Paraquedistas britânicos comemorando o Dia D são recebidos pela alfândega francesa

A memória histórica é importante, mas não tão importante quanto a burocracia transfronteiriça. As centenas de soldados britânicos que saltaram de paraquedas nos campos da Normandia na quarta-feira para comemorar o 80º aniversário do Dia D acabaram de ver isso por si próprios, além de rostos entusiasmados, aplausos e flashes, quando os soldados de Sua Majestade tocaram o solo francês e encontraram. oficiais da alfândega que exigiram seus passaportes. A memória da Segunda Guerra é importante, mas o Brexit e as suas consequências não é menos.

Uma homenagem ao feito do Dia D. Essa era a ideia. E foi isso que conseguiram na quarta-feira as centenas de paraquedistas que desembarcaram nos campos perto de Sanneville, na Normandia. O objetivo deles era juntar-se aos eventos comemorativos dos 80 anos do Dia D.

Para ser mais preciso, o que os paraquedistas pretendiam era relembrar o feito ocorrido naquela mesma região do norte da França em 6 de junho de 1944, quando milhares de soldados das divisões aerotransportadas do lado Aliado lançaram-se, no meio da noite, atrás das linhas do exército nazista.

O evento era sobre memória e simbolismo, por isso os organizadores decidiram reunir mais de 400 paraquedistas de diferentes nações, entre eles 274 soldados das tropas britânicas, 40 belgas e 30 norte-americanos. Também havia membros das unidades aerotransportadas do Canadá e da própria França. Afinal, tratava-se de prestar homenagem aos milhares de paraquedistas aliados que arriscaram ou perderam as suas vidas naquela mesma área há 80 anos.

O evento foi emocionante. Milhares de moradores chegaram à zona de desembarque, em Sannerville, querendo assistir ao espetáculo dos paraquedistas e relembrar a façanha dos desembarques na Normandia. Em terra, porém, havia mais do que curiosos e entusiastas da crônica da Segunda Guerra Mundial. Quando os paraquedistas pousaram, foram recebidos por funcionários da Alfândega e do Controle de Fronteiras, munidos de mesas, computadores e scanners.

O objetivo era exigir documentação dos soldados recém-chegados, é claro. Especificamente, eles estavam interessados nos passaportes dos paraquedistas do Reino Unido. Mas... E por quê?

Porque a história manda, mas a burocracia e o Brexit mandam ainda mais. Desde que o Reino Unido saiu da UE, os cidadãos britânicos que queiram entrar em um dos 27 estados do bloco comunitário devem passar por controles mais exigentes e carimbar os seus passaportes. E isso, como ficou claro esta semana na Normandia, aplica-se tanto aos turistas como aos soldados que participam nos eventos comemorativos do Dia D.

A recepção entre funcionários da Alfândega, scanners e passaportes surpreendeu os paraquedistas britânicos, embora, como explicou o Brigadeiro Mark Berry, o balanço geral tenha sido positivo.

- "É algo esquisito que nunca tínhamos experimentado antes; mas dada a acolhida que tivemos em todos os outros aspectos, parece um preço muito pequeno a pagar por vir para França", disse o brigadeiro. - "O objetivo era prestar homenagem aos soldados que em 1944 saltaram atrás das linhas inimigas com equipamento muito menos sofisticado."

Nem todo mundo reagiu tão bem do outro lado do Canal da Mancha. O Sun, que se posicionou claramente a favor do Brexit durante a campanha, publicou ontem uma reportagem contundente sobre o que aconteceu na Normandia com uma manchete retumbante que deixa poucas dúvidas sobre como vê o que aconteceu: "O QUÊ? O momento ridículo em que os paraquedistas britânicos foram forçados a mostrar seus passaportes aos chefes da fronteira francesa após o lançamento."