O jornal Global Times, que faz parte da maquinaria de propaganda do governo chinês, publicou no último domingo um artigo no qual assegura que a pandemia de covid-19, que já cobrou vida de 1,56 milhões e infectou quase 70 milhões de pessoas pelo mundo, não se originou em Wuhan, senão que surgiu ali devido a carne importada de outro país. Não é a primeira vez que diferentes diários chineses, todos bancados pelo PCC, assinalam esta possibilidade, mas esta é a primeira vez em que um porta-voz oficioso do governo faz de forma explícita. |
O artigo admite que não conta com nenhuma prova que o vírus SARS-CoV-2, que desencadeou a pandemia, proceda efetivamente de outro país. No entanto, assegura que a possibilidade é muito real e não deve ser descartada.
O diário assegura ter falado com diferentes profissionais que trabalham no mercado e que, segundo eles, a venda de animais exóticos frescos era extremamente minoritária, ainda que centenas de vídeos do local contradigam isso. No entanto, a venda de carne e pescado congelados importados era grande.
Algumas fontes anônimas do mercado até culpam os Estados Unidos do surto originado no final de 2019. O autor da editorial escreve:
- "Quase todos os habitantes de Wuhan com os quais falamos tendem a achar que Wuhan foi prejudicada pelo mundo exterior por ser considerada a origem do coronavírus. É bastante comum entre os entrevistados a crença de que o vírus foi trazido pelos americanos durante os Jogos Mundiais Militares celebrados em Wuhan em outubro de 2019."
O artigo lista produtos congelados provenientes da Argentina, Austrália, Brasil, Alemanha, Equador e outros países como possíveis suspeitos de terem introduzido o coronavírus na China. O artigo também aponta que os supostos novos casos de infecção que ocorreram no país decorreram da carne importada do Uruguai e Brasil.
Ironicamente, quase todos os países apontados tiveram rixas diplomáticas com o governo chinês recentemente. Em relação a Aleamanha, o jornal Bild, em editorial, disse que o país devia cobrar bilhões da China pelos prejuízos provocados pelo coronavírus. Brasil, a briga pelos tweets intempestivos do deputado federal Eduardo Bolsonaro em relação a Clean Network. Austrália, a ameaça de retaliação do diplomata chinês ao governo australiano sobre as importações de carne e vinho. E o Equador que levantou a voz depois que os pesqueiros predatórios chineses ameaçaram invadir as águas protegidas da Reserva Marinha de Galápagos.
Em nenhum momento o jornal fornece provas sólidas, mas a intenção geral do editorial é minar a ideia de que a pandemia tenha uma origem exclusivamente chinesa. A Universidade Johns Hopkins assinala que o editorial provavelmente não é mais que um revés a mais nos esforços do PCC de calar as críticas de que podia ter tomado mais e melhores medidas para atalhar a pandemia em sua origem.
Há que levar em conta que o Global Times não é necessariamente uma fonte muito confiável. Em fevereiro deste ano tuitou um vídeo no qual assegurava que os escâneres térmicos estavam registrando as flatulências dos transeuntes. Era falso. O jornal também costuma publicar matéria pagas nos jornalões americanos para vender suas "verdades".
Cada vez, por mais descabelada que pareça a ideia, muitas pessoas começam a criar conspiranoias de que tudo foi um complô ou o governo chinês teve algo a ver de certa maneira com esta pandemia. De fato, a China, atualmente, é o único país grande no qual a pandemia parece absolutamente controlada: ou das duas uma, China mente descaradamente ou eles sabem algo sobre como controlar esse vírus que o resto do mundo não, ou pior ainda uma combinação de ambas.
Ademais, praticamente todos os cenário pós pandemia mostram a China como a potência mais beneficiada no cenário econômico, político e social, fruto dos estragos desta praga. Ou seja, se tem alguém que se beneficiou com a pandemia de covid-19, esse alguém é a China. Não é por acaso que desde abril, o PCC vem tentando semear no subconsciente informativo a ideia de que o vírus não é chinês e não se originou em seu território.
O que está claro é que provavelmente nunca saibamos a origem precisa do SARS-CoV-2, sobretudo porque o regime de Xi Jinping ainda contou com a conivência da OMS. No fim, a pandemia vai acabar se tornando uma nova arma na eterna guerra fria entre diferentes potências e não será raro que leiamos mais artigos como este de um e outro lado.
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