Este é o aspecto de uma cidade com um gigantesco enxame de gafanhotos

Esta não foi uma segunda-feira qualquer em Jaipur, uma cidade no estado do Rajastão, ao norte da Índia. Aos problemas próprios de qualquer segunda-feira pandêmica, os habitantes de Jaipur tiveram que acrescentar um espetáculo pouco habitual. Uma nuvem de gafanhotos decidiu visitar a cidade. As redes sociais não demoraram a se encher de fotos e vídeos mostrando cenas do enxame ao lado de nervosas piadas sobre o apocalipse, mas em realidade, este tipo de invasões são bastante habituais na Índia.

Em média são registrados dez ataques destes insetos no país a cada ano. A única coisa que mudou foi que em este ano chegaram antes e em maior número. Os gafanhotos não são outra coisa que um membro a mais da extensa família dos ortópteros. Normalmente levam uma vida solitária, mas se ocorrerem as condições adequadas (uma seca prolongada seguida de fortes chuvas) entram em um estado em que se reproduzem como loucos.

Os exemplares adultos, capazes de voar longas distâncias, agrupam-se em bandos de milhares de indivíduos e adotam um estilo de vida gregário para poder assegurar sua sobrevivência. Em outras palavras, emigram em enormes enxames e comem toda a matéria vegetal que encontram pela frente.

Guiados pela umidade e abundância de vegetação, os gafanhotos deslocam-se de país em país e de continente em continente. Não são diretamente perigosos para os seres humanos, mas quando entram neste frenesi de reprodução e deslocação se convertem em uma praga muito daninha pelo incalculável dano que infringem à agricultura.

Não em vão já na antiguidade eram considerados uma praga que anunciava tempos de fome. Apenas um gafanhoto consome seu próprio peso de plantas ao dia, e se reproduzem seguindo um padrão geométrico. Pese a que a expectativa de vida de cada indivíduo seja só de 90 dias, em apenas uma estação um enxame de gafanhotos pode multiplicar sua população até 16.000 vezes. O enxame alimenta-se e viaja de dia, mas desce a terra pela noite para descansar, que é a razão pela qual Jaipur amanheceu coberta dessas criaturas.

A questão é: de onde vêm os gafanhotos? A espécie que assola o norte da Índia agora mesmo é nativa dos desertos da Península Arábica. A cada ano, enormes nuvens de gafanhotos deslocam-se seguindo as monções, passam pelo Paquistão e Irã, e cruzam o Mar Vermelho até chegar ao Rajastão. Normalmente estas migrações ocorrem em julho e regressam em outubro, no entanto, o clima da Arábia Saudita está especialmente incomum ultimamente.

Em 2018, a região se viu açoitada por fortes chuvas devido à influência de dois tufões: Mekunu em maio e Luban em outubro. Em desertos como o de Rub' al-Khali se formaram lagos pela primeira vez em vinte anos. A umidade criou o clima ideal para que as gafanhotos se reproduzam sem controle. Em abril de 2019, a praga já destruiu 40% das colheitas no Paquistão. Neste ano repete-se o ciclo, e as monções precoces atraíram os enxames até a Índia antes do previsto.

As autoridades do país criaram uma força de choque para proteger os cultivos aspergindo pesticidas para impedir que os gafanhotos se alimentem deles, e os departamentos de bombeiros estão em estado de alarme. Quanto aos sofridos habitantes da cidade de Jaipur, só resta esperar que a nuvem siga seu caminho, proteger os cultivos e fechar as janelas de casa.