No ano de 1987 começou a correr um rumor nos Estados Unidos que dizia mais ou menos assim: "Depois de um longo dia de trabalho, não há nada melhor do que sentar em um bar, relaxar e desfrutar de uma agradável e espumosa garrafa de líquido amarelo previamente armazenada em um corpo humano". O líquido amarelo evidentemente se tratava da urina e a garrafa era uma Corona, a marca de cerveja mexicana #1. |
Para aqueles que não conhecem, Corona é uma lager suave que nasceu em 1925 com o Grupo Modelo S.A., fundado no México. Esta "loira" converteu-se em uma marca nacional, e a cervejaria passou a adquirir com o tempo cervejas regionais de outras marcas assim como aconteceu com algumas marcas nacionais.
No final da década de 1970, a empresa decidiu que era hora de entrar no concorrido mercado americano e sete anos depois a Corona já ocupava nada menos que o segundo posto no ranking de cervejas importadas do país -a primeira era a Heineken-. Ainda que a cerveja só tenha chegado aos Estados Unidos em 1979, seu aumento foi quase imediato. Com um bom marketing que a vendia como a cerveja do "surfista da Califórnia" ou do tipo de vida na praia a transformou rapidamente em uma das duas grandes favoritas.
Parecia que nada poderia deter a Corona Extra mas, inesperadamente, um ano depois os bares e estabelecimentos comerciais começaram a se negar à vendê-la, as vendas desabaram, e os consumidores americanos de repente se voltaram contra a popular cerveja. Que demônios tinha ocorrido? O maldito rumor que se estendeu como pólvora que assegurava que a urina era um de seus componentes.
Supostamente, os revendedores rivais de cerveja tinham "vazado" que os funcionários mexicanos usavam contêineres de cerveja destinados a ser exportados aos Estados Unidos como urinários. Supostamente também, esta era a forma em que os trabalhadores se vingavam de seus vizinhos do norte e seus rivais mais ferozes. Ou algo assim dizia a lenda.
Durante um tempo, esta mentira bastante óbvia ganhou grande crédito entre os grandes bebedores de cerveja. Em algumas cidades, as vendas diminuíram até quase 80% e os estabelecimentos de todo o país começaram a devolver os envios. Ainda que nem todo mundo acreditou no boato, um número suficiente de pessoas entrou em pânico e começaram a fazer campanhas contra a empresa, tanto, que sua imagem de marca e as vendas foram afetada seriamente.
Foi tal a situação de crise, que a companhia que importava a Corona para quase todos os Estados Unidos decidiu pesquisar o assunto para ver de que maneira podiam resgatar a reputação da marca. Depois de várias semanas de investigação rastreando a origem do rumor, a revendedora encontrou uma tal de Luce & Son Inc., o revendedor da Heineken com sede em Nevada, quem provavelmente buscavam reduzir a crescente ascensão da Corona no mercado dos Estados Unidos.
A empresa foi processada por danos e prejuízos, e finalmente chegaram a um acordo pelo qual a Luce & Son deveria publicar uma declaração pública surpreendente que ficaria para sempre nos anais da história do marketing; negavam a veracidade das acusações, isto é, que a Corona não era distribuída com o xixi de seus funcionários.
No entanto, o dano foi bem maior do que esperavam. A calúnia se estendeu por toda a nação e chegou inclusive a respingar no Brasil quando ela aportou por aqui. A Corona bombardeou à imprensa com comunicados sobre o engano e gastou mais de 500.000 dólares em todo tipo de programas de televisão e jornais para resgatar a sua imagem.
Hoje conseguiu e com sobras. A Corona reconstruiu totalmente sua cota de mercado e no final dos anos 90 já era a cerveja importada mais vendida dos Estados Unidos, mantendo o posto até hoje, quando é a quinta mais vendida no computo geral. Já a Heineken é a segunda importada e a décima mais vendida, respectivamente.
Quanto a como conseguiram espalhar semelhante ideia no imaginário coletivo, o caso desmascarou um momento e uma época cinza nos Estados Unidos: os temores xenófobos sobre qualquer coisa que vinha do México.
Em realidade, o rumor foi nutrido e amplificado graças a esses estereótipos racistas contra a cultura latina. A Corona precisou de anos para dissipar uma mentira que, possivelmente, se viu reforçada pelo desenho de sua garrafa e a forma em que o vidro transparente mostra a cor amarela da cerveja.
A Corona realmente é até bem gostosinha para servir de intermediário, mas aquela tal de Sol... "meu Santo Onofre, livrai-me do vício", ô cervejinha mais ou menos! Se tivessem feito a mesma história, mas com ela, muito mais pessoas teriam acreditado.
Fonte: RealClear.
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Comentários
Interessante...!
Será que é boa ?
A Corona cresceu, novamente, com a série Velozes e Furiosos