Desde a primeira vez que li sobre o obscuro caso dos "ataques acústicos" em Cuba contra diplomatas americanos e canadenses, bem como seus familiares, que sentiram sintomas inquietantes de origem desconhecida durante o mesmo período, não dei muita atenção, pois parece um cenário digno de uma novela de espionagem, alimentando os rumores e evocando as lembranças dos complôs mais extravagantes da Guerra Fria, mas agora o próprio governo americano e canadense confirmam a história. |
Os EUA asseguraram que ao menos 21 de seus funcionários públicos em Havana foram vítimas destas agressões e o Canadá contabilizou 5 casos a mais. Enquanto isso o regime castrista nega qualquer envolvimento e a Rússia de Putin volta a aparecer em cena. O governo americano convocou a retirada da maior parte de seus diplomatas e funcionários e está considerando fechar sua embaixada em Havana em resposta aos supostos ataques.
- "É um assunto muito sério", declarou o secretário de Estado Rex Tillerson.
Segundo revelou a CBS, fechar a embaixada é uma das medidas consideradas pela Administração Trump depois dos "incidentes" que ocorreram entre o final de 2016 e começo de 2017. A principal hipótese ventilada é que alguém, talvez um terceiro, realizou um ataque sônico com um dispositivo oculto dentro ou fora da Embaixada dos Estados Unidos em Havana.
Entre os temores da ciber-espionagem russa, o hack das eleições americanas e a ameaça nuclear no mar do Japão, qualquer um diria que voltamos à Guerra Fria. Mas as perspectivas poderiam piorar à medida que são conhecidos os novos detalhes sobre o desconcertante caso.
Conquanto o Departamento de Estado vem guardando silêncio, as informações que chegam dos Estados Unidos, Canadá e Cuba coincidem em que um número significativo de pessoas foram atingidas em Havana por um "dispositivo sônico" que operaria fora das frequências audíveis. Os históricos médicos revisados pela CBS News revelam sintomas que vão desde a perda auditiva, náuseas, dores de cabeça e problemas de equilíbrio até um grave diagnóstico de lesão cerebral traumática leve com provável dano ao sistema nervoso central. A Associated Press acrescenta inflamação do cérebro, tonturas e zumbidos.
Por sua vez, a CNN revelou que ao menos dez americanos e cinco diplomatas canadenses, junto com seus familiares, foram tratados por sintomas consistentes com um ataque de arma sônica desde o final de 2016. Alguns funcionários públicos asseguraram ter sentido vibrações e um ruído ensurdecedor, similar ao zumbido de um enxame de insetos ou o chiado produzido ao riscar um metal antes do aparecimento dos sintomas, enquanto outras vítimas sustentam não ter ouvido nada.
Vários diplomatas vão abandonando seus postos à medida que o governo dos Estados Unidos tenta esclarecer o assunto. Segundo depoimentos recolhidos pela agência AP, os ataques pareciam vir sempre de noitinha, em rajadas de um minuto.
Apesar de acharem que foram causados por um dispositivo sônico localizado dentro ou fora da embaixada dos Estados Unidos, ou próximo das casas dos diplomatas, as inspeções, autorizadas por Raul Castro, do FBI e da Real Polícia Montada do Canadá nestes lugares não descobriu nada de anormal. Ademais, segundo um relatório, um dos incidentes ocorreu no hotel Capri de Havana.
Ninguém sabe como ocorreram os ataques nem quem são os responsáveis. Sabe-se apenas que o governo dos Estados Unidos expulsou discretamente dois enviados cubanos do território americano em maio, mas o governo de Raul Castro negou qualquer irregularidade. Em qualquer caso, os diplomáticos feridos viviam em lares oferecidos pelo governo cubano, e seria estranho que os canadenses tenham sido objeto de ataques por parte das autoridades cubanas quando o governo do Canadá é especialmente crítico aos embargos comerciais dos Estados Unidos contra o país insular -sem contar com que os canadenses constituem uma porção importante do mercado turístico cubano-.
Também não parece ter nenhum motivo para que Cuba corra o risco de arruinar suas novas e frágeis relações diplomáticas com os Estados Unidos. Tudo isto vem estimulando as teorias de que um terceiro, talvez outro Estado, poderia estar envolvido.
A verdade é que as especulações abundam em ambos lados do Estreito da Flórida. Alguns apontam à iniciativa de agentes cubanos desertores, outros um terceiro país interessado em danificar os relações entre Cuba e Estados Unidos, como Rússia ou Coréia do Norte.
O secretário de Estado Rex Tillerson disse em agosto que seu governo considera às autoridades cubanas responsáveis por descobrir o culpado por trás dos ataques, e assegurou que está em contato frequente com Cuba para resolver este assunto de uma maneira satisfatória.
Por agora nem sequer está claro que exista uma tecnologia tão avançada para realizar este tipo de ataques sônicos. Joseph Pompei, ex-investigador do MIT e especialista em psico-acústica, explicou que alguém teria que submergir sua cabeça em uma piscina cheia de transdutores ultrassônicos muito poderosos para que o som causasse algum dano cerebral.
A hipótese mais recorrente assinala a possível incidência de um sistema de escuta defeituoso ou mal controlado, uma opção reforçada pela reputação de "grandes ouvidos" de Cuba. No entanto, esta é recusada por especialistas que sublinham que um sistema de escuta não é desenhado para a difusão. E, segundo a mídia americana, os investigadores do FBI não encontraram evidências durante as minuciosas buscas realizadas nos lares das vítimas.
Em New Scientist, Toby Heys da Universidade Metropolitana de Manchester no Reino Unido especulou sobre um teórico dispositivo que emitiria ondas de som abaixo do alcance da audição humana como possível responsável, mas acha que tal dispositivo requereria uma ampla faixa de subwoofers.
Outra possibilidade mais discreta, ainda que muito precisa, seria usar os ultrassons para criar ondas sonoras dirigidas diretamente à cavidade do ouvido a uma frequência acima da faixa audível. Mas nesse caso estaríamos falando de uma arma digna do melhor James Bond.
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