Ir ao banheiro em tempos de guerra é um tema sério. Após o assassinato de Uesugi Kenshin, um dos guerreiros mais poderosos do Japão, enquanto fazia suas necessidades, os samurais desenvolveram uma técnica para evacuar de forma rápida e eficiente. E transmitiram-na entre gerações. O escritor e artista marcial Dave Lowry assim explica em seu livro "Autumn Lightning", uma crônica sobre o espadachim japonês de seu bairro que acabou se tornando seu mestre. Atenção: este artigo tem uma incorreção histórica. Leia até o fim para entender. |
Quando os samurais iam ao banheiro, não deixavam as calças abaixadas senão que despiam completamente a perna direita. Assim teriam mobilidade se um estranho entrasse no local. Mas há mais: com uma perna livre, os samurais aprenderam a adquirir uma posição muito concreta para relaxar seus intestinos e defecar mais rápido. Segundo conta Will Black:
O samurai sentava-se reto no vaso, cruzava sua perna de maneira que o tornozelo direito descansasse sobre o joelho esquerdo (seu pé esquerdo permanecia no chão), colocava uma mão em cada joelho e endireitava as costas. Supostamente, isto alinhava os intestinos para não ter que fazer pressão. Você poderia pensar que é uma tolice, mas funciona. Se alguma vez tiver um problema de intestino preso, experimente fazê-lo. Tenha um pouco de paciência e obterá uma versão laxante da ioga graças a uma técnica que foi transmitida pelos samurais desde a antiguidade.
Adam Dachis de Lifehacker testou e assegura que funciona:
- "Não é particularmente cômodo, já que os banheiros não foram desenhados para sentar desta maneira, mas você pode se acomodar antes de começar a evacuar. Quando começar, note que sua perna cruzada atua como um dispensador de iogurte gelado, como se ajudasse a empurrar a caca sem necessidade de exercer nenhuma tensão muscular."
A técnica não ajudará a superar a quem tenha prisão de ventre crônica -melhor uma dieta rica em fibra e líquidos-, mas sim a passar menos tempo no banheiro, nessas vezes que seu telefone fica sem bateria e que pode acabar desenvolvendo uma hemorroida.
Fonte: Art of Manliness.
Errata
Tão logo postei isso ontem a noite, o amigo Rusmea me alertou que algo de errado não estava certo. Como poderiam os samurais usarem vasos ocidentais se eles só começaram a se popularizar no país a partir da segunda guerra?
Bem, uma busca rápida na rede me levou a descobrir que o post original é mesmo o que cito como fonte. Um artigo escrito por Will Black, diretor de uma ONG cristã, que faz referência ao livro que lera quando era moleque, "Autumn Lightning", onde o artista marcial e escritor Dave Lowry conta sua experiência sob a tutela de um espadachim chamado Sr. Kotaro.
Não há muito contexto ali além do que foi postado aqui. E todos os artigos que falam sobre o assunto na internet se originam deste post e ninguém questiona a impossibilidade histórica. Sendo assim, decidi ler o livro dinamicamente. É bem interessante e fala de como o aprendizado de artes marciais aumentou no fim dos anos 60, junto a tremenda turbulência social e política da época. Nota-se que o autor está mais interessado em contar sua relação e aprendizado com o mestre japonês do que falar sobre marcos históricos.
Especificamente na página 72 o Sr. Kotaro entra no banheiro enquanto Dave está cagando. Mais tarde o homem pergunta a Dave se ele costuma se aliviar naquela posição do "Pensador" de Rodin. Ao confirmar, o mestre diz que seu "zanshin" poderia ter lhe custado a vida.
- "O que teria acontecido se eu fosse um cara mau, vindo até aqui para matá-lo? Com a calça arriada, não há como adotar uma boa posição de defesa. Não zanshin. Você teria morrido."
"Zanshin", que em japonês traduz-se literalmente como "mente remanescente", tem significados diversos em diferentes artes marciais, mas nesse caso fazia referência ao estado de consciência total. Estar ciente do ambiente e dos inimigos e pronto para reagir.
É nesse momento que Sensei Kotaro fala como se posicionar bem no banheiro, de modo que, mesmo naquela hora desconfortável, ele manteria o zanshin: despindo toda a perna direita da calça e sentando na meia posição de lótus que facilitaria levantar-se e se mover livremente para poder se defender, além de que supostamente seria também uma maneira saudável do corpo esvaziar seus resíduos.
- "É assim que os idosos no Japão se sentam no benjo", explicou o homem.
Em momento algum o Senhor Kotaro fala de costumes dos samurais ou que foram repassados através de gerações. Isso provavelmente ficou a cargo da imaginação fértil (ou de uma confusão) de Will Black, quando escreveu seu artigo.
De fato, quem aborda a história dos samurais é o próprio Dave ao concluir em off que apesar do disparate do assunto, a intenção do seu mestre era realmente séria:
...pois no tempo dos samurais, banheiros parecem ter sido lugares terrivelmente perigosos ... Um assassino se escondeu no closet de Uyesugi Kenshin uma noite e enquanto o general estava sentado lá, encontrou o que deve ter sido um fim doloroso quando foi esfaqueado com uma lança curta.
Para proteger-se contra tipos semelhantes de emboscadas, muitos samurais costumeiramente mantinham no banheiro um punhal ou espada curta bem afiada ao lado deles. Uma medida de segurança, de acordo com os anais da época, que salvou mais de uma vida.
Como dá para inferir, a história do samurai que cagava na posição de meio lótus é falsa, ainda que a coisa de baixar uma perna inteira da calça seja plausível. A ilustração que acompanha o post foi feita pelo Geekologie, em 2014.
Levando este artigo às consequência finais, eu defequei ontem nesta posição. A história de que é uma postura que facilitaria ficar de pé mais rápido é mentira. Em verdade é bem pior para se levantar e difícil de manter, mas realmente auxilia a expulsar a caca sem a necessidade de exercer qualquer tensão muscular. Tá explicado!
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Comentários
Boa retificada. Testarei!
Eu gosto do Mdig por causa disso. O Luizão podia simplesmente apagar o post e pronto. Mas publica uma errata que é melhor que o post.