possível uma contagem manual, se necessário."
Sem ser conspiranóico, há razões óbvias para acreditarmos que muitas pessoas gostariam de alterar o resultado das eleições. Se até há pouco, alguns gastavam milhões de reais através das contribuições de campanha, porque não podemos pensar que também podem gastar milhões com a intenção de manejar os resultados?
Com as cédulas de papel nas seções de votação, para roubar um número significativo de votos seria necessário controlar muitos mesários ou um monte de eleitores votando de forma fraudulenta, o que seria muito difícil e caro. Mas com a votação eletrônica sem papel, talvez todo o necessário seja alguns programadores ou ainda uma empresa venal, em cuja probidade pairam escuras nuvens de já ter manipulado as eleições de um país, o que nos leva a acreditar que o Analista de Sistemas, Gilson da Silva Paula, esteja correto. Indo ao encontro das asseverações de Stallman, Gilson afirmou que o resultado das eleições de 2014 foram fraudadas por um software malicioso.
Do ponto de vista de confiabilidade na eleição, a votação eletrônica parece se afigurar como um desastre completo. As eleições devem ter um padrão elevado de credibilidade e precisam aparentar uma percepção de serem livres de fraudes. No entanto, se você tem um sistema de eleição onde a fraude pode ser cometida de forma indetectável, então nós não temos nenhuma razão aparente para confiar nos seus resultados. E isso é péssimo para uma democracia, porque toda a meta de uma eleição é satisfazer os derrotados de que perderam a eleição de forma justa e que o candidato que foi eleito é legítimo.
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Comentários
Num Brasil perfeito com uma urna perfeita pesquisadores de segurança credenciados teriam liberdade para, até 5 dias antes das eleições, irem nos depósitos onde ficam as urnas e fazerem testes reais em qualquer urna aleatória. Os testes incluiriam a básica inserção de votos para ver se não tem voto extra pra ninguém entrando e também tentativas de quebrar a segurança da urna com vírus ou injeções de código... A quantidade de pessoas envolvidas num esquema e a logística necessárias para fraudar as urnas 5 dias antes das eleições seriam muito grande pra tornar essa ação convidativa a algum grupo político. E assim as eleições eletrônicas poderiam se dizer seguras... No Brasil de verdade o TSE libera que um pesquisador "teste" a urna meses antes com muitas e muitas restrições ao que ele pode efetivamente fazer. É o equivalente a uma empresa dona de um cofre "super seguro" dizer para um ladrão tentar arrombar o cofre, mas pra isso só pode usar um palito de dente!
George Fox, concordo! O mesmo vale para o voto papel!
As urnas eletrônicas trouxeram diversos benefícios, sendo o maior destaque a rapidez com que se processam as informações.
Em outras palavras, a fraude agora está modernizada hehehe!
Brenno, eu entendo o que você está falando, mas até aí a pessoa poderia passar o protocolo de outra pessoa que ela conhece (e que poderia ter votado no candidato).
Enquanto não tiver transparência nas eleições, enquanto não mostrarem voto a voto de uma forma conferível, TUDO está sujeito a fraude. Todos os pontos, desde o voto do eleitor na urna até a conferência dos votos, estão sujeitos a fraude.
Me chamavam de louco. Eu falo isto desde que inventaram a urna eletrônica. Quem é que pode garantir a lisura do software? Quem é que supervisiona o programador? Quem é que gerencia o supervisor? Quem é que direciona o gerente? Quem é que governa o diretor? è muito poder na mão de apenas uma pessoa.
Bem, fugindo um pouco do assunto, nas próximas eleições para Presidente da República certamente teremos os mesmos candidatos de sempre e, caso apareçam outros, também já serão velhos conhecidos do eleitor, portanto eu sugiro que não haja campanha eleitoral simplesmente porque não há necessidade disso se os candidatos já são conhecidos.
Já pensaram no dinheirão que será economizado?
O problema é o que o Brasil está cheio de especialistas em tudo. O programador diz que a urna eletrônica não é segura, mas as pessoas preferem acreditar na palavra de um advogado ou de um médico ou de um político...
Gawaim, pessoas autorizadas? Quenm disse que elas estão acima de qualquer suspeita? Quem entregou a chave que computa mais de 100 milhões de votos ao Tofoli? Quem disse smartmatic é uma empresa decente? Não é caso de vírus nem de acesso ilegal de dados, é o próprio software que realiza a fraude.
Não é necessário que o sistema seja conectado a internet para que fraude os resultados. Basta que o software tenha código malicioso. Isso pode fazer, por exemplo, que a cada 5 votos para fulano um vai automaticamente para sicrano. Os programadores podem apresentar um código fonte limpo e compilar um software sujo sem que ninguém possa identificar.
Vou tentar explicar: você escreve um programa em uma linguagem de programação qualquer que tem lá um conjunto de instruções que reproduz uma rotina que deverá ser executada por um computador. Este é o código fonte e todo programador pode ver se o código é limpo ou não. Depois que este cógigo é compilado para rodar no computador ninguém mais consegue ver se o código está limpo e se realmente é o código fonte original. O que isso quer dizer? É factível que um programador exiba um código para avaliação e compile outro malicioso para execução.
É isso que as pessoas não entendem. Não há a necessidade de interação via rede ou internet para que os dados sejam mudados, senão que o próprio software pode fazer isso. Urna eletrônica é uma roubada.
Olha, votações para quase tudo são manipuladas desde o tempo que se votava erguendo a mão.
A questão é: até na hora de comprar um carro eu escolhi um com a menor quantidade possível de sistemas eletrônicos. Um deles, o alarme, pelo menos uma vez por mês faz eu chegar atrasado em algum lugar.
Mas sinceramente não saberia o que sugerir para tornar o sistema eleitoral brasileiro confiável. Trocar todos os eleitores e políticos, talvez.
Eu não acredito nestas fraudes. O Sistema é simples,não é conectado a internet, para acessa-lo só pessoas autorizadas. O que em caso de fraude seria muito fácil identificar quem disseminou o vírus! Mas, uma providência simples poderia ajudar a aumentar a credibilidade:
- Para cada voto, um recibo tipo cupom fiscal seria emitido com uma contagem parcial inclusive demonstrando a posição anterior de cada candidato antes e depois da sua votação! Mais tarde essa informação estaria disponível na internet e qualquer pessoa descontente com o resultado conferiria seus cupons, que também seria o comprovante padrão que votou, comparando com os dos seus amigos e veriam se as informações da sua urna estavam ou não com discrepância!
O computador nunca erra, mas segue ordens mesmo que erradas.
Confio no computador do banco, mas nunca deixo de conferir o extrato. Quando o voto era escrito, se aparecerem muitos votos com a mesma grafia, houve fraude, com o voto eletronico é quase impossivel descobrir.
Brasileiro não sabe o que é democracia, a gente "pensa" que tem, mas não tem. Nas últimas eleições, nenhum candidato me representava, e mesmo assim tive que ir lá votar (em tese) em algum deles. Mas agora não caio mais nessa, próximas eleições, se não tiver nenhum bom candidato, não vou votar, e vou lá pagar os 3 contos de multa!
Marcus, quero o número do seu protocolo ou já sabe as consequências.
Por que o voto não é público? Poderiam imprimir um número de protocolo com os votos e disponibilizar em um website os resultados de forma simples: protocolo - votos.
Assim, não revelaria quem é o eleitor e qualquer um que votou poderia confrontar seu protocolo com seus votos e até mesmo somar todos os votos para ver se a conta fecha.
Isso aumenta a transparência e reduz significativamente a possibilidade de fraude.