Tradicionalmente era degustado como um lanche, mas a pandemia de coronavírus o converteu em um prato de resistência: os ratos em Malaui passaram a ser um ingrediente essencial na dieta da população mais pobre, ameaçada pela fome. Ao longo dos 320 quilômetros de estrada que separam Blantyre e Lilongwe, as duas principais cidades do país, dezenas de vendedores oferecem aos viajantes espetinhos e rato assados. A meio caminho, no distrito de Ntcheu (centro), Bernard Simeon (primeira foto) converteu-se em um destes chefs informais. |
- "Caçamos ratos para viver. Utilizamos como complemento de nossa dieta diária e os vendemos aos viajantes para conseguir rendimentos", explica o agricultor. - "Já era difícil antes do coronavírus, agora se tornou bem mais difícil."
Encravado na África austral, Malaui é considerado um dos países mais desfavorecidos do planeta. Mais da metade de seus 18 milhões de habitantes sobrevive abaixo da linha de pobreza. Como no resto do continente, as medidas sanitárias adotadas para frear a propagação do covid-19 -mais de 5.400 casos e cerca de 170 mortos oficialmente- afetaram duramente a sua economia, amplamente informal e rural, bem como a sua população.
Uma organização patronal local (ECAM) documentou que ao menos 1.500 empregos deixam de existir por dia e estima que esta cifra acumulada poderia chegar aos 680.000 no final de ano.
O governo do ex presidente Peter Mutharika, que perdeu as eleições de maio, tinha prometido um programa de ajuda urgente aos mais pobres que nunca aconteceu. Seu sucessor, Lazarus Chakwera, ainda trabalha em seu próprio plano de ajuda.
Enquanto isso, a crise sanitária e econômica acrescentou a insegurança alimentícia de numerosos habitantes, obrigados a fazer o que for possível para saciar a fome.
- "Normalmente, contamos com meu marido e seu trabalho", confessa a esposa de Bernard Simeon, Yankho Chalera. - "Mas quando os tempos são duros, contamos com os ratos pois já não podemos nos permitir comer carne."
Assados em espetinhos e salgados, os ratos são consumidos tradicionalmente entre as refeições em os povoados do centro do país.
- "Quando era menino, nos ensinavam a caçar ratos a partir de três anos", recorda o ex deputado e músico de sucesso Lucius Banda. - "No povoado, esta atividade não é considerada como uma obrigação senão como um entretenimento, tanto para meninos como para meninas."
A variedade mais popular na região é um rato é cinza, de rabo curto, e conhecido entre os amantes da gastronomia com o nome de "kapuku".
- “Sigo comendo [ratos], mais como lembrança de minha infância que outra coisa", diz Luciius Banda.
Faz alguns meses, as autoridades de saúde recomendaram o consumo de rato, uma alternativa à carne que se tornou inacessível.
- "É uma valiosa fonte de proteínas", sustenta Sylvester Kathumba, nutricionista chefe do ministério da Saúde.
- "E como a epidemia afeta em especial as pessoas com baixa resistência imunológica, recomendamos uma dieta rica",diz Francis Nthalika, a cargo da alimentação na unidade de saúde do distrito de Balaka.
Este renovado interesse nos pequenos roedores, que se alimentam com sementes, frutas ou ervas, suscita preocupação entre os defensores do meio ambiente devido aos métodos que se usam para caçá-los. Para retirar os ratos de suas tocas, os caçadores utilizam mato em chamas.
- "Ao fazer isso, os caçadores destroem o ecossistema", se queixa Duncan Maphwesesa, diretor de uma ONG do distrito de Balaka, Azitona Development Services.
- "Entendemos que esta gente precisa viver", continua. - "Mas não se dão conta de que têm um impacto no meio ambiente e que assim participam no aquecimento global...", conclui.
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