Há uma trilha pouco conhecida no Val-de-Travers, na Suíça. Ali, quem adentra nos bosques pode encontrar pequenos mananciais que escondem garrafas de absinto. A bebida está precisamente ali esperando que os excursionistas as encontrem para tomar um gole. Ditos esconderijos, conhecidos como fontaines froides (ou fontes frias) servem como lembrança do halo de mistério que rodeava o absinto no passado. A tradição nasceu da água e da flora do vale, ainda que também do amor e certa ingenuidade de seus moradores. |
Hoje, os entusiastas do absinto continuam mantendo estes esconderijos secretos. Com isso, dizem que esperam conseguir um equilíbrio entre a tradição local e as história do renascimento moderno da bebida.
Ainda que suas origens sejam incertas, a crença popular dita que a receita foi descoberta por um doutor de origem francesa chamado Pierre Ordinaire ao redor do ano 1792. Ordinaire vivia em Couvet, uma cidade localizada no Val-de-Travers. Ao que parece, as irmãs do convento de Couvet vendiam a bebida como um elixir e desta forma seu uso foi estendido. A popularidade da bebida foi crescendo até a década de 1840, quando era oferecida às tropas francesas como um medicamento antipirético.
Destilaria de absinto em 1904.
Seus "poderes' têm muito que ver com sua potente composição: a bebida, feita de losna (Artemisia absinthium), anis, funcho e outras ervas, tinha um nível de álcool por volume que às vezes chegava aos 70%. No século XIX, os destiladores da Suíça e nas cercanias da França, sobretudo na cidade de Pontarlier, começaram a comercializar a "fada verde". Sua popularidade chegou acompanhada com rumores que diziam que causava alucinações.
Copos característicos de absinto.
Assim, em 1910 as autoridades suíças proibiram oficialmente a venda e produção de absinto, fato que tornou a bebida ainda mais popular entre a elite parisiense da época. Ao mesmo tempo, os destiladores de absinto tiveram que se ocultar durante décadas. No entanto, e apesar da proibição, nunca deixaram de fazer e beber absinto no Val-de-Traver, onde as autoridades olhavam para outro lado.
O bebedor de absinto, pintura de Viktor Oliva.
Daí que os historiadores tenham encontrado cartas do século XIX que faziam referência a garrafas de absinto armazenadas ao longo de trilhas para caminhar nos bosques do vale.
Hoje, e após o levantamento da proibição em 2005, os residentes aproveitaram como uma oportunidade para promover seu vale. Em 2009, uma comissão conjunta suíça e francesa inaugurou o Caminho do Absinto, uma rota que leva aos turistas a passar por destilarias, povoados e pousadas nos vales onde o absinto é feito.
Anúncio antigo de absinto.
E sim, a trilha guia os turistas por um punhado de fontes históricas com suas garrafas escondidas. O resto, a grande maioria, permanecem escondidas esperando que excursionistas sedentos as encontrem para tomar um gole.
Uma das garrafas ocultas na trilha Suíça.
De fato, a bebida continua proibida em muitos países do mundo, apesar de que seus efeitos supostamente alucinógenos nunca tenham sido comprovados. Mas o que sim sabem é que, em grandes quantidades, a tujona, uma substância ativa da losna, pode ser tóxica e causar problemas para o funcionamento dos rins, fígado e também acarretar dor de cabeça, tontura, convulsão, paralisia entre outros problemas.
Um pé de losna.
No Brasil de antanho, a simples menção da palavra "absinto" era vista como um tabu e o chá de losna, muitas vezes, era referido como chá de erva-de-santa-margarida ou erva-do-fel, mas, para não guardar relação, nunca como chá de sintro ou de absinto, cujas propriedades atribuídas seriam: digestivas, antissépticas, diuréticas, desintoxicantes, abortivas, antiparasitárias, vermífugas, anti-inflamatórias, entre outras.
A bebida, em sua forma comercial, chegou (e foi legalizada) no Brasil em 1999. Mas sua receita foi modificada para se adequar as leis brasileiras que não permitem bebidas com teor alcoólico maior que 54° GL.
Fonte: Atlas Obscura.
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