Não cessam as surpresas quando estudamos os monotremados, a ordem taxonômica formada por apenas dois animais, o ornitorrinco e o equidna. Narrar as várias características estranhas destas criaturas é cerejar o bolo da cobertura de notícias científicas, e quase impossível de evitar, já que são mamíferos que põem ovos e suam leite, entre outras características estranhas. Mas talvez a forma mais fácil de analisar o espantoso sucesso evolutivo dos monotremadoss seja ir diretamente a seu DNA, que pode ser inclusive mais estranho que os próprios bichos. |
Uma equipe de 40 pesquisadores da Austrália, China, Japão, Dinamarca e Estados Unidos fez precisamente isso em uma meta-revisão dos genomas dos monotremados e suas descobertas foram publicadas recentemente na revista Nature.
A primeira análise da sequência do genoma do ornitorrinco ocorreu em 2008. O estudo recente inclui uma atualização de alta qualidade dessa sequência e o primeiro genoma do equidna -por alguma razão, o equidna é sempre um segundão por trás do ornitorrinco-. Curiosamente, os monotremados encontram-se a meio caminho entre a oviparidade e a viviparidade, referindo ao lugar onde se desenvolvem os embriões, nos ovos ou no corpo parental. Este nem-aqui-nem-lá se reflete nas dependências de proteínas dos animais.
- "Durante seu breve período de incubação de ovos, mantêm uma das três principais proteínas do ovo que são utilizadas para fazer a gema nos frangos", disse Marilyn Renfree, zoóloga da Universidade de Melbourne e coautora do estudo, em um comunicado de imprensa. - "Mas após a eclosão, tanto o ornitorrinco como o equidna têm um leite complexo como outros mamíferos para manter suas crias durante sua longa lactância."
Os monotremadoss são um ramo peculiar da árvore da vida, e ajudam a encher os vácuos em nosso entendimento de quando os animais com certas características se separaram uns dos outros.
- "De fato, o ornitorrinco pertence à classe mammalia, mas geneticamente, é uma mistura de mamíferos, aves e repteis", disse Guojie Zhang, biólogo da Universidade de Copenhague e coautor do estudo. - "Eles conservaram muitas das características originais de seus antepassados, o que provavelmente contribuiu a seu sucesso na adaptação ao meio no qual vivem."
Como falávamos a princípio, a fêmea não possui mamas, e o leite é diretamente lambido dos poros e sulcos abdominais como se fosse um suor. Ademais os machos são peçonhentos ao ter esporões venenosos nas patas, que são utilizados principalmente para defesa territorial e contra predadores.
Com efeito, as características atípicas do ornitorrinco fizeram com que o primeiro espécime empalhado levado para a Inglaterra fosse classificado pela comunidade científica como um embuste. Na época acharam que alguém tinha costurado um bico de pato em um castor.
Já o equidna (ou zaglossos) tem 4 espécies, além de apresentar quase todas as mesmas esquisitices do ornitorrinco, como ser mamífero que põe ovos, cuja fêmea também não tem mamas, tem outra curiosidade estranhíssima: o pênis dos machos possui quatro cabeças.
Os animais precisam desse impulso adicional. Os incêndios australianos do ano passado fizeram com que os esforços para rastrear o ornitorrinco se complicassem. Uma população foi resgatada e liberada de novo na natureza este verão.
Ter o genoma do equidna sequenciado permitirá o manejo genético de uma espécie igualmente ameaçada. Após tudo, não podemos permitir que estas criaturas ilustres e estranhas sigam o caminho do lobo-da-tasmânia e do dodô.
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