Grandes herbívoros, como os elefantes, muitas vezes procuram depósitos minerais naturais como pedras e solo para suplementar sua ingestão de sódio quando o mineral não é obtido em quantidades adequadas das plantas lenhosas e da água natural que os elefantes consomem. Portanto, não é incomum encontrar elefantes devorando o solo e lambendo rochas com alto teor de sódio. No Parque Nacional Monte Elgon, na fronteira entre o Quênia e Uganda, os elefantes levaram essa atividade um passo adiante: aprenderam a extrair pedras ricas em sódio nas cavernas Kitum, localizadas na base de um vulcão extinto de 24 milhões de anos chamado Monte Elgon. |
Acredita-se que o Monte Elgon seja o mais antigo vulcão extinto da África Oriental. Por causa de sua forma incomumente grande -uma base de 80 quilômetros de largura e um pico que se eleva a 3.000 metros das planícies ao redor- o Monte Elgon não tem a típica inclinação acentuada de uma montanha vulcânica.
A elevação é mais gradual e, à medida que a terra se eleva, a vegetação muda e o clima também. A floresta fica mais espessa e o ar mais gelado. Muitas plantas e animais raros procuram abrigo nas encostas mais altas do monte para escapar do calor das planícies.
Os elefantes preferem ficar nas encostas mais baixas, onde há várias cavernas e onde o sal é suficiente. Estas cavernas são bastante volumosas, com até 150 metros de comprimento, 60 metros de largura e uns 10 metros de altura.
Há evidências de que as cavernas Kitum foram artificialmente expandidas por milhares de anos de mineração, não por humanos, mas pelos próprios paquidermes, que expandiram o que originalmente eram entradas muito pequenas em vastas cavernas. Assim, os ossos de muitos elefantes incapazes de navegar pelas profundezas escuras estão espalhados sobre as bases de várias grutas.
Os elefantes usam suas presas para quebrar pedaços da parede da caverna, que eles então mastigam e engolem, deixando marcas longas de arranhões em todas as paredes da caverna. Os elefantes cinzelam as rochas durante várias horas e comem grandes quantidades de sal de cada vez, uma vez que geralmente não retornam até várias semanas depois. Os elefantes têm um apetite voraz por sal. Um elefante macho jovem do Parque Nacional de Aberdare, no Quênia, consome entre 14 a 20 kg de solo salino em 45 minutos.
As cavernas são ao mesmo tempo um lugar sublime e terrível, de romance miltoniano. No coração do Quênia, paradoxalmente, o suposto primeiro lar da humanidade, e ainda assim entre os lugares mais selvagens e primordiais do mundo. Respiradouros vulcânicos cheios de exalações sulfurosas. Uma caldeira antiga. Um vasto cemitério de ossos de elefantes no fundo de um enorme abismo. E tudo isso penetrando no núcleo da segunda montanha mais alta do Quênia, Monte Elgon.
A caverna de Kitum é o resultado cumulativo de várias forças naturais trabalhando em conjunto ao longo de milhões de anos. O vulcanismo que ajudou a construir a montanha também deixou treliças de túneis intricados, cujas extensões são vastas e desconhecidas.
Acredita-se que essas cavernas sejam o reservatório de incubação de muitas doenças infecciosas, principalmente os vírus Marburg e Ebola, e com razão. O Monte Elgon está no meio do maior número de surtos registrados no Quênia. Os morcegos e macacos da região foram quase sempre implicados na propagação das doenças.
Assim como as cavernas se estendem muito além do conhecimento humano, também os ciclos de vida desses dois agentes infecciosos. Existem vários candidatos para a cadeia de transporte, no entanto. Acredita-se que os morcegos desempenham um papel central em qualquer cadeia hipotética.
Além de elefantes, outros animais como a gazela-pintada ou imbabala e os búfalos também são atraídos pelo sal das cavernas. É improvável que os animais saibam que precisam de sal em sua dieta. Então o comportamento é principalmente instintivo, desenvolvido ao longo de milhares de anos. E levando seus filhotes para as cavernas, o conhecimento foi transmitido através de gerações.
Alguns predadores, como leopardos e hienas, aproveitam-se desse comportamento, escondendo-se no interior das cavernas e atacando animais mais frágeis, como os filhotes de elefante, búfalos e imbabalas. Mas até aí estava tudo bem, era a luta de predador e presa tão comum na natureza.
O pior aconteceu durante a década de 1980, quando caçadores furtivos descobriram esse truque. Eles se escondiam perto da entrada das cavernas e emboscavam os elefantes quando se aproximaram.
Na época a população de elefantes do Monte Elgon beirava os 1200 e depois disso chegou a cair para menos de cem. A caça furtiva alterou radicalmente o comportamento dos elefantes; eles se tornaram mais reservados e começaram a evitar as cavernas mais conhecidas.
A queda nos preços do marfim na década de 1990 e um esforço anti-caça mais determinado pelo governo queniano deram aos elefantes alguma trégua. A situação melhorou nas duas últimas décadas, mas o futuro ainda é bem incerto.
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