Hoje sabemos exatamente o que ocorre quando uma bomba nuclear é detonada debaixo da água. Sabemos porque Estados Unidos e União Soviética fizeram essas provas durante anos. Mas o que ocorreria se escolhêssemos nosso artefato nuclear mais poderoso para ser explodido no ponto mais profundo do nosso planeta? Para entender temos que relembrar alguns episódios. Em 1946, a marinha americana decidiu comprovar empiricamente o que aconteceria quando uma bomba fosse detonada sob a água. |
O resultado foi batizado como Evento Baker. Um artefato de 21 kilotons chamado Helen explodiu a 27 metros de profundidade no Atol de Bikini. Os resultados foram tão horríveis que a marinha cancelou o seguinte teste submarino.
Por que? Porque os efeitos do Evento Baker foram muito piores do que a marinha esperava. O alto comando achava que a água amorteceria a explosão sem causar sérios danos aos barcos de teste que dispuseram ao redor. Não foi assim. A bomba gerou uma bolha de gás incandescente que abriu uma cratera de 9 metros de profundidade e mais de meio quilômetro de diâmetro. Uma colossal coluna de água formada por dois milhões de toneladas de água projetou-se a 1.500 metros no ar.
Ademais a detonação desintegrou um navio inteiro, o USS LSM-60, que estava bem na vertical do artefato. Outro barcos próximos também viraram sucata e afundaram, mas o pior foi a radiação. Em uma explosão atmosférica, as partículas radioativas dispersam-se no ar e seus efeitos não são tão evidentes. No evento Baker a coluna de água e a fina nuvem que banhou as imediações logo depois deixaram o local com uma contaminação radioativa 20 vezes acima da dose letal.
Os Estados Unidos não voltaram a realizar uma prova submarina até 1955 com a operação Wigwam. O objetivo deste teste era determinar o perigo das detonações para os submarinos, de modo que usaram um artefato de 31 kilotons a 600 metros de profundidade.
A bolha de gás foi relativamente pequena (115 metros), mas a radiação afetou inclusive os barcos dispostos para observar a prova. Vários marinheiros contraíram câncer nos anos posteriores sem que o exército admitisse que foi por aquele teste. As testemunhas asseguraram que viram o mar ferver e que notaram um impacto nos pés como se todo o barco fosse golpeado por um gigantesco martelo. O som da explosão foi registrado em estações de medição a mais de 20.000 quilômetros.
E o que acontece se a explosão ocorre em um lugar com ainda mais profundidade? Em vez de uma grande coluna de água e gases, o que ocorre é que a detonação causa uma bolha que se expande e se comprime rapidamente gerando uma série de pulsos mais longos quanto mais profunda seja a detonação. Os efeitos são mais concentrados. Por exemplo,se detonássemos a bomba Tzar no ponto mais profundo do planeta: a Fossa das Marianas, a bolha de gás e vapor de água comprimido resultante se expandiria ao redor de um quilômetro, para depois se comprimir subitamente várias vezes até se dissipar.
Uma explosão submarina atua como um terremoto. Em outras palavras, pode provocar tsunamis. O que acontece é que a Fossa das Marianas é tão profunda que seus efeitos seriam mínimos ao chegar à superfície. Correntes terríveis de terremotos e vulcões? Também não. Ainda que a fossa das Marianas marque a linha entre duas placas tectônicas muito ativas, a energia liberada por nossa bomba atômica mais potente é ridícula comparada com a de movimentos sísmicos que acontecem nesta e outras fronteiras tectônicas todos os anos.
Não, a bomba do Tzar não detonaria, nem arrasaria o fundo marinho, senão que converteria uma ampla quantidade de areia em vidro. A água do mar se encarregaria de diluir a radiação com o tempo. Quem sofreria com tudo isso seriam a baleias e os animais marinhos mais sensíveis ao som.
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A única coisa que a gente sabe fazer bem é destruir...