Quando e estabeleceram lá, em 1991, dois pescadores quenianos, Dalmas Tembo e George Kibebe, afirmam ter sido os primeiros habitantes da ilha. Eles contam que a ilhota estava coberta de ervas daninhas e muitas cobras viviam lá. Joseph Nsubuga, um pescador ugandês, diz que se estabeleceu em Migingo em 2004, quando tudo o que encontrou na ilha foi uma casa abandonada. Posteriormente, outros pescadores, do Quênia, Uganda e Tanzânia foram vieram para a ilha devido à sua proximidade de zonas de pesca ricas em perca-do-Nilo. |
A ilha de Migingo, a principal fonte de peixe para o povo queniano, tem apenas 2.000 metros quadrados no Quênia, no Lago Vitória, e se tornou o centro de uma disputa territorial de baixo nível entre Quênia e Uganda e é tem uma das maiores densidades populacionais do mundo, lotada de barracos feitos de zinco ou papelão, onde vivem em torno de 500 pessoas, ainda que o repórter Joe HaTTab que visitou a ilhota diga que são mil habitantes.
Em junho de 2004, segundo o governo queniano, a polícia marítima de Uganda armou uma tenda na ilha e hasteou a bandeira de Uganda e a de seu departamento de polícia. Desde então, a polícia de Uganda e do Quênia ocupou a ilha em vários momentos.
Uma disputa diplomática entre os dois países surgiu em fevereiro de 2009, quando os quenianos que viviam em Migingo foram obrigados a adquirir licenças especiais do governo de Uganda.
Em 12 de março de 2009, um comunicado de imprensa do governo do Uganda propôs que a questão fosse resolvida através de um inquérito, usando como orientação os limites estabelecidos pela Colônia do Quênia e pela Ordem do Protetorado no Conselho de 1926.
No dia posterior, no entanto, vários ministros de ambos os países reuniram-se em Kampala, Uganda, e chegaram a um acordo para que os pescadores de ambos os países pudessem continuar a conduzir os negócios normalmente, até que o limite foi determinado por especialistas. Concordaram também que Uganda retiraria os 48 policiais que tinha destacado em Migingo, dando espaço para mais pescadores. Uganda não cumpriu o trato alegando que os policiais estavam lá para manter a lei e a ordem. Como retaliação o Quênia enviou militares para lá armado até os dentes.
Desde então a ilha vem sendo reivindicada tanto pelo Quênia quanto por Uganda, ainda que uma equipe de pesquisa descobriu que a ilha fica dentro dos limites da área do Quênia. De fato, desde 1926, a propriedade territorial da ilha tem sido consistentemente mostrada em mapas e em documentos oficiais como sendo queniana.
Grande parte, se não a maioria, dos protestos em Uganda giram em torno dos lucrativos direitos de pesca, principalmente da valiosa perca-do-Nilo. A ilha foi reivindicada pelo governe do Uganda desde 2008 até que o Presidente ugandense admitiu que a ilha fica no Quênia, mas continuou a salientar que os pescadores quenianos pescavam ilegalmente nas águas de Uganda, que ficam a oeste do Migingo.
A bandeira de Uganda foi baixada, Uganda retirou suas tropas militares e concordou que todos os seus policiais deixariam a ilha. Uma linha de redemarcação conjunta da fronteira foi feita em 2014 ara recuperar e colocar marcadores de levantamento em terra, tornando a delimitação da fronteira no lago mais precisa.
A vida na Ilha Migingo não é para os fracos de coração. Segundo alguns pescadores da ilha, as cobras, que vivem nas inúmeras fissuras rochosas, são um perigo constante e uma preocupação para os moradores.
Alguns residentes disseram que a mamba-negra, localmente conhecida como "endubi", é uma presença comum nas ruas da ilha, especialmente à noite. As cobras costumam sair das rochas à noite, quando está fresco e tranquilo, em busca de comida. Algumas até entram nos barracos de zinco.
Não há trilhas ou estradas na ilha, e tudo o que pode ser encontrado são pedras e mais pedras. Os corredores são minúsculos, com casas improvisadas em cada esquina. Os habitantes da Ilha têm por vezes de saltar e pular obre rochas para se deslocarem de um lugar para outro.
À noite, é preciso usar um mosquiteiro, aparentemente para se proteger da queda de morcegos, lagartos, mosquitos, escorpiões e cobras.
Ali não há escolas, mas é possível encontrar crianças pequenas vagando inocentemente pelas ruas da ilha. A maioria das crianças ainda não atingiu a idade escolar, o que provavelmente explica porque estão ali e não na escola.
A ilha continua sendo reivindicada pelos dois países, mas com menor intensidade já que os próprios pescadores fizeram um acordo para administrar a ilhota. Com efeito, a ilha só permite a entrada de estranhos mediante um pagamento de 1.300 reais, cujas tratativas devem ser feitas anteriormente na ilha próxima de Usingo.
Hoje em dia ugandenses, quenianos e tanzanianos dividem a ilhota em harmonia e paz. Não é necessário visto e deixaram que os políticos briguem. Eles tem suas própria regras e leis que chamam de leis comuns.
Curiosamente, além da ilha Usingo, parcialmente habitada em seu lado nordeste, há uma outra grande ilha na região chamada ilha Pirâmide, apelidada de Tanzânia, que é 50 vezes maior que Migingo, mas é desabitada por ser muito íngreme. Tanzânia é utilizada eventualmente como porto.
A introdução da perca-do-Nilo (Lates niloticus), desta espécie no Lago Vitória é um dos exemplos mais citados dos efeitos negativos que espécies exóticas podem ter nos ecossistemas. A espécie foi introduzida no Lago na década de 1950, e desde então tem sido bem explorada comercialmente.
A sua introdução foi ecologicamente perturbadora e é atribuída a causa da extinção ou quase extinção de várias centenas de espécies nativas, com algumas populações flutuando com a pesca comercial e os atuais estoque de perca-do-Nilo. Ela alimentava-se inicialmente de ciclídeos nativos, mas com a diminuição da disponibilidade desta presa, agora consome principalmente pequenos camarões e peixinhos.
A alteração do ecossistema nativo teve efeitos socioeconômicos perturbadores nas comunidades locais ribeirinhas do lago. Muitas populações locais foram deslocadas das suas ocupações tradicionais no comércio pesqueiro e levadas para a economia monetária ou se transformaram em refugiados econômicos.
Pelo menos inicialmente, as redes suficientemente fortes para conter percas adultas do Nilo não podiam ser fabricadas localmente e tinham de ser importadas por um preço elevado.
A introdução da perca-do-Nilo também teve efeitos ecológicos adicionais na costa. Os ciclídeos nativos eram tradicionalmente secos ao sol, mas como a perca do Nilo tem um alto teor de gordura, precisam ser defumadas para evitar que se estraguem. Isto levou a um aumento da procura de lenha em uma região já duramente atingida pelo desflorestamento, erosão do solo e desertificação.
Independentemente de ser considerado positivo ou negativo, a rede trófica do Lago Vitória parece ter sido drasticamente empobrecida pela introdução deste novo predador de nível próximo. Embora o ecossistema pareça estar caminhando para um novo equilíbrio, nem o seu estado anterior nem o estado das pescas no Lago Vitória poderão alguma vez ser facilmente recuperados.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários