Vandalismo histórico

Pichação é crime com pena prevista de três meses a um ano de cadeia. Não existe cultura da/na pichação, senão a marginalidade de jovens que insistem em depredar o patrimônio público e particular. Ainda assim a classe artística corre em socorro da artesã que está presa há quase dois meses por pichar o prédio da bienal, dizendo que aquilo não foi vandalismo, senão uma forma de arte, com a pífia justificativa de que Daniel Dantas não passou nem um dia na cadeia.

Sob tal raciocínio, inclusive defendido pelo próprio Ministro da Cultura, ao invés de procurarmos uma forma de prender e manter na cadeia estes bandidos do colarinho branco, devemos soltar toda a bandidagem.

O vandalismo em obras e prédios públicos não é, nem de longe, recente. Grandes obras e patrimônios da humanidade também já foram vítimas de depredação e destruição.

No dia que La Pietá recebeu uma surra
La Pietà é uma das obras mais formosas produzidas por Michelangelo. A importância da mesma não está somente na técnica, senão em sua influência sobre outros escultores e pintores ao longo da história. Michelangelo, buscando representar a pureza de Maria, decidiu esculpir uma mulher jovem extremamente bela, rompendo com a tradição de representá-la idosa. Desta maneira, cria Michelangelo, dava a entender visualmente sua pureza, ao convertê-la em algo incorruptível, a quem nem sequer os males da idade podiam afetar.

A obra sofreu vários acidentes, como o rompimento de quatro dedos no século 18. Em 21 de Maio de 1972, László Tóth, um geólogo húngaro, com uma patente instabilidade mental, decidiu entrar na Basílica de São Pedro, casa da obra, e atacar com um martelo de geólogo -ideal para partir pedras por sua forma- à Pietà. O público presente, em estado de choque, demoraria em reagir, e Tóth infringiria um irreparável dano no rosto de Maria.

Irreparável porque mesmo que a obra tenha sido restaurada, utilizando mármore da base da obra para obter uma mesma textura, e uma réplica exata achada numa igreja polonesa como modelo, a técnica com a qual Michelangelo poliu o mármore é um segredo que levou consigo para a tumba.

Infelizmente, por causa disso, depois de ser restaurada, a obra foi enjaulada numa caixa de cristal a prova de balas.

Pedrada na Mona Lisa
Se hoje em dia o famoso quadro está protegido com um cristal capaz de suportar um ataque com granadas, no passado podia ser encontrado quase ao alcance da mão. Foi assim que num 30 de Dezembro de 1956 um jovem boliviano de nome Ugo Ungaza Villegas que estava estudando na França, decidiu atirar uma pedra na sorridente dama. O impacto desprenderia os pigmentos da área afetada rasgando a tela.

Interrogado centenas de vezes, o marginal boliviano nunca explicou por que o fez, o motivo nunca foi esclarecido, e hoje em dia, apesar de rigorosas restaurações, uma olhada nos detalhes permite notar a diferença.

O Coliseu como pedreira
Um dos eventos mais trágicos da queda de Roma foi a gradual e irreparável analfabetização de sua população. Essa cidade possuidora de culminantes obras arquitetônicas de vários templos e edifícios que enfeitaram a, em seu tempo, Capital do Universo, viu a depredação e destruição de várias destas obras, verdadeiros patrimônios da humanidade.

O Coliseu, infelizmente, sofreu uma infinidade de ataques. Entre os mais importantes encontram-se as reformas realizadas pelos Frangipani, uma poderosa família da Itália Medieval, ironicamente descendentes diretos dos romanos que fundaram Roma, que converteram o Coliseu num castelo no século XIII. Fazendo-o um alvo de ataques.

No século XIV, o Terremoto de Roma, derrubaria grande parte de sua estrutura. As rochas caídas, de altíssima qualidade, não seriam devolvidas, senão que seriam utilizadas para outros projetos. Gradualmente, a cobiça faria que pela noite vários construtores fossem roubar pedras, inclusive chegando a arrancar grandes pedaços.