Em 9 de junho de 1990, o encarregado de manutenção da aeronave BAC 1-11 da Britsh Airways equivocou-se no diâmetro dos parafusos ao substituir o para-brisas da cabine. No dia seguinte, quando o vôo 5390 de Birmingham a Málaga se encontrava a 5 mil metros de altura, a diferença de pressão fez o para-brisas saltar pelos ares, succionando o piloto que, semi-consciente, ficou enganchado sobre a cabine no exterior do avião, resultando em uma situação tão rocambolesca que nem mesmo a nonsense e hilária comédia "Apertem os cintos, o piloto sumiu, de 1980, consegui contar. |
As primeiras palavras do capitão Tim Lancaster a bordo do One-Elevem de 43 toneladas com 81 passageiros a bordo e 6 tripulantes, não permitiam pressagiar um dos acidentes mais estranhos da história da aviação civil.
- "... é com prazer que anuncio que o clima é ensolarado e seco em Málaga e estaremos em nosso destino em aproximadamente 120 minutos..."
Poucos minutos depois a tripulação se dispunha a preparar os lanches para os passageiros, quando o avião encontrava-se a 5.300 metros, mais ou menos à altura de Didcot, Oxfordshire. De repente, sem prévio aviso, os pilotos escutaram um ruído muito forte e imediatamente a atmosfera interior ficou congelada com uma espessa neblina branca que impedia a visão.
O pior estava a ponto de ocorrer. O para-brisas esquerdo, do lado do capitão Lancaster, tinha-se separado da fuselagem dianteira. Quando a condensação dissipou, o auxiliar de voo Nigel Ogden observou que o capitão já não se encontrava em seu assento, e só viu seus sapatos presos na janela.
O avião do incidente.
Os passageiros das primeiras poltronas do avião começaram a desconfiar que tinha ocorrido algo de errado. Uma mulher entrou em estado de choque ao assegurar ter visto de relance, quando a porta da cabine se abriu momentaneamente, que o piloto saiu voando.
A mulher tinha lá suas razões, e em poucos segundos a situação parecia uma cena de um filme de Michael Bay. No entanto, tudo era muito real. Tim havia se precitado no "buraco" devido à rápida descompressão. Se nesse momento outro avião cruzasse com o voo 5390, veria o corpo do piloto pressionado contra o exterior da cabine pela pressão das rajadas de vento resultante da velocidade do avião e gritando a 5 mil metros de altura com tão só suas pernas no interior.
Ao ser sugado, Tim empurrou a alavanca de comandos para baixo e desligou o piloto automático provocando o descontrole da aeronave. A reação imediata de Nigel foi segurar os pés do piloto e não abandonou esta posição até o fim do incidente.
Enquanto isso o co-piloto Alistair Atcheson tentava devolver a estabilidade a aeronave. O risco de colisão com outro avião era alto, já que se encontravam num dos espaços aéreos com mais tráfego no mundo. Disse o "may-day" com dificuldades pois era impossível escutar o rádio com um vento de mais de 500 quilômetros por hora lhe açoitando a cara. A nave então perdia altitude a 30 metros por segundo.
A cabine do avião depois do incidente.
Um turbilhão de objetos voava para o funil de pressão onde estava o piloto enganchado. Uma garrafa de oxigênio que estava presa na parede passou como um aríete a poucos centímetros da cabeça de Nigel. A cabine converteu-se num redemoinho de papéis e cartas de navegação que acabaram se enfileirando para o orifício de saída.
Outro auxiliar, John Heward, preparou os passageiros para uma aterrissagem de emergência e rapidamente se dirigiu a cabine para ajudar. Nigel sentiu que o vento estava prestes a levá-lo para o lado do capitão, ou seja, também para para fora do avião e começou a gritar. John foi ao seu auxílio agarrando sua cintura com um braço e com o outro o assento do auxiliar.
A zona aberta também fez saltar pelos ares o console de navegação, bloqueando o controle do acelerador, e fazendo com que a aeronave seguisse ganhando velocidade à medida que descia. Ademais, a porta da cabine acabou abrindo, a ala de passageiros despressurizou fazendo com que todas as máscaras de oxigênio caíssem e o avião virou um caos completo com os gritos e o pânico dos passageiros, enquanto a tripulação tentava tranquilizá-los, assegurar objetos soltos e organizar as posições de emergência.
Voltamos à cabine, onde a situação tinha piorado. O corpo de Tim seguia golpeando contra a fuselagem e começava a congelar. Nesse momento certamente já teria desmaiado devido ao ar e a temperatura exterior.
Um oficial inspeciona o buraco no para-brisas do avião sinistrado.
O cop-piloto tomou uma decisão e baixou a aeronave mais de 3 mil metros em 95 segundos para buscar oxigênio para os passageiros. Ali reduziu a velocidade a 300 quilômetros por hora, conseguiu equilibrar o aparelho com o piloto automático -temporariamente desativado-, e fez uma chamada de socorro:
- "Mayday... mayday... o capitão tem meio corpo para fora do avião a 5 mil metros de altitude!"
Devido à pressão do ar, ninguém conseguiu escutar a resposta do controle de tráfego aéreo. De fato e para piorar tudo um pouco mais, a dificuldade para estabelecer uma comunicação bidirecional provocou um atraso na informação que o 5390 recebia sobre a situação de emergência e, portanto, um atraso na aplicação do plano e procedimentos a seguir..
Simulação do incidente.
Ademais, apesar da manobra de descida ser bem sucedida, acabou resultando em um outro problema: a pressão sobre o corpo do capitão diminuiu e ele começou a deslizar perigosamente para a lado do exterior da cabine até que seu rosto apareceu na janela lateral:
"Tudo o que recordo é como o Tim agitava os braços... parecia que mediam mais de um metro... parecia um boneco de vento, nunca esquecerei. Seus olhos abertos esbugalhados. O rosto colado contra a janela lateral sem pestanejar me fizeram pensar que ele já estava morto", disse Nigel Ogden.
Ainda que todos intuíam que o capitão não tinha sobrevivido, não pensaram na possibilidade de soltá-lo, simplesmente pelo perigo que isso supunha. Pela posição na qual se encontrava e a velocidade acrescentada, o corpo de Tim podia introduzir-se num dos motores.
Os braços de Nigel e John estavam meio congelados e começavam a fraquejar. Simon Roger, outro auxiliar de vôo que estava na cabine de passageiros, teve que ir completar a corrente para segurar o capitão. Três homens, um atrás do outro, lutavam tenazmente para evitar o deslizamento do pesado corpo de Tim Lancaster contra o vazio.
Finalmente, às 07:55, 35 minutos após a decolagem, o co-piloto conseguiu estabelecer (e escutar) comunicação por rádio e aproximou o aparelho do aeroporto de Southampton. Pediu à torre de controle de tráfego uma pista de 2.500 metros já que estava preocupado pela elevada carga de combustível. Disseram-lhe que somente a de 1800 metros estava disponível.
Sob um barulho ensurdecedor e assovios do açoite do vento, a aeronave pousou, não sem dificuldades, no aeroporto de Southampton às 7:55 da manhã de 20 de junho de 1990. Os passageiros desembarcaram em total comoção, mas ilesos e aliviados. Contra todas as probabilidades, o capitão sobreviveu e foi levado ao hospital da cidade com uma fratura de braço, outra no pulso, hematomas pelo corpo todo, hipotermia e princípio de congelamento das extremidades. Por sua vez, a valentia de Nigel Ogden lhe rendeu um ombro deslocado, meia cara congelada e um grande dano por congelamento em seu olho esquerdo.
Membros da tripulação no hospital junto ao capitão Tim Lancaster
Em 1992, a investigação sobre o acidente foi concluída e estabeleceu que a pressão trabalhista à que estava submetido o mecânico encarregado da substituição do para-brisas fez com que não procedesse de forma correta na escolha dos parafusos. Os que foram colocados tinham diâmetro ligeiramente menor.
O co-piloto Alistair Atcheson (esse é o cara) foi galardoado com a cobiçada medalha ao mérito aéreo e seus colegas receberam inumeráveis homenagens e prêmios por seu valor em uma viagem onde a metade do capitão sobreviveu ao vôo no exterior, contra todos os prognósticos. Menos de 6 meses depois, após recuperar-se das fraturas, o capitão Tim Lancaster já estava voando de novo.
Fonte: Sydney Morning.
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Comentários
Fiquei impressionado.
esses caras devem ter no minimo 8 bagos cada um ...
Naão conhecia esta história da aviação, realmente daria um belo filme e o co-piloto bota cabra dos bons esse dai.....
O.O!
OMG!
i can't beliiieve it!
Olá,
Aqui se vê o carácter de pessoas dignas desse nome.
hum que louco.... incrivel realmente daria um otimo filme!!!! :sha:
q foda vey!
Daria um excelente filme. Já fizeram? Não me lembro.
Que bravura e que presença de espírito. Heróis de verdade.
Isso prova que o trabalho de equipe é sempre um sucesso, especialmente quando a equipe assume a solidariedade.
A solidariedade entre eles, a coragem, foi fundamental para que todos saissem vivos...Magnifico!!! :sha:
Admiravelmente impressionante!!! :wink:
Pois é... quase que o mecanico "espana" a rosca do Capitão... :twisted:
Coisa de ingleses...humpf... :roll: :lol:
Incrível, mas pelas fotos parece que foi bem antes de 1990.
Isso tá parecido com matéria da Seleções ehn
Gostei =D
Inacreditivel...