O mito do trapo com clorofórmio, ou por que é impossível nocautear alguém usando esta substância

É um dos lugares comuns maisa recorrentes de Hollywood. O vilão se aproxima de forma sorrateira, lança-se por trás sobre a mocinha e tampa o nariz e a boca com um trapo embebido em clorofórmio. Em apenas alguns segundos, a vítima cai inconsciente a graça do criminoso. É verdade que o clorofórmio é um potente anestésico, mas não tanto como nos fizeram crer. Nesse sentido, há vários clipes curtinhos no Youtube que mostram pessoas tentando demonstrar que o clorofórmio não funciona e se dando mal, comicamente, no processo.

No clipe curtinho abaixo, o suposto cético inala profundamente um trapo empapado na substância, e desmaia contra o armário antes de que possa terminar a frase: - "Viu, não funciona". O vídeo é engraçado, mas é falso por uma simples razão: o clorofórmio não funciona assim.

O triclorometano ou clorofórmio é um líquido incolor com propriedades sedativas e anestésicas quando é inalado ou ingerido. O mecanismo exato pelo qual atua uma vez entra no organismo não é conhecido com precisão, mas acham que incrementa o movimento dos íons de potássio no sistema nervoso.

O que sim sabemos é que seus efeitos não são instantâneos. Seria necessário respirar a substância durante entre dois e cinco minutos para cair inconsciente. Os efeitos imediatos de uma concentração de 100 partes por milhão no ar são tonturas, cansaço e dor de cabeça, mas não uma inconsciência tão fulminante como a que vemos no vídeo. Por outra parte, é preciso seguir administrando a substância para que a pessoa permaneça desmaiada. Caso contrário recupera a consciência em minutos.

Ainda que teve seu momento de popularidade como anestésico cirúrgico, o clorofórmio deixou de ser usado nos centro cirúrgicos para além dos anos 30, e tinha uma boa razão para isso: pode matar o paciente. Os médicos logo descobriram que é muito difícil determinar a dose correta de clorofórmio para manter uma pessoa anestesiada sem perigo.

Se não for feito com cuidado, anestesia a língua e esta se retrai, obstruindo as vias respiratórias. Além de poder morrer de asfixia, o clorofórmio atinge níveis tóxicos muito rapidamente. No caso de overdose causa náuseas, vômitos, hipertermia, dificuldades respiratórias, coma por insuficiência hepática ou inclusive a morte por parada cardíaco. Para arrematar, há fortes indícios de que é cancerígeno

Em definitiva, respirar clorofórmio em um trapo e gravar para YouTube não é a melhor das ideias. Ainda que já não seja usado como anestésico, a substância segue sendo utilizada a nível industrial como pesticida, limpador e solvente. É também uma das poucas substâncias de sua classe que é produzida na natureza sem intervenção humana.

Várias espécies de algas e fungos geram o clorofórmio, e de fato 90% das emissões mundiais de clorofórmio se originam destas fontes naturais. Por sorte, o composto é tão volátil que se evapora e se decompõe no ar antes que possa surtir algum efeito.