Tailândia organiza funerais de pessoas vivas para atrair boa sorte

Um templo budista nos arredores de Bangkok celebra diariamente funerais em vida, onde os fiéis procuram purgar sua má sorte e atrair a fortuna através de uma cerimônia onde permanecem deitados durante um momento dentro de um caixão cobertos por um lençol. Em uma espaçosa sala na entrada do recinto religioso, Wat Bangna Nai, no sudeste de Bangkok, cheia de estátuas de Buda, representações de espíritos e uma mistura de figuras de deuses de outras religiões, repousam cinco caixões brancos no centro do local.

- "As pessoas vêm quando se sentem mal, para expirar sua má sorte ou pela recomendação de algum vidente (...) em procura de um novo começo", comenta com voz calma o monge Prakru Prapath Waranukij, que celebra o ritual a quase 100 pessoas por dia.

Sobre um pedestal, o monge recita uma série de preces e instruções para guiar os devotos durante as diferentes etapas do solene ritual, para o qual têm que fazer pequenas doações de 100 baths (uns 20 reais), que na verdade servem para cobrir o custo das flores e velas.

Depois de ajoelhar em frente ao monge, os fiéis colocam-se em frente ao caixão, enquanto seguram um ramo de flores, e com um passo firme, sempre começando com o pé direito, entram no caixão e se viram de costas e em direção oeste para representar seu funeral.

Um assistente cobre o ataúde com um lençol branco e o monge começa a entoar durante alguns minutos uma série de orações. O assistente retira o lençol, o devoto levanta-se e se vira de novo na direção contrária, com a cabeça para o leste para representar o nascimento, seguido de uma nova série de bênçãos.

Oraya, de 25 anos, afirma sentir-se "aliviada" ao sair do caixão depois de ir pela primeira vez à cerimônia junto a sua irmã Pai, de 30 anos, que assegura que depois do bom resultado que lhe conferiu o ritual em duas ocasiões anteriores voltará quase todos os anos para conservar a boa sorte.

- "Tinha um pouco de medo ao entrar no caixão, mas ao levantar é como sentir uma nova vida", reconhece Tayarat, de 21 anos, uma idade conceituada pelos supersticiosos locais como de mau agouro.

Outros devotos também vão praticar a cerimônia depois de sofrer uma série de experiências ruins. Para terminar com o culto, o monge, que ainda dá alguns conselhos pessoais aos fiéis, asperge o rosto dos devotos com um tipo de água benta perfumada.

Este ritual, que também é celebrado em outros templos do país, começou a ser realizado neste pagode de Bangkok faz 17 anos. 90 % dos tailandeses professam o budismo, que em muitos casos está misturado com crenças hinduístas e animistas, presentes no Sudeste Asiático antes da chegada dos primeiros monges budistas.