Apesar da perda de mais de um bilhão de animais nos incêndios, Austrália vai eliminar mais 10 mil camelos selvagens

Líderes aborígenes de Austrália Meridional, açoitada pela seca, ordenaram pela primeira vez a eliminação em massa de camelos selvagens, e deram luz verde aos atiradores profissionais para matar até 10.000 desses animais a partir de hoje. Segundo dica do amigo Rusmea, no Facebook, os camelos, desesperados pela sede, fazem estragos nas comunidades locais onde se dirigem em busca de água. A carta branca para seu extermínio foi concedido nas terras de Anangu Pitjantjatjara Yankunytjatjara, situadas no noroeste do estado sulista da Austrália.

A servidora pública local Marita Baker, da comunidade de Kanypi, comentou ao jornal The Australian que os camelos destroçam as cercas, se aproximam das casas, e tentam beber água até dos ares acondicionados e, por sua culpa, os moradores estão presos em condições de calor e verdadeiro incômodo.

Nas comunidades de Anangu Pitjantjatjara Yankunytjatjara encontram-se milhares de camelos que semeiam o caos, provocando danos significativos na infraestrutura e pondo em perigo às famílias e a população local, segundo detalhou ao portal news.com.au um porta-voz do Departamento de Meio ambiente e Água da Austrália Meridional.

Em alguns casos, os animais mortos contaminam importantes fontes de água e lugares culturais. A tudo isso se somam os alertas dos ambientalistas, que culpam os camelos por emitir grandes quantidades de metano, que equivalem a uma tonelada do dióxido de carbono ao ano e contribuem ao efeito estufa.

- "Um milhão de camelos selvagens emitindo o equivalente a uma tonelada de CO² ao ano são o mesmo que ter 400.000 carros adicionais nas estradas", comentou o diretor geral dos especialistas em agricultura do carbono RegenCo, Tim Moore.

Estima-se que a Austrália tenha atualmente mais de 1,2 milhões de camelos selvagens, que estão majoritariamente no centro do país mas vão migrando para outras partes e terras agrícolas em busca de comida e água para escapar da seca. Estes animais apareceram em Austrália pela primeira vez cerca do ano 1840, quando chegaram do estrangeiro, e desde então sua população se incrementou drasticamente, apesar das tentativas dos australianos de reduzir seu número e já terem exterminado uns 160.000 na parte central do país entre 2009 e 2013.

Os 10 mil camelos animais devem se somar a lista de mais de 1 bilhão de animais que perderam a vida nos incêndios florestais que estão açoitando a Austrália faz meses. Segundo cálculos do professor Chris Dickman, da Universidade de Sídney, são especificamente mais de 1,25 bilhões de animais. Deles, mais de 800 milhões faleceram no estado de Nova Gales do Sul..

- "É um acontecimento monstruoso, em termos de geografia e da quantidade de animais afetados", assinalou Dickman, que a mais de 30 anos trabalha no âmbito da ecologia, preservação e gerenciamento dos mamíferos que habitam o território australiano.

O professor recordou que a biodiversidade da Austrália foi se reduzindo ao longo das últimas décadas e que o país tem a taxa de extinção de mamíferos mais alta do mundo. A situação agrava-se em situações como a de agora, que pode ter acelerado a extinção de uma série de espécies..

Pior, os animais que conseguiram sobreviver aos incêndios florestais voltarão depois às áreas que já não têm recursos para sustentá-los, enquanto outros cairão vítimas de predadores como gatos selvagens e raposas, segundo asseverou Dickman.

Inclusive as aves e os animais que possam chegar até as áreas não afetadas pelas chamas, dificilmente serão capazes de sair vitoriosos da concorrência com outros que já vivem naquelas zonas, agregou.