A epidemia que assolou nosso cotidiano transformará em maior ou menor grau muitos aspectos de nossas vidas. Ao menos até que disponhamos de uma vacina, uma das questões mais visíveis e imediatas alteradas pelo coronavírus é nossa higiene. Neste processo as máscaras parecem destinadas a ter um papel fundamental. Seu uso ainda é causa de grande confusão e ceticismo entre parte da população. Bota máscara, tira máscara, bota... As mensagens contraditórias da Desorganização Mundial de Saúde (DMS) cerejaram o bolo do pandemônio em meio da pandemia e você provavelmente não saberá se deve rir ou chorar com o vídeo no rodapé do artigo. |
No princípio de março pareciam irrelevantes; mais tarde, essenciais para os sanitários e grupos vulneráveis; e no final de abril já se antecipavam como uma das condições básicas para o cotidiano da vida em público. Pese a tudo, não são obrigatórias em todos os contextos. E não são uma unanimidade. Por que?
Há três possíveis explicações psicológicas para a rejeição à máscara. A primeiro seria "a liberdade". A imposição de uma prenda, por preventiva que seja, chocaria com nossa ansiada liberdade de decisão e seria interpretada como uma chata ingerência do estado. Dito de outro modo, As pessoas valorizam suas liberdades. E podem se tornar reacionárias ou moralmente indignadas quando alguém tenta limitar suas liberdades.
A segunda estaria relacionada com a vulnerabilidade. Usar máscara denotaria e assinalaria vulnerabilidade face aos demais. Aqui operam várias distorções. Desde o resultado "não me contagiei até agora sem elas; até uma compensação de nossos complexos através da exacerbação da distorção.
E terceiro: a confusão. Não temos muitas certezas sobre as máscaras. Sabemos que ajudam a reduzir os contágios em meios fechados, mas não é tão evidente que sejam um fator determinante em espaços abertos. O debate científico é extenso. Tudo isso convergiu em um discurso público extremamente confuso: em um dia não tínhamos que comprá-las, noutro eram indispensáveis.
A ambivalência de mensagens pode provocar que muitas pessoas decidam optar pelo mais cômodo. Sem certezas, confusas e condicionadas por suas próprias distorções, deixam as máscaras em casa, mas isso não devia ser assim.
Um dos princípios básicos nas intervenções de saúde pública, que a desnorteada DMS deveria estar frisando neste momento, é que se tivermos uma alternativa barata e sem riscos é razoável aplicá-la ainda que não esteja muito claro se sua eficácia é tão boa como gostaríamos. Este princípio (de precaução) é o que está por trás de boa parte das políticas de uso de máscaras nos países asiáticos.
Dito de outra forma: à margem de sua efetividade, maior ou menor, o custo de usar uma máscara é extremamente baixo. É uma intervenção potencialmente muito benéfica com poucas externalidades negativas, para além da "compensação de riscos". Custa pouco e os ganhos futuros para toda a sociedade são altas.
Seria normal pensar que os anti-máscaras, o mais novo grupo de negacionistas, é um efeito colateral da internet, também seria trivial especular que seria consequência indesejada da polarização política, mas se a história deixa alguma lição, nem a tecnologia nem as guerras político-culturais explicam esses fenômenos: talvez teríamos que levar em conta a natureza humana porque, durante a epidemia de gripe de 1918-1919, ocorreu exatamente o mesmo.
Recentemente, moradores do Condado de Palm Beach, no estado americano da Flórida, ficaram irados durante uma audiência de um comissariado depois de uma votação unânime para tornar as máscaras obrigatórias em locais públicos como uma medida para combater o coronavírus.
- "Não uso máscara pelo mesmo motivo que não uso roupa íntima: as coisas precisam respirar", alegou alguém. Os anti-máscaras alertam para o satanismo, a pedofilia e até a morte se as políticas de saúde pública forem aplicadas. Depois de ver este vídeo você sentirá um profundo estado de vergonha alheia.
Pior? A decisão de usar uma máscara é muito mais visível do que a decisão de usar, por exemplo, uma camisinha. Mas tentar convencer as pessoas que elas devem usar máscaras apenas cimentará ainda mais sua resistência e talvez até as leve a socializar a portas fechadas com estranhos, onde estar desmascarado pode ser um risco ainda maior. Complicado!
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Comentários
É um saco, é chato e é desconfortável. Mas, usem a máscara pô.
Pelo menos um consolo.
Não é só no Brasil que "eles" existem.
Elson Antonio Gomes,
São pessoas do tipo "eu sei tudo".
É que o mundinho dessas pessoas é tão pequeno, que elas pensam saber tudo mesmo. Mas na verdade, pouco sabem.
Esse é o nosso "mundinho".
Infelizmente sempre que acontecer algo que precise de pequenas regras para o benefício da comunidade, surgirá os ignorantes.