A melodia mais antiga conhecida é um hino hurrita à deusa Nical

Conquanto conservamos restos arqueológicos de alguns instrumentos musicais pré-históricos, infelizmente todas as melodias do passado remoto da humanidade se perderam nas areias do tempo. É revelador o fato de que hoje sabemos que a música existe faz dezenas de milhares de anos, mas a melodia mais antiga data de faz apenas uns 3.400 anos no passado. Inclusive milhares de anos após que os primeiros assentamentos humanos formaram as primeiras civilizações e sociedades, ainda que certamente a música seja mais antiga que tudo isso.

Tabuleta h.6. com a melodia mais antiga.

Estas melodias do passado são as canções hurritas, um conjunto de vários tabletes de argila escritos em cuneiforme que contêm diferentes hinos em honra a vários deuses. As mesmas se originaram na antiga cidade hurrita de Ugarit, uma cidade marítima e portuária aliada militar e economicamente ao antigo Egito que se encontrava no noroeste da atual Síria. A cidade teve uma origem ancestral, que pode ser rastreado até ao Neolítico, e foi destruída pelos Povos do Mar durante as destrutivas invasões marítimas de finais da Idade de Bronze.

As tabuletas com as melodias e outras peças de informação datam de uns 3.400 anos, coincidindo com o período de esplendor de Ugarit. Um destes tabletes deixou atônitos os arqueólogos, já que encontrava-se completo. A melodia que contém entre suas linhas de cuneiforme hoje é conhecida como "Saudação de Zaluzi aos deuses" ou o "Hino de culto Hurrita", ainda que os historiadores e arqueólogos se referem a esta simplesmente como h.6. A letra h por hurrita e 6 simplesmente pelo número do tablete.

Estas tabuletas foram achadas na década de 1950 durante uma escavação arqueológica, e a tradução junto ao estudo das mesmas foi publicado só em 1975. Com efeito, a linguagem hurrita ainda não é de toda compreendida, pois sua tradução é muito complexa.

O h.6 contém um hino em honra à deusa Nical, e um conjunto de instruções para um cantor e um acompanhamento com um sammûm, uma espécie de harpa de nove cordas. Curiosamente os tabletes ademais contêm precisas instruções para afinar o instrumento, já que dedicar uma melodia à deusa com um instrumento desafinado podia ser interpretado como uma ofensa pela deidade.

Nical era uma deusa venerada por vários povos do passado, desde os hurritas até os fenícios. Deusa das hortas e dos frutos, e filha de Jirjibi, o Senhor do Verão, os povos que a veneravam cantavam melodias em sua honra pedindo que lhes outorgasse boas e proveitosas colheitas.

A razão pela qual as canções hurritas são consideradas como as melodias mais antigas é simples. Temos um registro físico que nos indica sua melodia. Não obstante, graças ao trabalho de arqueólogos, antropólogos e linguistas conseguiram reconstruir várias melodias de um passado ainda mais remoto com um verdadeiro nível de autenticidade.

O seguinte vídeo mostra uma reconstrução da épica de Gilgamesh, a história mais antiga conservada, cantada da maneira que os sumérios cantavam. O instrumento é um alaúde de pescoço longo e três cordas similar aos utilizados pelos sumérios. Em minha opinião pessoal, bastante mais bela que o hino hurrita.

Quanto aos instrumentos... efetivamente, o mais antigo conhecido na atualidade é uma flauta achada em uma gruta alemã denominada Geissenklösterle, e sua origem data de uns 42.000 a 43.000 anos.

Curiosamente há um instrumento musical (possivelmente) mais antigo em existência. Um objeto talhado em osso que aparenta ser uma flauta. Este singular objeto foi achado na gruta Divje babe I, atual Eslovênia, e pertence à cultura dos neandertais. Segundo estimativas sua origem data de ao redor de 60.000 anos. Não obstante, existem dúvidas entre os antropólogos sobre se efetivamente era utilizada como uma flauta ou se a mesma era simplesmente um osso que foi furado com fins rituais.