Uma meta-análise com dezenas de estudos, realizada a um par de anos, concluiu que a crença em Deus é associada com pontuações mais baixas nos testes de Quociente Intelectual e ainda que seja verdadeiro que há pessoas religiosas muito inteligentes, se considerarmos a média, não é uma regra. Agora, um novo estudo publicado na revista científica Frontiers in Psychology se soma a esta ideia e trata de explicar a razão desse desvio cognitivo. |
Está mais ou menos estabelecido que a religiosidade esteja correlacionada inversamente com a inteligência, mas ainda não sabemos muito bem a razão que subjaz isso. Ademais, sabê-lo poderia ser algo importante para as gerações vindouras, porque parece que a proporção de pessoas com crenças religiosas está crescendo: segundo a Pew Research, se as tendências atuais mantiverem a escalada, as pessoas que dizem que não são religiosas constituirão só 14% da população mundial em contraposição aos 17% de hoje.
Mas isso não se deverá ao fato do aumento do cristianismo (que manterá o mesmo percentual de 34%), senão que ao crescimento do islamismo, que deverá alcançar os mesmo números do cristianismo. A maioria dos cristãos estará concentrada na África subsaariana e na América Latina.
Segundo o estudo mencionado, talvez as pessoas religiosas tendam a confiar mais na intuição. Portanto, em vez de ter uma inteligência geral deteriorada, poderiam ser comparativamente menos preparados só em tarefas nas quais a intuição e a lógica entrem em conflito, e isto poderia explicar os resultados mais baixos nos testes de QI.
Para provar esta hipótese, os pesquisadores do estudo entrevistaram mais de 63.000 pessoas on-line, que tinham de completar um conjunto de 12 tarefas cognitivas de 30 minutos que mediam o planejamento, o razoamento, a atenção e a memória de trabalho. Os participantes também indicavam se eram religiosos, agnósticos ou ateus.
Conforme relatado anteriormente, os ateus obtiveram melhores resultados em geral que os participantes religiosos, inclusive após controlar fatores demográficos como a idade e a educação. Os agnósticos tendiam a se localizar entre os ateus e os crentes em todas as tarefas.
No entanto, ainda que os pesquisados religiosos tenham obtido piores resultados, em geral, nas tarefas que requeriam razoamento mostraram diferenças muito pequenas na memória de trabalho. As questões onde devia deixar de lado a intuição e só usar o raciocínio dedutivo também foram as piores para os crentes -o que também pode explicar por que os cientistas abraçam menos a religião-.
Se, como sugere este novo estudo, a crença religiosa predispõe as pessoas a depender mais da intuição na tomada de decisões, e quanto mais forte for sua crença, mais pronunciado é o impacto desta dependência, que resultado tem isto na vida diária das pessoas? Pelo momento, não há dados sobre isso. Mas, em teoria, talvez o treinamento cognitivo poderia permitir aos religiosos manter suas crenças sem confiar demais na intuição quando entra em conflito com a lógica na tomada de decisões cotidianas.
Seria uma espécie de caminho intermediário: por um lado respeitam-se as crenças das pessoas e, ao mesmo tempo, reforçam-se as debilidades cognitivas associadas. Naturalmente, para aqueles que possam sentir-se ofendidos, há que sublinhar dois pontos importantes: o primeiro, quando o estudo fala em religiosos, engloba todas as religiões, inclusive a "religião da paz" que trata as mulheres como cidadãs de segunda classe; o segundo resulta irrelevante se Deus existe ou não para contemplar esta mudança social. O que deveríamos simplesmente combater são os efeitos cognitivos perversos que supõe defender, em frente à falta de evidência, as crenças em quaisquer deuses.
Curiosamente os dados da Pew Research mostrados acima não contemplam a transformação que está acontecendo agora na Europa onde a fé já é marginal entre os mais jovens. "Europa" e "cristianismo" são dois termos que andaram obsessivamente de mãos dadas até algumas décadas atrás e uma não podia se entender sem o outro. Mas segundo uma pesquisa realizada pelas universidades St Mary's de Londres e a Católica de Paris os tempos mudaram. Rápido. Da fé que moveu fronteiras e colonizou o continente resta pouco, pois se depender dos jovens (e depende), a Europa pós-cristã já chegou.
Restam crentes? Apenas em função de onde sejam procurados. O estudo reuniu dados e informação publicados durante os últimos dois anos pela Pesquisa Social Europeia para uma faixa de idade compreendida entre 18 e 26 anos. Resultado: em países como Espanha, Dinamarca, França, Bélgica ou Hungria, mais de 50% dos pesquisados se declararam ateus ou agnósticos. Em países como Reino Unido, Países Baixos ou República Tcheca a cifra disparou acima dos 70% ou 90%.
Apenas Polônia, Lituânia, Eslovênia, Áustria ou Portugal mostram uma clara maioria de jovens (+50%) que ainda se declaram cristãos. As últimas décadas assistiram uma perda generalizada do interesse pela religião na Europa, manifestada em uma queda da assistência aos rituais religiosos, com jovens totalmente desassociados com a identidade religiosa.
Para Stephen Bullivant, encarregado de gerir e publicar o relatório, a conclusão é clara: pela primeira vez em 2.000 anos, os europeus encaminham-se para uma sociedade pós-cristã na qual os remanentes católicos, protestantes, anglicanos ou ortodoxos serão uma minoria. Os jovens perderam o interesse na fé.
Evidentemente não é assim no mundo. Nada disto indica que o cristianismo esteja em crise a nível global. A fé cristã segue aumentando nas Américas e África, mas fica claro que está perdendo espaço para o islamismo.
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Comentários
SEM DUVIDA ALGUMA ATEUS, SÃO BEM MAIS INTELIGENTES E RACIONAIS DO QUE OS IRRACIONAIS CRENTES :D !!!
Concordo com a linha de raciocínio do começo do comentário do Headbanger.
Sou ateu, e não acho que seja pq sou mais inteligente. Acho que o que me distingue é aceitar outras hipóteses (se fizerem sentido, óbvio) para o mundo que me cerca.
E por estar aberto a isso, deixo mais informações passarem pela peneira.
Talvez seja essa a diferença entre crentes e não crentes, em frente a novos fatos estamos dispostos a abraçar verdades novas e abandonar "certezas" velhas.
Isso tudo se deve ao dogmatismo da maioria das religiões.
As pessoas são proibidas de pensar e de questionar, tendo que submeter-se a uma fé cega para serem aceitos.
Com essa falta de questionamentos e de raciocínio lógico, essas áreas não exercitadas vão atrofiando-se, como tudo na natureza que não é utilizado.
É uma pena que aqueles que se tornam ateus normalmente desenvolvem um senso de intolerância e individualismo que é nocivo para a sociedade.
Seria bom que aqueles que abandonam as religiões, mantenham a filosofia.
Felizmente, há religiões que pregam a fé raciocinada e estimulam as pessoas a pensar e questionar. Um dia o mundo conhecerá o seu valor.
Tenho medo do islâ...