Com frequência dizemos "eu acho que isto é assim". Também abusamos do "eu penso que as coisas são assim". Inclusive atrevemo-nos a manifestar um "eu sinto que isto é assim ou assado". Mas por que usamos tanto uma fórmula que em realidade não proporciona nenhuma informação? É óbvio que, ao dar uma opinião, estamos dizendo o que pensamos, o que cremos e o que sentimos. É possível que usemos tais fórmulas como cortesia (como faz o ex-oficial do Pentágono no post anterior): mostrando o que dizemos só como nossa opinião, não como a verdade revelada. Mas muitas vezes, as pessoas usam este expediente de forma presumida e pedante. Ledo engano! |
No bojo deste tipo de argumentação estamos cometendo dois erros. O primeiro, mostrar falta de confiança. Em segundo lugar, dar (muita) importância a nossas opiniões, quando o que deveríamos fazer é tratar de mencionar fontes, experimentos, etc.
Isso ficou claro para mim depois de anos como divulgador científico e muito mais como blogueiro. Toda vez que escrevemos (ou falamos) "eu creio", "eu penso" ou "eu sinto", como autor de um texto, mostramos falta de confiança no leitor. Seu uso faz com que o leitor questione a autenticidade e a honestidade do autor. Estas palavras fazem com que o escritor soe inseguro de si mesmo e do tema discutido. Também obriga o escritor a abusar dos pronomes, e essas são más notícias.
Debilidade de autor
Tentando averiguar esta tese, eu verifiquei vários textos em que eu (ou outro editor) uso esta fórmula falha e o resultado é simplesmente espantoso. Explicando: há ferramentas de análise web, com base no registro do uso do mouse e da barra de rolagem, que permitem saber em que linha o leitor deixou de ler um determinado texto. Conseguem adivinhar? Quase 50% das desistências de leituras estão conectadas às linhas que têm frases com verbos em primeira pessoa "creio", "penso" e "sinto".
Outra comprovação vem do programador James Pennebaker, que analisou mais de 400.000 textos para verificar o que revela nossa escolha de palavras sobre nós. Quando James analisou as transcrições militares, sua equipe constatou as faixas relativas de indivíduos baseadas completamente em padrões de expressão.
O que nos diz isto? Nossa escolha e uso de pronomes revela como vemos a nós mesmos e como vemos nossas relações com os demais. Em resumo, revela nossa personalidade ao leitor ou ao interlocutor. Isto está bem nos casos em que escrevamos uma autobiografia ou discutamos assuntos de ordem pessoal, mas, nos outros casos, na maioria das vezes, só serve para debilitar nosso árduo trabalho.
O uso de palavras como "creio" ou "penso" muda o enfoque da oração. Em vez de centrarmos no tema, centramos no autor. É como uma grande luz de neon cintilante que diz:
- "Olá, eu sou o autor, estou aqui sentado falando de minhas opiniões!"
Um exemplo seria: "Acho que o pesquisador tem razão aqui". Em mudança, poderíamos substituir por: "O pesquisador tem razão aqui".
Levando em conta que o mundo é um lugar cada vez mais complexo e há informação disponível em forma de turbilhão, resulta difícil que saibamos de tudo. De modo que, ao opinar, mais que verter o que pensamos, deveríamos contar o que lemos, o que reflete um estudo, o que sugere uma estatística ou um experimento. Porque, na verdade, sua opinião, a minha e a de qualquer um, vale pouco.
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Comentários
O pesquisador tem razão aqui».
Nessa mudança ficamos sem condições de questionar qualquer coisa que o «pesquisador» tenha escrito. Com isso ele se torna Onisciente, e ai eu não vou estar dando minha opinião, apenas endeusando o pesquisador, o que sequer seria necessário.
Interessante. Pensando aqui, quando o tema é contado em primeira pessoa, me parece que foi alguém normal, sujeito a erros que escreveu aquilo. Questiono automaticamente sua veracidade. Ao contrário, quando se retira a pessoa do texto, parece que foi uma «autoridade maior» (oi!?) que escreveu. kkk