O fascínio que as histórias da Segunda Guerra proporcionam só não é maior porque o combate cobrou a vida de entre 65 e 85 milhões de pessoas, mais de 3% da população mundial naqueles anos. Mas basta cavoucar um pouquinho para descobrir histórias espetaculares de coletivos que em meros papéis de coadjuvantes proporcionaram a possibilidade de que centenas (talvez milhares) de soldados voltassem a seus lares para ver suas mães, esposas e filhos. Este foi o caso dos nativos de Papua Nova Guiné, que ficaram carinhosamente conhecidos por Anjos Fuzzy Wuzzy. |
A campanha de três anos na Nova Guiné, entre 1942 e 1945, foi uma das mais árduas da Segunda Guerra Mundial, com forças aliadas e japonesas sofrendo dezenas de milhares de baixas enquanto lutavam pelo controle da segunda maior ilha do mundo.
Mais mortal do que o fogo inimigo, porém, era o próprio ambiente: muito mais japoneses morreram de fome ou doente do que em combate. Numerosas operações foram impossibilitadas pelas dificuldades de manter as linhas de abastecimento através de quilômetros de selva espessa, encostas íngremes e rios caudalosos.
As vítimas aliadas teriam sido muito mais elevadas se não fosse pelo trabalho dos habitantes nativos da ilha, milhares dos quais serviram como maqueiros e transportadores de suprimentos, carregando homens feridos e material por longas distâncias através de terrenos aparentemente intransponíveis, às vezes sob fogo inimigo.
Os soldados australianos feridos e doentes na trilha de Kokoda passaram a chamar os maqueiros de "Anjos Fuzzy Wuzzy" por causa de seus cabelos encaracolados e volumosos e pelo cuidado e a compaixão que tinham em salvar vidas.
Os "Anjos" acabaram inspirando profunda admiração nos homens que salvaram, com alguns até escrevendo poemas sobre sua força e suavidade e são muito reverenciados até hoje na Austrália.
Faole Bokoi, o último membro conhecido dos Fuzzy Wuzzy Angels, morreu em 2016. Ele tinha 86 anos.
Fotos: Acervo da Biblioteca do Congresso Americano.
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