Faz 150 anos, enquanto estudava os mecanismos da seleção natural e artificial, Charles Darwin percebeu que os animais domesticados apresentavam uma constante com respeito a seus parentes selvagens: não só eram menos agressivos, senão que tinham traços mais suaves, como orelhas caídas, mandíbulas menores e caras "infantis". Durante algum tempo, este fenômeno conhecido como "síndrome da domesticação" foi um mistério para os cientistas, mas agora há indícios do motivo. |
Sempre esteve muito claro que os humanos, ao selecionar determinados animais com características menos agressivos para reproduzir, estavam condicionando o processo, mas que mecanismo fisiológico estava por trás daquelas mudanças anatômicas?
Como explicam em um fantástico vídeo de Skunk Bear, hoje sabemos que o processo de seleção tem a ver com um grupo de células embrionárias chamado crista neural e o desenvolvimento das glândulas suprarrenais que regulam a resposta hormonal ao estresse.
Ao selecionar indivíduos que segregam menos adrenalina estamos selecionando não só àqueles animais mais pacíficos, senão àqueles com uma crista neural menos desenvolvida. As células desta estrutura não só controlam o desenvolvimento da glândula suprarrenal; durante o desenvolvimento embrionário migram a diferentes partes de corpo e controlam também a formação da mandíbula, a cor da pele, a forma do crânio, os dentes e as orelhas.
Esta modulação da crista neural explicaria parcialmente por que as espécies domesticadas tendem a ter as orelhas caídas em frente a seus parentes selvagens.
Ainda que no vídeo não mencionem, há um famoso experimento realizado com raposas pelo cientista russo Dmitry Beliayev a partir de 1959 que ilustra perfeitamente este processo. Intrigado pelo mecanismo de domesticação dos cães, Beliayev selecionou um grupo de raposas siberianas e começou a cruzá-las e a ficar só com aquelas que mostravam menos agressividade com seus cuidadores.
Como o MDig já contou no artigo "O experimento russo que começou há 60 anos e que pode fazer das raposas um animal de estimação", depois de 10 gerações os novos filhotes começaram a mostrar pelagens com padrões manchados, rabos arrepiados e orelhas... caídas, tal e qual tinha predito Darwin.
O experimento continuou até nossos dias e as raposas, após trinta gerações, estão completamente domesticadas, não têm medo das pessoas e se mostram brincalhonas, além de mostrar as características anatômicas típicas da "síndrome de domesticação".
Se a hipótese da crista neural é correta, significaria que a maioria das mudanças observadas durante a domesticação são um subproduto acidental da seleção do comportamento dócil. Não é fascinante?
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