Glutationa, o perigoso antioxidante que mulheres de todo o mundo estão usando para clarear a pele

O ser humano é um bicho realmente esquisito e desassossegado. Enquanto alguns passam horas cozinhando sobre o sol escaldante na praia para conseguir um bronzeado que escureçao o máximo sua pele, outros fogem dos raios do sol como o diabo foge da cruz para ter uma pele mais clara. Inclusive, recorrem a métodos duvidosos que, segundo advertem alguns especialistas, podem deixar graves sequelas. A última moda para conseguir um tom de pele mais claro consiste em tomar cápsulas ou injeção de glutationa, o chamado "antioxidante mestre".

Salões de beleza na América do Sul, do Norte, Europa, Ásia, Oriente Médio e África oferecem este tipo de tratamento com a promessa de "clarear" a pele. É vendido como um "método seguro" para mudar o tom de todo o corpo e o preço varia muito em relação a demanda ou a proibição do mesmo no país.

O que é glutationa?

É um antioxidante hidrossolúvel, reconhecido como o tiol não protéico mais importante nos sistemas vivos. Tata-se de um tripéptido linear encontrado nas células e cuja função é proteger da oxidação. À medida que envelhecemos, nosso corpo produz cada vez menos.

Foi por isso que nos últimos anos cresceu sua fama como agente que ajuda a atrasar os sinais da idade e a indústria cosmética o abraçou como ingrediente de suplementos como cápsulas, soros, cremes antirrugas e injeções.

Mas a glutationa tem outro efeito que também despertou muito o interesse da indústria da beleza: supostamente inibe a produção de melanina, o pigmento que determina nossa cor de pele. Foi assim que surgiram comprimidos, sabonetes e cremes com este antioxidante como base que prometem clarear a pele.

A verdade é que os estudos sobre a eficácia da glutationa para clarear a pele são limitados e centram-se na administração oral deste antioxidante, mas alguém sempre inventa outro jeito de aplicar estas novidades poucos conhecidas do público e isso pode ser problemático.

Bebês mais claros

Via: NYPost

Vejam o caso de Gana, na África Ocidental, onde há uma perigosa tendência de mulheres grávidas tomando glutationa para clarear a pele nos últimos meses, com o intuito de tornar a pele de seus bebês mais clara também, enquanto ainda estão no útero.

Apesar dos alertas das autoridades médicas sobre os possíveis efeitos colaterais em um feto, que podem incluir danos físicos aos membros; e da falta de regulação, os comprimidos de glutationa entram em grande quantidade no pais via contrabando nas bagagens aéreas e passageiros.

No entanto a agência de regulação sanitária dos Estados Unidos (FDA) publicou uma advertência sobre este componente dizendo que é potencialmente inseguro e ineficaz para a maioria de suas aplicações, além de que podem conter ingredientes desconhecidos ou contaminantes que podem em toda a regra causar danos a saúde de um bebê e da mãe, com reações alérgicas, causar câncer e perturbar funções normais da pele.

A origem da tendência

- "Só sendo branco você vencerá", assim a empresa de cosméticos tailandesa Seoul Secret promovia um tratamento de clareamento da pele em sua campanha publicitária que foi muito criticada no mundo por ser considerada racista. Exatamente por meio de comprimidos de glutationa, prometia às mulheres ter uma pele de porcelana e assim, chegar ao sucesso. O produto chama-se "Neve" e tem à atriz tailandesa Cris Horwang como figura central.

- "Em meu mundo há uma dura concorrência. Se não me preocupar comigo mesma, tudo o que construí, e a brancura que investi em mim, poderia desaparecer", diz.

Enquanto fala, seu sorriso desaparece à medida que sua pele desvanece-se pouco a pouco. Uma atriz com a pele clara aparece junto a ela. Horwang olha sua pele negra e diz:

- "Se eu fosse branca, ganharia."

Os produtos de clareamento para a pele são em realidade muito comuns no Sudeste Asiático, sobretudo na Tailândia, onde a pele mais escura é com frequência associada com os trabalhadores rurais -a classe baixa tailandesa-. É por isso que o país tem uma enorme indústria de produtos para clarear a pele bem como clínicas cosméticas para ajudar os clientes a emular a cútis de porcelana da elite de Banguecoque.

Mas como uma tendência tonta como essa chegou à Africa? Ignorância, suponho. A pressão da moda com padrões estritos da loira de olho claro magrela acaba dirigingo os jovens para este beco. E não é só na África, um estudo de 2016 chegou a conclusão que quase 50% das loiras não são loiras.

A coisa se torna ainda mais complicada quando sabemos que estes comprimidos podem ser ademais um engano porque para clarear a pele teriam que destruir os melanócitos -células produtoras de melanina-, ou seja não há nada que realmente clareie a pele de forma sistêmica.

Segundo os dermatologistas, os antioxidantes da glutationa podem ajudar a evitar a hiperpigmentação por excesso de melanina; isto é, podem colaborar com uma melhor qualidade da pele, textura e brilho, mas não clareiam nada, isso é um engano.

Um adágio entranhado nas mentes de muitos africanos desde uma idade precoce diz que "Se é branco, está bem", uma crença que certamente corroeu a autoestima de milhões de pessoas. Até que isto não mude, nenhuma proibição oficial nem campanha de informação pública impedirá que as pessoas se arrisquem a sofrer graves danos a sua saúde na busca do que acham que é a beleza.