Nos séculos 18 e 19, o roubo de túmulos era um problema sério na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Como cirurgiões e estudantes de medicina só podiam dissecar legalmente criminosos executados ou pessoas que doavam seus corpos para a ciência -o que não era uma opção popular na época-, surgiu o comércio de cadáveres adquiridos ilegalmente, em uma espécie de mercado negro de corpos. Esses ladrões de corpos passaram a ser conhecidos como "ressurreicionistas", e armas de cemitério como essas foram uma estratégia usada para frustrar os "saqueadores de corpos". |
A arma do cemitério era uma pederneira, montada em uma base giratória com suporte, que permitia que ela girasse livremente. Colocada próximo ao pé de uma sepultura e apontando para a lápide, a arma podia ser disparada, três ou quatro vezes, por três fios de tripa amarrados em arco em torno da sepultura. Ladrões desavisados, pilhando sob o manto da escuridão, presumivelmente não notavam as armadilhas, tropeçavam nelas e encontrariam sua própria morte ou pelo menos uma boa dose de chumbo.
Os ladrões de túmulos evoluíram para enfrentar esse desafio. Alguns mandavam mulheres se fingindo de viúvas, carregando crianças e vestidas de preto, para examinar os túmulos durante o dia e relatar a localização das armas de cemitério e outras defesas. Os zeladores do cemitério, por sua vez, aprenderam a esperar para armar as armas depois de escurecer, preservando assim o elemento surpresa.
Embora não esteja claramente documentado se as armas realmente funcionaram e quantos bandidos mataram , é seguro pensar que foram, pelo menos, um grande impedimento e dissuasor da ação dos ressurreicionistas.
No entanto, eram poucas as sepulturas vigiadas por estas pederneiras, de fato, era um serviço exclusivo do cemitério ofertado para famílias abastadas. As armas eram alugadas por semana por serem proibitivamente caras para comprar naquela época.
Assim as pessoas mais pobres provavelmente tinham mais chance de acabar sob a faca na mesa de um anatomista. No livro "Tráfico de cadáveres: anatomia e identidade social personificada no século XIX", o historiador Michael Sappol escreve que isso incluía negros, criminosos, prostitutas, irlandeses, malucos, trabalhadores braçais, indigentes e índios, que provavelmente nunca tenham se beneficiado dessa forma de proteção.
Uma das poucas dessas armas que sobreviveram ao tempo (acima) está em exibição no Museu de Arte do Luto no Cemitério de Arlington de Drexel Hill, no estado americano da Pensilvânia. Os curadores do museu datam a arma em 1710, tornando-a um dos primeiros modelos de armas de cemitério.
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