As águas do rio Guaire recebem os resíduos industriais de Caracas. Ali, garotos e adultos buscam restos de metal que possam ter algum valor de venda e assim conseguir alimentos para suas famílias. Além do perigo sanitário, em matéria de minutos a chuva pode aumentar a correnteza e arrastá-los a uma morte certa. As imagens de venezuelanos pobres buscando comida no lixo em Caracas virou um símbolo da profunda crise econômica que atravessa aquele que foi um dos países mais ricos de América Latina. |
Menos visíveis são os jovens e crianças que buscam nas sujas águas do Guaire qualquer pedaço de metal com o qual possam ajudar a alimentar suas famílias. Em alguns momento parecem apenas estar brincando sem camisas e rindo em grupos, mas em outros o sol ardente reflete em suas quando se agacham, retiram rochas fazendo caretas e as lançam a um lado para coletar depois.
A água está sempre muito suja, já que o canal recolhe a água da chuva das ruas e tubulações, bem como resíduos industriais e algum tesouro ocasional que alguém teve o azar de perder na sarjeta.
- "Desde que lembro, o Guaire é um bueiro a céu aberto", comentou um dos jovens, Alejandro Velasco, nascido em Caracas e professor de História desempregado. - "Hoje parece refletir a profundidade e extensão do desespero que desatou esta crise em particular."
Depois de quase duas décadas de chavismo, a produção de alimentos e petróleo se afundaram no meio de uma deficiente gerenciamento de recursos estatais, e a queda dos preços mundiais do petróleo consumiu muitos venezuelanos no desespero.
A cada amanhã, os "garimpeiros descem até o Guaire vindos de seus bairros na ladeira. Alguns envolvem as pontas dos dedos com fita adesiva para se proteger de cortes e infecções, ignorando qualquer possível efeito prejudicial em longo prazo de passar horas dentro da água poluída todos os dias.
O falecido presidente Hugo Chávez admitiu em 2005 o péssimo estado do rio e prometeu uma dragagem total, prometendo na televisão que logo se banharia no Guaire. Ficou na promessa.
Alguns trechos do rio cheiram a esgoto, enquanto outros tem um cheiro agressivo que lembra óleo diesel, um fedor que fica no nariz e nas roupas durante horas após afastar de suas margens.
Um dos jovens "garimpeiros", Angel Villanueva vive com seu pai, um militar aposentado, em um dos bairros mais pobres e perigosos de Caracas. Ainda não engoliu a morte da mãe por um infarto cerebral. Ela queria que ele fosse para a universidade.
Ele já tentou ganhar algum dinheiro trabalhando, mas em formação só conseguiu empregos mal pagos pelo Estado, como varrer as ruas. O salário mínimo para empregados públicos na Venezuela equivale a menos de 23 reais ao mês no cambio negro. A comida tornou-se cada vez mais escassa e difícil de pagar, quase um luxo para os abonados. Estima-se que 75% dos venezuelanos perdeu uma média de 8,7 quilos no ano passado, segundo uma sondagem recente.
Angel começou no rio faz seis meses, convidado por um amigo. Em seu primeiro dia conseguiu 20 dólares e ficou animado, pese às gozações em sua comunidade dos que lhe dizem que se mantenha bem longe porque cheira como "homem do limpa-fossa".
Os jovens não conhecem ninguém que tenha morrido em uma inundação, mas abundam as histórias de outros que foram arrastados e ninguém voltou a vê-los. As nuvens carregadas e o surgimento de mais lixo do que o normal é um indício de que o rio está subindo, e tem menos de 15 minutos para sair.
Quase todos sonham em ir embora da Venezuela para encontrar um emprego melhor. - "Talvez para o Brasil", arrisca um deles. Mas por enquanto vão ganhando a vida de forma arriscada garimpando no lixo do Guaire.
Fonte e Fotos: AP.
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Parabéns pro mundo que vivemos...
:-/