Desde o início da pandemia as notícias sobre o novo coronavírus sequestram todo o tempo de informação da imprensa. Desde jornais, redes de televisão, rádios e portais da Internet, publicam um redemoinho de notícias sobre o que está ocorrendo no mundo com os novos contágios, vacinas, mortes ou a terrível crise que chegou com a pandemia. Mas a verdade é que para o cidadão médio digerir tanta quantidade de trágicos acontecimentos pode ser contraproducente para sua saúde mental, segundo alertam alguns especialistas. |
E a Bélgica deu um passo adiante neste assunto. Sua televisão pública vai limitar as notícias relacionadas com a covid-19 pelo bem geral. As mensagens dos espectadores da rede pública de televisão de Bélgica, a RTBF, faz tempo que estão se amontoando:
- "Não poderíam às vezes simplesmente mostrar imagens um pouco mais positivas, que trazem esperança?" ou - "Lançar números dessa maneira provoca ansiedade!" ou ainda - "Porque não divulgam o número de curados em vez de falar só de morte morte morte?" são alguns exemplos. A rádio-televisão belga de fala francesa vem sendo criticada durante meses por criar muito pessimismo e medo em sua cobertura mediática da crise sanitária.
Agora, decidiram atender sua audiência e reagir. As notícias relacionadas com o coronavírus não devem superar 50% do tempo total de um diário, estima a Rádio Télévision Belge Francophone. Em um artigo publicado em sua página explicaram:
- "Não temos um cronômetro em nossa cabeça. Mas temos este objetivo em mente. Não há um machado que, quando superarmos os 50%, obrigue o apresentador a não seguir adiante. Agora estamos tentando falar no máximo sobre dois ou três temas sobre covid-19. Mas às vezes as notícias nos atropelam."
Os belgas não são os únicos que vivem esta problemática. Na França, depois de medir o tempo de transmissão que os canais de televisão dedicaram ao coronavírus durante 3 meses, de 1 de dezembro de 2019 ao 22 de março de 2020, ainda no começo da crise sanitária, 70% da informação já era sobre a pandemia.
Um artigo publicado por pesquisadores da Universidade da Califórnia na revista Health Psychology indica que o consumo excessivo de notícias pode incrementar a ansiedade e amplificar o estresse. E que estas sequelas podem persistir no tempo, para além do surto.
Ademias há uma grande diferença entre manter-se informado e ter as mesmas notícias durante todo o dia, repetindo as mesmas coisas. A imprensa está se dedicando monitorar o número de mortes diárias e as taxas de infecção.
A realidade é que estar constantemente revivendo nas notícias a tragédia que o mundo inteiro mergulhou durante este último ano não parece ser nem benéfico nem útil a longo prazo. Todos temos o direito de estarmos informados e saber o que está ocorrendo, seja para tomar medidas individuais ou evitar riscos. Mas não podemos deixar que nossa vida se reduza só a isso, porque se não for assim corremos o grande risco de que 2021 seja ainda pior que 2020.
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Comentários
Façam como eu. Assisti, se muito, uns 5 telejornais desde março do ano passado. É só desgraça. Eu mesmo limitei a entrada de notícias dentro da minha casa. Não há benefício nenhum saber o que está acontecendo no mundo exatamente por causa deste formato de "push" da mídia: somente o que mais impacta e quanto mais violência,ou desgraça, melhor. Vocês já devem ter notado que o jornal sempre seleciona as piores notícias ou a rotina policial por primeiro. Não preciso disto.
O jornalismo brasileiro aderiu a essa espiral ensandecida do "quanto pior melhor". O primeiro título de qualquer notícia é sobre isso, ligar a TV a qualquer hora do dia é sobre isso também. Fora o uso indiscriminado de adjetivos como devastador, brutal, desesperador, aterrorizante, etc.
O negacionismo tem raízes nesse paradoxo. Se está tudo tão ruim e apocalíptico, então é melhor viver a vida como se fosse o último dia na terra. Esse tipo de bombardeio midiático não gera pessoas mais conscientes, e sim pessoas mais alteradas e imprevisíveis psicológicamente.