A fascinante história de um dos artistas mais bem pagos de sua época: o homem que fazia música com seus peidos

Um homem peidando é capaz de originar uma careta de nariz encolhido ou arrancar a mais larga gargalhada. No entanto, se o espetáculo dura vários minutos e for executado com maestria, alguém pode chegar a admirar como quem fica arrebatado pelo toque virtuoso de um piano. Ou um trombone, melhor dito. Era uma vez, no sul da França... Assim poderia começar uma fascinante série da TV contando a estranha história de Joseph Pujol, conhecido por todos como Le Pétomane, o Pedomaníaco, um dos artistas mais bem pagos do início do século XX.

A primeira chuca de água salgada

Joseph Pujol deu-se conta de que algo não funcionava bem em seu corpo quando foi à praia. De uma forma muito simples, quando deu uma grande bocada de ar, seu ânus absorviu a água salgada, como se se aplicasse um enema. A sensação não foi nada agradável, pois a água estava gelada. Algo bem como introduzir um cubo de gelo pelo reto.

Joseph descobriu esta estranha habilidade própria de um X-Men escatológico em sua adolescência, mas foi em sua juventude quando descobriu que, se se esforçasse, também podia fazer o mesmo fora da água. Isto é, em vez de absorver água, era capaz de absorver ar. A técnica era muito precisa, tal e qual descreveu Sam Kean em seu livro "Caesar’s Last Breath":

Primeiro inclinava o corpo para frente, o que dificultava sua respiração, e então tampava o nariz e a boca e contraía o diafragma, expandindo o volume de seu abdomen. Nos gases, o volume e a pressão estão intimamente relacionados: quando um sobe, o outro desce. Portanto, ao expandir seu abdomen necessariamente reduzia a pressão em seu interior, criando um vazio parcial. Normalmente, quando o diafragma faz isto, o ar corre a encher os pulmões. Mas como Pujol havia se dobrado e tampado a boca, o ar não entrava pela parte da frente, senão que pela de trás.

Quando alguém possui uma habilidade qualquer, por muito inútil que seja, tende a exibi-la e, sobretudo, a melhorá-la. Ser o melhor em qualquer aspecto da vida e destacar em frente a nossos semelhantes é uma sensação tão agradável que pode nos empurrar, como ocorreu com Joseph, ao aperfeiçoar sua técnica, ano após ano.

Deste modo, o flatulista conseguiu desalojar flatulências de até quinze segundos, sem nenhuma interrupção. Talvez quinze segundos não pareça muito tempo, mas tentemos imaginar segundo a segundo. O ruído de um peido, assim, até contar compassadamente 1001... 1002....

Para conseguí-lo, Jospeh absorvia até três litros de ar com cada inalação anal. Só para que tenhamos uma ideia do que supunha algo assim, um adulto normal expulsa com flatulências um litro e meio de gás ao dia, em aproximadamente vinte entregas. Ele fazia tudo inesperadamente, e usando o dobro de ar.

Era algo extraordinariamente grotesco. Mas Joseph não parou aí, também começou desenvolver a habilidade de alterar o tom e o volume de seus bufos, isto é, de tocar notas musicais empregando para isso o trecho final de seu trato intestinal. Pouco depois, lá por 1880, deixou crescer um bigodão muito teatral e apresentou seu primeiro espetáculo de peidos. Buscou para isso um nome muito gráfico: Le Pétomane (o Peidorreiro).

Seu sucesso foi modesto a princípio, mas pouco a pouco foi ganhando segurança. Sobretudo ao comprovar a reação que provocava no público. Para manter-se em forma, e também ter o instrumento bem limpo, costumava fazer cinco sessões de chucas ao dia.

O sucesso do flatulista

Em 1892, depois de vários anos ganhando popularidade com aquele espetáculo rocambolesco, Joseph tomou uma decisão que lançaria sua carreira até limites insuspeitos: apresentou-se a uma audição do Moulin Rouge, o famoso clube notuno de Paris que atingiu o grande status com o filme homônimo de Baz Luhrmann.

O dono do clube ficou boquiaberto e contratou Joseph de imediato. Dois anos depois, ele se tornou o artista mais bem pago da França, ganhando mais que o dobro com algumas espetáculos do que recebiam atores lendarios como Sarah Bernhardt. Artistas de prestígio, como Renoir e Matisse, eram grandes amigos. E até rumorejaram que Freud chegou a dependurar uma foto de Joseph na parede de seu consultório.

Mas o que podíamos ver em seu show? Com algumas variantes, depois de levantar a cortina, essencialmente Joseph aparecia trajado com um smoking preto de cetim, luvas brancas e capa vermelha. Era como um super-héroi, o Super-Pum. E então começava a demonstrar sua habilidade de menos a mais.

Primeiro, algumas simples imitações dos flatos de diferentes pessoas, esterotípicamente falando. Por exemplo, se era uma tímida jovem, então a ventosidade era breve e aguda. A sogra merecia um mais contundente. Depois, seus sons anais tratavam de recordar o som que emitem diferentes animais, como as corujas, os galos, os sapos ou os patos. Inclusive aquele ganido curto e agudo de um cão quando alguém pisa em seu rabo.

No entanto, o espetáculo entrava em um novo nível quando Joseph começava a tocar a flauta com o ar que expelía pelo ânus. E atingia patamares circenses ao inserir um tubo no reto quando no outro extremo tinha um cigarro aceso com o qual conseguir soprar anéis de fumaça. Finalmente, depois de interpretar La Marseillaise com peidos, apagava uma vela a um metro de distância, como se seu trasero disparasse perdigotos. Bang! Kean descreve a reação do público assim, entre quem poderiam ser encontrado prohombres como o rei de Bélgica:

As mulheres do público, sobretudo as que levavam spatilhos apertados, às vezes riam tanto que desmaiavam. Uma vez, um homem sofreu um ataque do coração. O Moulin Rouge aproveitou o caso para colocar enfermeiras ao redor da plateia e distribuiu cartazes advertindo do perigo que era o espetáculo, o que, naturalmente, só fazia que as pessoas tivessem ainda mais vontades de vê-lo.

Ante tamanho ispersão de gases escatológicos, alguém poderia chegar a pensar que ficaria um cheiro fétido suspenso no ar depois do espetáculo. Mas não era assim. Joseph sempre tentou mitigar a conotação escatológica do peido. Para ele, seus peidos eram uma arte elevada. Ademais, suas flatulências não tinham nenhum cheiro porque eram produto de absorção de ar, não da fermentação da comida em seu intestino.

No entanto, depois de um tempo, seu show se tornou habitual e suas habilidades começaram a decair, algo que coincidiu com a chegada da Primeira Guerra Mundial. A partir de então, Joseph estabeleceu-se de novo em Marselha, retomou seu oficio de padeiro e dedicou-se a cuidar de sua família.

Fonte: Reddit.