Morre a youtuber espanhola que assegurava ter vencido o câncer rezando com dieta vegana

Faz mais ou menos um par e meio de anos que a Ciência Brasileira foi obrigada a usar nariz de palhaço devido a uma polêmica em relação ao composto químico orgânico de nome fosfoetanolamina (ou fosforiletanolamina). Milhares de especialistas de Facebook exigiam a liberação da "panaceia" para tratamento do câncer, ainda que havia claros indícios de que não era eficaz. Através de uma canetada o medicamento foi liberado e, depois de uma lenga-lenga político-jurídica, bloqueado pelo STF, ainda que alguns continuam "acreditando" em sua eficácia.

Este é o problema: a crença pode fazer muito pouco para combater esta neoplasia maligna. Foi assim que muitos pacientes aflitos se converteram em alvo fácil de oportunistas, sites de cura pela natureza, e toda sorte de charlatães. Ao final, nos testes de laboratório com o composto, a montanha acabou parindo um rato: o efeito da fosfoetanolamina nos voluntários foi tão decepcionante que os testes foram suspensos em meados de 2017. Enquanto isso, nas redes sociais: silêncio! Somente alguns poucos gatos pingados conpiranoicos, sem coisa melhor para fazer, agora questionam "a honestidade dos médicos" e "a validade dos testes".

É compreensível o desespero e a angústia dos familiares e pacientes que são acometidos por esta maldita doença. Nesses casos não é incomum que recorram a poções mágicas, fórmulas milagrosas ou até orações, mas também não é raro que essas condutas se convertam em situações deletérias, levando o paciente a abandonar seu tratamento que, de fato, pode ser efetivo ou que pelo menos proporcione algum tipo de alívio e melhoria na qualidade de vida.

Foi mais ou menos isso o que aconteceu com Mari Lopez, conhecida por muitos por seus vídeos no YouTube onde afirmava que a dieta crudivegana, em essência suco de limão e gengibre, junto a sua fé cristã e as orações, a salvaram da morte em sua luta contra o câncer. Não salvaram, a mulher faleceu esta semana.

Nosso intuito aqui não é desmerecer a dieta ou a fé de ninguém -cada um que siga a sua e que seja feliz e saudável-, senão que alertar e criar consciência sobre este tipo de afirmações tão perigosas quanto peregrinas. Mari se tornou famosa por utilizar um canal com um alto-falante sem igual como é o YouTube, dizia ter se curado por completo de uma fase do câncer por dois motivos. O primeiro, as orações, promoveram a grande mudança em sua vida, e, segundo, uma dieta vegana onde afirmava ter mudado seus hábitos alimentares a base de "sucos milagrosos" que lhe curaram a doença em 90 dias e lhe fizeram renunciar a sua sexualidade lésbica.

Finalmente, sua sobrinha Liz publicou um vídeo onde explica que sua tia morreu faz alguns dias. Ao que parece, o câncer se espalhou por seu sangue, pulmões e fígado, provocando a morte no começo desta semana.

Apesar da Internet ter nos proporcionado milhares de coisas boas, um turbilhão de notícias e informação, também trouxe em seu bojo este tipo de conteúdos compartilhados nas redes sociais, que não fazem mais do que pôr em perigo a saúde de muitíssimas pessoas que, devido a sua doença e ao desespero provocado por ela, se deixam guiar por estes personagens que parecem ter a chave da salvação, mas que não são mais que uns farsantes -às vezes inadvertidamente porque acreditam no que falam-, que buscam chamar a atenção.

Quer rezar? Reze pelos médicos e enfermeiras que estão te atendendo e administrando a quimioterapia. Quer tomar sucos de frutas e verduras? Bacana! São excelentes para recuperar as forças depois dos efeitos colaterais da quimioterapia e radiações, que são, infelizmente, os únicos métodos conhecidos e comprovados que podem curar.