Imagine que você é um cérebro, convida o neurocientista cognitivo Anil Seth, e que está encerrado dentro de um crânio tratando de compreender o que está acontecendo no mundo. Você sabe que está em um lugar sem luz nem som, e a única coisa que tem disponível são centenas de milhares de impulsos elétricos que por sua vez se encontram relacionados com o mundo exterior. |
Para Seth trata-se de uma forma de explicar a percepção, um processo em que o cérebro deve não só combinar os sinais sensoriais, as expectativas ou as crenças do que está acontecendo no meio ambiente, senão também reagir em função disso.
Em outras palavras, o que percebemos, segundo Seth, é a interpretação de nosso cérebro em relação com o mundo. No entanto, em que momento deste processo surge a consciência, aquilo que permite compreender que você é você e que o que se percebe, sente e pensa, importa?
Em uma conferência TedTalks, Seth questiona-se o que é e de onde surge a consciência, e inclusive chega a sugerir que se trata no fundo de uma alucinação do que resulta um dos mistérios mais incógnitos da ciência e da filosofia. Pois consciência não é sinônimo de percepção nem de inteligência, senão da experiência tanto da alegria como do sofrimento enquanto se combina com a atividade de alguns milhares de milhões de neurônios. Em suas palavras:
Atualmente gostaria de pensar na consciência de duas maneiras. Há experiências do mundo que se encontra ao nosso redor, cheio de vistas, sons e aromas, é multisensorial, panorâmico, 3D, um filme completamente imersivo e interno. Surge então o self consciente. A experiência específica de ser você ou de ser eu. O protagonista deste filme interno, e provavelmente o aspecto da consciência ao que mais nos aderimos.
De maneira que existe uma grande diferença entre a percepção e a consciência: enquanto a primeira recebe a informação do exterior sem se alterar em nenhum momento, a segunda implica um intercâmbio de experiências externas e internas. Isto é, a segunda encarrega-se de gerar ativamente emoções, pensamentos e crenças como resposta aos estímulos adquiridos do meio ambiente.
Então, o que acontece quando a gente recebe informação do exterior e a altera internamente em função da interpretação pessoal -como aquela brincadeira do telefone–? Para Seth, trata-se de uma forte predição perceptual, que pode em alguns casos possuir traços de alucinações causadas por um estado alterado da consciência -como a psicose-. Em outras palavras:
Se a alucinação é um tipo de percepção descontrolada, então a percepção do aqui e do agora é também uma forma de alucinação, mas uma alucinação controlada onde as predições cerebrais reinam pela informação sensorial do mundo. De fato, estamos alucinando o tempo todo, incluindo agora mesmo. E até o momento em que estamos de acordo sobre nossas alucinações, chamamos realidade.
De alguma maneira, a realidade que a gente vive se torna uma alucinação constante que não só nos ilustra as coisas senão, também, a razão de sua existência. Portanto, também consegue explicar a presença de um self em cada indivíduo:
Para a maioria de nós, a experiência de ser uma pessoa é familiar, algo tão unificador e tão contínuo que é difícil imaginar outra coisa. Mas não deveríamos aceitar como estabelecido. Há, de fato, muitas maneiras diferentes de experimentar um self.
Há uma experiência de ter um corpo e de ser um corpo. Estas experiências de perceber formam o mundo e a perspectiva de uma pessoa. Há experiências que pretendem fazer as coisas e outras que pretendem explicar a causa das coisas que acontecem no mundo. E há experiências de ser uma pessoa contínua e característica com a passagem do tempo, construída por uma faixa rica de memórias e interações sociais.
Há algo mais. Não só experimentamos nossos corpos como objetos no mundo desde o exterior, também experimentamos desde o interior. Todos experimentamos o sentido de ser um corpo de adentro. Uma série de sinais sensoriais vêm do interior do corpo que continuamente se encontram dizendo ao cérebro sobre o estado dos órgãos internos, como está indo ao coração, como vai a pressão sanguínea, muitas coisas. Este tipo de percepção, que é chamada interocepção, foi pesquisada em excesso. Mas é sumamente importante, porque a percepção e a regulação interna do estado do corpo é o que nos faz estar vivos.
[...] A percepção do estado interno do corpo não se trata de adivinhar o que há por aí, senão de conter o controle e a regulação -manter as variáveis fisiológicas com vínculos tão finos que são compatíveis com a sobrevivência-. Quando o cérebro usa predições para adivinhar o que há lá fora, percebemos objetos como a causa das sensações. Quando o cérebro utiliza predições para controlar e regular coisas, então experimentamos como esse controle está indo para bem ou para mal.
Portanto, a maioria de nossas experiências básicas de ser, de nos encontrarmos em um organismo personificado, encontram-se profundamente arraigadas nos mecanismos biológicos que nos mantêm vivos. E quando seguimos esta ideia, começamos a ver nossas experiências conscientes, principalmente desde que dependem dos mesmos mecanismos da percepção preditiva, ambas guiadas por nossa motivação intrínseca de sobrevivência. Experimentamos o mundo e a nós mesmos através e graças a nossos corpos viventes.
Isto quer dizer a consciência é o resultado da experimentação das sensações de nosso corpo levadas a sua interpretação positiva, negativa ou neutra por nossa mente como mecanismo de sobrevivência.
Devido a isso, quando a interpretação -e inclusive a percepção- não combina com o que está ocorrendo ao nosso redor, é quando pode chegar a surgir a noção da alucinação -uma peculiaridade que, em caso de não estar sob efeitos de alguma substância psicotrópica, pode ser associado com depressão maior, psicose ou esquizofrenia–.
Talvez esta seja a razão principal pela qual a meditação pode ser uma ferramenta para tentar um bem-estar maior de qualquer indivíduo: é nesse momento em que tanto a mente como o corpo encontram uma sincronia no aqui e agora, resultando na harmonia do universo interno.
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