Ainda que esta realidade seja verificada em quase todos os países que dependem do transporte rodoviário para escoar suas safras, distribuir mercadorias e bens, levando os caminhoneiros a passar longos dias fora de casa, dizem que isso é quase uma regra no Paquistão onde os típicos caminhoneiros passam muito mais tempo com seu caminhão do que com sua esposa. O que explica por que eles querem que seus trucks de seis toneladas pareçam uma noiva. |
Esses caminhões que cruzam as rodovias nacionais do Paquistão e o país vizinho do Afeganistão são distintamente ostensivos. Os caminhões inteiros, de cima a baixo, são uma profusão de cores.
Painéis ricamente pintados contendo mosaicos de pássaros, flores, paisagens, santos e atrizes em paletas de cores hiper-saturadas adornam o exterior, enquanto flores de plástico, contas drapeadas, espelhos, fitas e veludo enfeitam o interior.
A cabine é coroada por uma proa de madeira construída sob encomenda, envolta em arte mais kitsch, enquanto uma série de sinos de metal pendem no chassi em toda a lateral.
Quando o caminhão está em movimento, esses sinos tocam como o ghungroo de uma noiva. É daí que vem o apelido de "jingle trucks" ("caminhões barulhentos"), criado por tropas dos EUA no Afeganistão.
E não são apenas caminhões. Ônibus de passageiros, caminhões-pipa, furgões de transporte, riquixás e até carrinhos de mão de vendedores são decorados psicodelicamente com cores arregaladas.
É como uma arte folclórica, uma galeria nacional sem paredes, uma exposição caleidoscópica de forma livre em movimento perpétuo.
A tradição de decorar caminhões começou na década de 1920 com a introdução do Bedfords de longa distância: um caminhão britânico com cabine arredondada e laterais de dois metros de altura que se tornaria o caminhão mais prestigiado e confiável do país por mais de metade de um século.
Originalmente, os caminhões eram pintados com o logotipo de cada empresa, para que as pessoas analfabetas pudessem reconhecer quem era o proprietário dos caminhões.
Gradualmente, esses logotipos se tornaram mais fantasiosos, extravagantes e competitivos. Na década de 1950, murais e afrescos estilizados começaram a substituí-los.
Foi somente nos anos 60, quando a economia do país prosperou, que as decorações se tornaram cada vez mais sofisticadas para refletir a crescente riqueza dos motoristas e a ascensão de uma nova classe urbana.
A decoração destes caminhões custa aos proprietários uma pequena fortuna. Não é inédito para um motorista gastar o equivalente a um ano ou mais de salário para deixar o caminhão o mais embonecado possível.
De acordo com um artigo de 2005, um trabalho básico de pintura custa um mínimo de 8.500 reais, equivalente a dois anos do salário médio do motorista de caminhão.
Alguns gastam mais de 35 mil equipando suas plataformas. Inacreditavelmente, muitos caminhoneiros retornam às oficinas a cada três ou quatro anos para uma reforma completa do veículo.
Um caminhão bem decorado também dá aos clientes a impressão de que é bem cuidado e, portanto, será uma maneira confiável de transportar mercadorias.
Curiosamente, a arte do caminhão é também um ritual que remonta à tradição Sufi de pintar santuários para agradar os religiosos.
- "Os caminhoneiros nem gastam tanto dinheiro em suas próprias casas", conta Durriya Kazi, chefe do departamento de estudos visuais da Universidade de Karachi. - "Eu me lembro de um motorista que me disse que colocou sua vida e sustento no caminhão. Se ele não honrasse com a pintura adequada, ele sentia que estava sendo ingrato."
A pintura de caminhões se instalou em outros países do sul da Ásia, assim como no Japão com seus extravagantes dekotoras. Mas ali a pintura de caminhões também é um grande negócio.
Somente na cidade de Karachi, mais de 50.000 pessoas estão engajadas nessa indústria. Oficinas familiares, compostas por aprendizes e artesãos altamente treinados, e pequenas lojas que vendem todos os tipos de ornamentos e acessórios estranhos, se aglomeram em torno de estacionamentos de caminhões.
Uma indústria inteira em oficinas dedicadas ao artesanato, com caminhoneiros dispostos a gastar muito dinheiro para garantir que seu caminhão seja melhor que o resto.
E embora as cores brilhantes e as decorações ornamentadas sejam um grande chamativo visual, os caminhoneiros também vêem isso como um bom retorno do investimento.
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Comentários
Sempre curti o Metamorfose Digital, desde os primórdios, mas, dessa vez preciso dizer, como o redator desse texto foi infeliz. Bem coisa de preconceito extremamente estereotipada do Sul e do Sudeste. Se visse a Bahia Real, veria que em sua maioria, os baianos não usam de artifícios espalhafatosos, não confunda o fato de existir carnaval ou trio elétrico com algo corriqueiro e da identidade de todos os baianos. Fora isso, meus respeitos aos aspectos culturais dos paquistaneses que nada tem a ver com isso. Aliás, japoneses tem uma cultura semelhante.
Sempre gostei desse site, mas, o redator foi de uma extrema infelicidade para dizer o mínimo ao utilizar o estúpido e preonceituoso termo "de baiano". Reveja o ato.
Não gostei não!