Desde o apogeu dos rádios transistores Sony em meados do século 20, o mundo passou a associar o Japão à alta tecnologia. Mas entre meados do século 17 e do 19, o mundo mal conseguia associar o Japão a nada. A política isolacionista de sakoku, ou "país fechado", manteve a Terra do Sol Nascente virtualmente livre de influências externas -especialmente da influência religiosa e colonial ocidental- até que, em 1853, o Comodoro da Marinha americana, Matthew Calbraith Perry, apareceu em suas águas exigindo a abertura de seus portos ao comércio americano, através do uso da diplomacia de canhoneiras, se necessário. |
Apesar do isolamento nacional de 250 anos, a fama de Matthew precedeu sua presença. Depois disso, de acordo com o vídeo da Vox Darkroom que dá contexto a este artigo, os estrangeiros que foram para o Japão levaram suas roupas, sua cultura e suas câmeras.
As câmeras, em particular, possibilitaram que todos ao redor do mundo finalmente tivessem um vislumbre dessa misteriosa nação insular que eles conheciam apenas em sua imaginação. A fotografia, em si uma tecnologia nova e estimulante na época, cresceu rapidamente no recém-inaugurado Japão como uma indústria.
Fotógrafos, principalmente europeus, mas alguns japoneses, documentaram a paisagem e o povo do Japão, criando imagens colecionáveis e altamente valorizadas da cultura japonesa, primeiro em preto e branco e, posteriormente, com métodos de colorização antigos. Então, como aconteceria repetidamente nas décadas subsequentes, a tecnologia ocidental e o artesanato japonês se uniram para levá-los ao próximo nível.
O vídeo diz equivocadamente que um fotógrafo ítalo-britânico chamado Felice Beato tornou a colorização à mão de qualidade especializada a característica definidora desta era da fotografia japonesa, com base em um grande corpo de artesãos altamente treinados da indústria de xilogravuras ukiyo-e. Com efeito, Felice Beato e Baron Raimund von Stillfried foram os dois europeus que deram para si mesmos a tarefa de oficio de documentar a vida do país, mas quem criou a técnica foi outro fotógrafo.
Na época em que os estrangeiros começaram a usar câmeras para capturar imagens do cotidiano no Japão, os japoneses já vinham fazendo isso através do ukiyo-e, ou fotos do mundo flutuante, há séculos. Os fotógrafos logo descobriram que podiam aproveitar a experiência da precisão na aplicação de cores em imagens planas que existia no Japão havia gerações.
Esta nova onda de estúdios japoneses de fotografia "colorizada" se destacavam com uma aquarela magistral que acrescentou ao senso de realismo nessas imagens, que as tornou ainda mais colecionáveis.
Alguns fotógrafos, como Kusakabe Kimbei, ficaram ainda mais artísticos, encenando cenas elaboradas, às vezes míticas da cultura japonesa no estúdio, acrescentando não apenas aquarelas, mas outros efeitos visuais: em "Garota em tempestade pesada", a fotografia acima, "a chuva" é simulada por arranhões no negativo da placa de vidro. Seu quimono também está preso em lugares ao fundo, tudo em nome de capturar outra das cenas supostamente típicas da vida japonesa. Mesmo quando está bem diante de seus olhos, o Japão está na imaginação.
O documentário da Vox Darkroom é bem legal, no entanto, falha em não citar o artífice e maior nome das colorizações destas fotos do Japão antigo: Adolfo Farsari, que após uma breve carreira militar, se enveredou pela ainda desconhecida carreira de fotógrafo comercial em Yokohama.
Seus retratos e paisagens colorizadas à mão, cuja maioria foi vendida a visitantes estrangeiros, acabaram formando a percepção externa de pessoas e lugares do Japão e, de certa forma, afetaram até a forma como os japoneses viam a si próprios e a seu país.
Seu estúdio acabou se tornando o mais comercialmente prolífico entre as empresas fotográficas e um dos maiores do país. Tudo isso devido à exigentes normas técnicas e habilidades empreendedoras de Farsari, que se tornou uma influência significativa sobre o desenvolvimento da fotografia no Japão.
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