O epidemiologista Knut Wittkowski, ex-chefe da seção de Pesquisa de Bioestatística e Epidemiologia da Universidade Rockefeller, de Nova Iorque, diz que a queda expressiva nos casos de gripe pode ser atribuída ao fato de que muitos estão sendo falsamente contados como casos de covid-19. De acordo com os números dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a taxa cumulativa de teste positivo para gripe no final de setembro até a semana de 19 de dezembro foi de apenas 0,2%, em comparação com 8,7% um ano antes. As comparações semanais são ainda mais rígidas: esta semana, há um ano, a taxa clínica positiva era de 22%, onde agora está em 0,1%. |
De acordo com Wittkowski, isso ocorre porque muitas infecções de gripe estão sendo rotuladas incorretamente como casos de coronavírus.
- "Pode haver um grande número de casos de gripe incluídos na categoria 'presumida' de covid-19, já que os sintomas das duas doenças podem ser confundido), mas não são testados para RNA da SARS", disse Wittkowski.
De fato, as taxas de gripe permaneceram persistentemente baixas até o final de 2020, em relação aos níveis de um ano atrás e levantando o espectro intrigante de taxas de transmissão de gripe drasticamente reduzidas.
A tendência não se limita aos EUA, senão que todo o mundo mostra uma redução drástica dos níveis de gripe durante o que normalmente é o pico da temporada da doença.
Se você fizer uma simples pesquisa no Google sobre "números de casos de gripe 2020", vai encontrar notícias intituladas "Número de casos de gripe comum é o menor desde 2015" ou "Registros de gripe sazonal atingem baixas recordes" ou ainda "Número de casos de Influenza A (H1N1) tem queda de 93% no RJ em 2020".
Do outro lado do Atlântico, em Portugal, a coisa também não é diferente, onde, faz duas semanas, a gripe continuava com taxa de incidência zero, apesar de estar em plena época de contágio gripal.
O próprio InfoGripe da Fundação Fiocruz corrobora estes números ao apontar que em 2020 foram computados apenas 1.872 casos contra 6.123 em 2019. Aonde então foram parar todos os casos de gripe? Viraram covid-19?
Provavelmente não, muitos especialistas apontaram para as medidas de mitigação da covid-19 em andamento -uso de máscara, distanciamento social e outras táticas antivírus- como uma explicação para a redução dos níveis de gripe.
Timothy Sly, professor de epidemiologia da Universidade Ryerson em Toronto, disse que a incidência reduzida da gripe sazonal se deve quase com certeza à proteção que uma grande proporção da população vem usando há muitos meses.
- Essas medidas são elaboradas para serem eficazes contra qualquer vírus respiratório transportado pelo ar", disse ele.
Holden Maecker, professor de microbiologia e imunologia da Universidade de Stanford, concorda com essa avaliação.
- "Estou muito confiante de que as medidas de mitigação da covid-19 causaram a redução nos casos de gripe este ano", avaliou. - "Máscaras, distanciamento social e lavagem das mãos são medidas eficazes contra resfriados e gripes."
O próprio coordenador do Infogripe, Marcelo Gomes, também compartilha da mesma opinião:
- "Em meados de março, se estabeleceu a transmissão comunitária da covid-19 no Brasil e começaram as ações fortes de distanciamento com uma adesão muito boa por parte da população", disse o pesquisador. - "Isso fez com que o vírus Influenza praticamente parasse de circular.".
Especulando sobre por que os níveis de covid-19 continuaram subindo se essas medidas foram tão eficazes em parar a gripe, Maecker avalia que é devido a menor imunidade pré-existente ao SARS-CoV-2 na população.
- Enquanto a maioria de nós já tomou vacinas e/ou teve episódios anteriores de gripe; o vírus SARS-CoV-2 parece se espalhar mais facilmente do que a gripe, incluindo mais transmissão por aerossol. A transmissão da gripe é quase inteiramente através de gotículas de curto alcance e contato mão-nariz ou olhos."
Wittkowski, no entanto, está entre os relativamente poucos acadêmicos a criticar consistentemente as medidas generalizadas da mitigação de contágio do novo coronavírus, contrapondo que não há nenhuma evidência para apoiar a alegação de que as máscaras parariam a gripe, mas não a covid-19.
- "Acho que esses vírus são mais semelhantes do que as pessoas querem reconhecer", disse ele. - "As pessoas sabem que todo mundo está usando máscaras e se distanciando, então precisam inventar coisas que sejam boas a respeito."
O epidemiologista, que várias vezes durante o curso da pandemia pediu o fim das quarentenas, medidas de distanciamento social e uso de máscaras, rejeitou a ideia de que essas políticas poderiam, em última análise, ter muito efeito na disseminação da covid-19. Ele argumentou que a imunidade coletiva, seja por meio de infecções naturais ou de uma vacina, é a única maneira de conter a transmissão do vírus.
- "As pandemias terminam da mesma maneira, quer façamos algo ou não", concluiu ele.
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