Conheça a engraçada história de Ken, o artista da fuga mais infame (e peludo) do mundo

É difícil ser um macaco em 2019. Na natureza, seus habitats estão sendo constantemente invadidos pelo desmatamento, poluição e caça furtiva. Os pobres orangotangos, geralmente dóceis, sofrem em dobro com a demanda por óleo de dendê. E as coisas nos zoológicos vão de mal a pior. Mas nem sempre foi tão difícil assim. Em 13 de junho de 1985, um orangotango de 250 quilos chamado Ken Allen escalou seu muro de retenção no zoológico de San Diego e escapou de sua área de exposição.

Ele Jogou uma pedra em um desafeto dele, caminhou por uma trilha pública em direção a multidões de turistas, parando para olhar os outros animais como se fosse um visitante antes de ser levado de volta para sua jaula.

Não seria a última vez que o macaco escapou. Por um breve período em San Diego, Ken Allen tornou-se um herói popular. Depois daquela primeira fuga, os funcionários do zoológico aumentaram a segurança em seu redil -uma área aberta com um trepa-trepa feito de postes e um grande fosso. Atrás dele havia uma parede maciça, que se estendia por mais de 3 metros- mas não era suficiente para conter Ken Allen.

Algumas semanas depois, em julho, ele conseguiu escalar a parede novamente. Desta vez, ficou um pouco mais irritado. Os funcionários do zoológico encontraram-no na frente de outro recinto, atirando pedras em Otis, o outro orangotango e ex-companheiro de espaço, que era conhecido por não ser muito amável.

As fugas continuaram. Naquele mês de agosto, Ken Allen encontrou um pé de cabra na baia que os funcionários haviam deixado para trás. Ele jogou para outro orangotango, Vicki, que usou para abrir uma janela e deixar Ken sair. Depois desse incidente, ele foi transferido temporariamente para uma área interna com uma televisão em preto-e-branco passando um programa de vida selvagem em loop, enquanto os funcionários do zoológico aumentavam a segurança de seu cercado original.

Nascido em cativeiro, Ken Allen recebeu seu nome dos dois tratadores, Ken Willingham e Ben Allen, que o resgataram de sua mãe também cativa depois que ela tentou sufocá-lo. Quando adolescente, ele desparafusava regularmente os parafusos de sua gaiola e saí para explorar seu berçário à noite (sem ninguém saber), voltando de manhã quando aparafusava tudo antes que seus tratadores chegassem.

Um artigo de jornal da época o descreveu como "Houdini Peludo", um apelido que pegou. Ken Allen até tinha um fã clube, consistindo principalmente de aposentados que tinham um grupo chamado Orang Gang. Um membro, uma assistente de laboratório chamada Twyla Baker, publicaca inclusive um boletim de 100 assinantes chamado "The Orang Gang News".

Um psiquiatra baseado em San Diego, chamado Dennis Gersten, ficou tão inspirado por Ken Allen que escreveu uma música sobre ele. A música se tornou um hit local instantâneo, e um single de 45 rpm foi vendido no zoológico por vários anos. A afiliada local da NBC, KNSD, convidou Gersten para tocar a música na TV, todo umsucesso.

Enquanto isso, os funcionários do zoológico lutavam para conter Ken Allen. Eles então cercaram a parede do fosso com cerca elétrica e colocaram obstáculos nas potenciais rotas de fuga. As novas medidas de segurança pareciam funcionar depois que ele levou um choque. Ken Allen ficou quieto por um tempo, mas isso foi apenas um truque. Dois anos depois, ele escapou novamente.

Desta vez, a bomba de água de seu gabinete entupiu, fazendo com que o fosso secasse. Antes que alguém notasse, ele atravessou o fosso seco e se jogou para o lado de fora do recinto. Mais uma vez, ele foi jogar pedras em Otis, perambulou pelo zoológico, posando para fotos com turistas. Um jardineiro do zoo viu e chamou os guardas de segurança, que de imediato aprontaram as armas com tanquilizante. Ken Allen correu em direção ao recinto dos leões, mas antes de chegar ali, os veterinários conseguiram encurralá-lo de volta ao seu cercado, "nervoso e agitado", mas ileso.

Era o mais distante do seu recinto que ele já havia conseguido ir. Desesperados, os tratadores do zoológico colocaram quatro fêmeas no seu redil, pensando que poderiam distraí-lo. Otis tinha três e pensaram que talvez ele estivesse com ciúmes. Ken Allen foi uma má influência para suas novas amigas. Alguns meses depois, duas delas, Jane e Kumang, encontraram um rodo de 2,5 metros de comprimento deixado pela zeladora e o usaram para escalar a parede.

Jane foi encontrada dentro da área dos flamingos e foi tranquilizada, enquanto Kumang foi pacificamente devolvida à sua área. O zoológico gastou aproximadamente 45.000 mil dólares em novas medidas de segurança, e as fugas finalmente pararam.

As fugas de Ken Allen se tornaram material de lenda urbana. As notícias locais falaram dele por mais alguns anos, mas a cobertura gradualmente desapareceu, e Ken Allen voltou a uma vida simples, sentado em um toco de madeira e dando o dedo às crianças pequenas.

No inverno de 2000, Ken Allen começou a agir de forma irregular e foi diagnosticado com linfoma de células B. The Orang Gang News publicou uma edição especial de tributo de duas páginas e realizou uma vigília à luz de velas para ele.

Com pouca esperança de sobrevivência, Ken Allen foi sacrificado e cremado em 1° de dezembro de 2000. Ele tinha 29 anos. O zoológico instalou um memorial em sua homenagem, mas eu prefiro acreditar em um novo fim para esta história: Ken Allen fingiu sua morte em um elaborado plano de fuga final, e deve ter atravessado a fronteira no México, onde tem uma boa floresta que é só dele. Talvez um dia volte, apenas para dar mais uma pedradas no Otis.